Em banners nas bancas, Veja “chuta” Dilma e sugere que ela é pé frio

por Luiz Carlos Azenha
Rodrigo Vianna, um dos dois grandes jornalistas que assinam com este nome, costuma dizer que as manchetes de jornais expostas em milhares de bancas são uma forma de propaganda eleitoral. Frequentemente, aquelas manchetes acabam na propaganda eleitoral. Quantas foram feitas especificamente para aparecer na propaganda eleitoral? Não sabemos. As manchetes, afinal, permitem a um partido confirmar uma tese ou teoria de sua plataforma, endossada pela suposta isenção da imprensa. “Viu, não somos nós, são eles que estão dizendo”.
Diante das bancas, muita gente só lê a manchete — tristemente, no Facebook do Viomundo, descobri que alguns poucos internautas também fazem o mesmo.
No mundo jurídico, as manchetes também importam.
Manchetes de jornal e reportagens encomendadas serviram a um certo banqueiro, por exemplo, para embasar ações na Justiça. Via imprensa, você provoca ou justifica ações de autoridades. É um conluio sobre o qual alguém, algum dia, precisa escrever um livro.
Roseana
Esta é uma capa clássica de Veja. Quando saiu, Roseana Sarney, do PFL, ameaçava a candidatura de José Serra ao Planalto, em 2002.

Ela veio logo depois de a Polícia Federal apreender, no Maranhão, R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo num escritório de Jorge Murad, então marido de Roseana. O senador José Sarney atribuiu a ação a uma armação federal. Um conluio entre uma banda do Ministério Público, da PF e da imprensa. Depois da ação, o então presidente Fernando Henrique teria recebido um fax no Planalto confirmando que a ação tinha sido bem sucedida.
Mas o que nos interessa, neste caso, é a capa da Veja.
Notem a foto de Roseana encolhida, sob o título.
Notem a denúncia contra o PFL, antigo aliado do PSDB, no topo: O partido sai do governo, mas negocia tudo nos bastidores com FHC, ou seja, traia a candidata Roseana.
Roseana caiu 5 pontos em uma pesquisa de intenção de voto, é outra manchete, para provar a tese de que a candidata havia de fato encolhido.
Nenhuma das 100 maiores empresas brasileiras guarda 1,3 milhão de reais no cofre, dizia mais uma, caracterizando a apreensão como algo de realmente extraordinário.
Documentos no escritório da governadora ligam sua empresa a suspeitos de fraudes na Sudam, foi o texto de outra chamada.
Usimar: o megaescândalo teve o dedo de Murad e a bênção de Roseana, denuncia mais uma.
É o que a gente pode chamar de overkill.
Não tenho dados para confirmar ou negar qualquer das denúncias. Mas, considerando que o PFL era um aliado de oito anos do PSDB, é de estranhar que tenham sido feitas justamente quando o PSDB se sentia ameaçado…
Veja e Época, coincidentemente, saíram com capas vermelhas, cor utilizada por editores de arte quando querem chamar muita atenção, fazer estardalhaço. O tom dos dois semanários também é muito semelhante: enquanto Veja abre 19 páginas para a ‘candidata que encolheu’, conforme a sua capa, Época dedica 15 aos ‘segredos revelados’ — uma reportagem apresentando o conteúdo de pacotes numerados que estão em poder da Justiça e cujo teor deveria ser sigiloso. Tanto Época como Veja mostraram a seus leitores a já famosa foto do R$ 1,3 milhão em notas de R$ 50, apreendidas na busca na empresa da governadora. Os ‘outdoors’ de Veja, espalhados por quase todas as capitais do País, foram mais longe e afirmaram em letras garrafais: ‘Está sobrando dinheiro no Maranhão’.
Ah, sim, obviamente as mesmas fotos que sairam nas revistas Veja e Época estrelaram reportagem do Jornal Nacional.
Não é muita coincidência?
Quanto eu era repórter da TV Globo, em São Paulo, durante a campanha eleitoral de 2006, notei a mesma coincidência: capa de Veja repercutida acriticamente no Jornal Nacional de sábado e a partir de domingo pelos grandes jornalões.
Agora, a “campanha antecipada” de Veja foi turbinada. A Abril, editora da revista, também pendura grandes cartazes nas bancas. Por exemplo, este:
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Agora, dá pra ver bem à distância.
O que diz? Dilma pós-Copa. Alguém arrisca um chute?
Não é uma ideia original de Veja a de chutar alguém — Lula teria tomado um chute no traseiro, como “bobo da corte” de Hugo Chávez, “que tramou o roubo de patrimônio brasileiro na Bolívia”, por conta da justa nacionalização do gás e do petróleo promovida por Evo Morales, seguindo uma tendência internacional que vai da Noruega à Arábia Saudita:
Lula sapatada na bunda
A foto que acompanha a reportagem é a que Dilma postou em uma rede social na véspera do Alemanha 7 x 1 Brasil, o que me parece sugerir que a presidente é pé-frio, não sabe o que diz ou é incompetente por não prever o desastre.
Mas, além de Dilma não figurar na zaga do Felipão, quem previu Alemanha 7 x 1?
Aécio Neves, o candidato do PSDB, certamente não o fez. Ele foi ao Mineirão e saiu antes de o jogo terminar. Ele esperava a goleada? Uma vez confirmada, não deveria ter assistido o jogo até o fim em solidariedade aos jogadores brasileiros? Não deveria ter dado uma declaração de apoio aos atletas pós-jogo? Se alguém é pé-frio, seria Dilma longe do estádio ou Aécio nele?
áecio no mineirão
O curioso é que, logo depois dos 5 a 0, o estádio irrompeu no canto de “Ei, Dilma, VTNC”.
Qual é a lógica:? A presidente jogou mal? Não comprou o resultado? Escalou o time?
Ou será que os puxadores dos gritos estavam ensaiados para tal eventualidade?
Durante o período dos protestos nas ruas brasileiras,  durante a Copa das Confederações, a Globo tratou de separar claramente: o governo Dilma era uma coisa, a seleção era outra. O primeiro ia fracassar na Copa, a segunda seria bem sucedida na conquista do hexa.
Agora, claramente, o objetivo é confundir os dois. Dilma não fez os gols necessários, não serviu Neymar, não armou as jogadas, deixou um buraco no meio do campo e teve um verdadeiro apagão contra a Alemanha.
Diante do sucesso da Copa e da tragédia antecipada que não aconteceu — nos aeroportos, nas comunicações e nos estádios –, o discurso mudou 360 graus.
E a revista Veja, especialmente, com seus critérios “matemáticos”, tem um bom motivo para lançar uma cortina de fumaça:
matematica
Pode ser, também, apenas um estímulo para que os leitores de Veja, majoritários entre os brasileiros que ocuparão as arquibancadas do Maracanã, “chutem” Dilma diante de milhões de telespectadores durante a final Alemanha x Argentina.

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