Ligação do Reino Unido com "voos da tortura" é descoberta
Polícia britânica tem
novos documentos sobre o uso das ilhas Diego Garcia, no Índico, no programa
secreto de tortura do governo dos Estados Unidos
O Atol Diego Garcia, no Índico, teria sido usado como base no programa secreto de prisão e tortura mantido pela CIA |
Registros
cruciais que revelam os voos para um território britânico de ultramar quando
era supostamente usado como prisão secreta dos Estados Unidos estão sob os
cuidados da polícia.
A
revelação causou preocupações sobre por que, apesar de repetidas solicitações,
detalhes dos voos não foram compartilhados com advogados e deputados que há
anos investigam o papel desempenhado pelo atol de Diego Garcia, no oceano
Índico, no programa de rendição extraordinária da CIA.
Uma
autoridade de Whitehall (sede do governo) foi fotografada na semana passada
carregando documentos com a marca "sensíveis", confirmando que os
registros com detalhes dos aviões que pousaram e decolaram das ilhas foram
entregues a detetives. Os documentos, uma série de e-mails impressos e bilhetes escritos à mão
feitos pela autoridade, revelam discussões internas do Ministério das Relações
Exteriores sobre a linha a ser adotada nas respostas a perguntas feitas por
advogados e deputados sobre o território britânico.
O
ministério salientou diversas vezes que não há evidências de que Diego Garcia
foi usado no programa de rendição, exceto em duas ocasiões em 2002, quando dois
aviões, cada qual carregando um detido, pousaram para reabastecer. Mas em abril
documentos secretos da CIA que vazaram de um relatório da Comissão de
Inteligência do Senado dos EUA revelaram que o país manteve detidos "de
alto valor" em Diego Garcia, que está emprestado pela Grã-Bretanha aos EUA
desde 1966, com a "plena cooperação" do governo britânico. A Polícia
Metropolitana de Londres atualmente investiga alegações de que um adversário do
coronel Muammar Gaddafi foi "rendido" passando por Diego Garcia.
Tentativas
de obter os registros, que permitiriam aos advogados comparar com os aviões que
se sabe foram usados na rendição, encontraram barreiras de ministros. Quando
Andrew Tyrie, o deputado conservador que é presidente do grupo parlamentar
pluripartidário sobre a rendição extraordinária, pediu para ver os registros em
2008, disseram-lhe que "uma revisão completa tinha sido realizada e não
havia encontrado essas informações".
A
Comissão de Segurança e Inteligência da Câmara dos Comuns também se queixou em
seu relatório anual de que a falta de acesso a esses documentos comprometeu sua
capacidade de realizar uma investigação efetiva da rendição, resultando na
publicação de um relatório impreciso e enganoso. Na semana passada, em uma nova
virada surpreendente, o Ministério das Relações Exteriores revelou em uma
resposta parlamentar a Tyrie que os registros dos voos existiam, mas que alguns
haviam se perdido "devido a danos causados pela água". O
subsecretário de Estado para Relações Exteriores, Mark Simmonds, disse:
"Registros de ocorrências diárias, incluindo os voos que pousaram e
decolaram, cobrem o período desde 2003. Embora haja alguns registros limitados
a partir de 2002, entendo que são incompletos devido a danos causados pela
água".
No
entanto, ampliações dos e-mails fotografados
revelam que tanto "registros mensais mostrando detalhes dos voos"
como "registros diários [apagado] ... mês da suposta rendição"
existem e estão em posse da polícia.
"Todos
os tratados relevantes, mandados da ONU e um corpo crescente de decisões
jurídicas exigem que as investigações do suposto envolvimento do Estado nos
mecanismos de tortura, incluindo a rendição, sejam rápidas, transparentes e
abrangentes", disse Gareth Peirce, advogado de vários detidos em
Guantánamo.
"Se
as respostas para as perguntas diretas de Andrew Tyrie não incluíram menção a
registros altamente relevantes que aparentemente estavam o tempo todo em posse
da polícia, então o FCO [Ministério das Relações Exteriores e da Comunidade
Britânica] colocou este país em clara violação de suas mais fundamentais
obrigações legais."
"O
FCO deveria liberar imediatamente todos os documentos, incluindo os danificados
pela água, para que se faça uma avaliação adequada desse material e de seu
significado", disse Cori Crider, do grupo de direitos humanos Reprieve.
"Somente isto poderá começar a abordar o ocultamento da posição de Diego
Garcia durante uma década no sistema de prisão secreta da CIA."
Uma
porta-voz do FCO disse: "Não comentamos documentos internos".
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