Disputa pelo Governo do Rio traz Garotinho de volta ao cenário nacional

O deputado federal Anthony Garotinho, do PR, aposta na volta ao Palácio Guanabara como catapulta capaz de romper a redoma do ostracismo político.

Maurício Thuswohl
Arquivo

Rio de Janeiro – De forma direta ou indireta, ele governou o Rio de Janeiro por oito anos, chegou a ser considerado um dos políticos mais influentes do Brasil e foi terceiro colocado nas eleições para a Presidência da República, com 17,8% dos votos. Agora, mais uma vez candidato ao governo do Rio e primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento, o deputado federal Anthony Garotinho, do PR, aposta na volta ao Palácio Guanabara como catapulta capaz de romper a redoma do ostracismo político e relançar com força seu nome no cenário nacional.

Chefe do Governo do Rio de Janeiro entre 1999 e 2002, Garotinho se desincompatibilizou do cargo no último ano de mandato, a tempo de concorrer à Presidência, mas logo em seguida retornou ao Guanabara no governo de sua mulher, Rosinha Garotinho (2003-2006), se revezando entre os papéis de conselheiro, secretário de Segurança Pública ou simplesmente eminência parda. Deputado federal mais votado do estado em 2010, o ex-governador cumpre um mandato relativamente discreto em Brasília e demonstra não ter grande ascendência política sobre a direção nacional de seu partido. Bastou ser novamente candidato ao governo, no entanto, para Garotinho voltar ao tatame das negociações políticas nacionais.

O candidato do PR soube fazer isso no momento oportuno, aproveitando o peculiar cenário eleitoral formado para estas eleições no Rio, onde o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição, oficialmente apóia Dilma Rousseff, do PT, mas solidifica a cada dia a aliança branca firmada com Aécio Neves, do PSDB. Ciente da hesitação de Dilma sobre como agir nas eleições fluminenses, onde dois outros nomes da base governista – os senadores Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB) – concorrem ao governo, Garotinho ameaçou com a ruptura, exigiu “reciprocidade” da presidenta para apoiá-la e, com a decisiva influência do Planalto, conseguiu tomar de seus dois adversários na última hora o apoio do PROS, com seus cobiçadíssimos 40 segundos na propaganda eleitoral gratuita da televisão.

Outro argumento de Garotinho que sensibilizou o comando da campanha de Dilma é que somente com a candidatura do PR a presidenta teria um palanque exclusivo no Rio, uma vez que Pezão terá a provável companhia do tucano Aécio, enquanto Lindbergh, com a entrada do deputado e ex-jogador Romário Faria (PSB) como candidato ao Senado em sua chapa, terá de conviver também com a candidatura do socialista Eduardo Campos. O palanque de Crivella também poderá ser somente de Dilma, mas a direção nacional do PT ainda trabalha nos bastidores para que o ex-ministro da Pesca saia da disputa e declare apoio a Lindbergh.

Talvez empolgado com a inesperada adesão do PROS, Garotinho também entrou publicamente na disputa por Crivella e declarou que esperaria até o último momento para registrar sua chapa, pois ainda aguardava a resposta do senador a seu convite para ser vice. A declaração irritou Crivella, que mantém sua candidatura ao governo do Rio e aparece em segundo lugar nas pesquisas: “Eu respeito a candidatura do Garotinho e espero que ele respeite a minha. Que todos respeitem minha candidatura”, disse.

Não se deu sem traumas a chegada do PROS à chapa de Garotinho, e o episódio acabou repercutindo na confusa configuração das alianças no Rio. Inicialmente indicado como candidato ao Senado, o presidente regional da legenda, deputado federal Hugo Leal, acabou desistindo após a confirmação da candidatura a senador do ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pelo PDT. Leal recebeu a decisão de Lupi com contrariedade: “Havia uma grande expectativa, um espaço para nossa candidatura desde que ela fosse a única vinculada à presidente Dilma. Com duas candidaturas, o cenário se modifica”, disse, ao anunciar que optara por tentar à reeleição para a Câmara dos Deputados. Para o lugar de Leal, o PROS indicou a deputada federal Liliam Sá, próxima a Garotinho.

Problemas

Mesmo atenuado pela chegada do PROS à chapa que conta ainda com o PTdoB, o isolamento é um dos obstáculos políticos que Garotinho terá de superar durante a campanha. Sua dificuldade atual em atrair políticos de PMDB, PSB, PP ou partidos nanicos que outrora o apoiavam se revelou na escolha do vice, o vereador Márcio Garcia, do PR, eleito para seu primeiro mandato há dois anos e figura polêmica após ter liderado a invasão do Quartel Central do Corpo de Bombeiros durante a greve da categoria em 2011. Garotinho nega que a escolha de Garcia possa lhe trazer prejuízo eleitoral: “É um simbolismo. Ter um servidor público concursado e que foi perseguido pelo atual governo mostra que vamos valorizar a prata da casa, ao contrário do que é feito hoje”, diz.

Eleito em 2010 somente com a ajuda de uma liminar, Garotinho convive com outro problema constante: o temor das abordagens da Justiça. No final de junho, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por maioria tornar o deputado réu em uma ação por calúnia e difamação após ele ter afirmado em seu blog, sem apresentar provas, que a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) do Rio contratou de forma irregular uma empresa prestadora de serviços.

Dias antes, o ministro José Antônio Dias Toffoli, do STF, derrubou uma decisão que tornava Garotinho e Rosinha inelegíveis por três anos, a contar de 2008, por abuso de poder econômico e uso indevido de meio de comunicação nas eleições daquele ano para a prefeitura de Campos, reduto político do casal. Na mesma decisão, Toffoli negou o pedido feito pelo Ministério Público para que o tempo de condenação a Garotinho fosse estendido para oito anos, o que o impediria de disputar as eleições deste ano. A decisão de Toffoli, no entanto, ainda pode ser revertida pelo colegiado do STF, fato que deixa o candidato do PR ao governo do Rio em permanente estado de alerta.

Estilo

Com a candidatura salva por um fio, Garotinho já começa a exercer seu estilo peculiar de fazer campanha, que alia promessas, bravatas e língua afiada. Aprendeu com um mestre nesta arte, Leonel Brizola, padrinho com quem rompeu logo que chegou ao Palácio Guanabara e se tornou seu desafeto. Ao longo do tempo, acrescentou elementos próprios ao discurso, muitos ligados à religião evangélica que afirma professar.

Logo em seus primeiros comícios e atividades de rua na recém iniciada campanha, o candidato do PR já repetia que Pezão é “aliado da banda podre que enriqueceu às custas do estado” e comparava o atual governador à “Dona Flor e seus dois maridos” por conta da aliança com Aécio. O tratamento dispensado por Garotinho ao candidato do PT, legenda que já chamou de “partido da boquinha” quando governava o Rio, não é melhor: “Lindbergh é apoiado pelos responsáveis pelo mensalão”, repete constantemente aos eleitores.

Garotinho parece confiar na possibilidade de vitória, e diz contar com a ajuda do Palácio do Planalto durante a campanha. Ou, pelo menos, que o Planalto não o veja como inimigo e não volte suas baterias para abatê-lo em voo. Por enquanto, a tática vem dando resultado: “No Rio de Janeiro teremos diferentes candidatos da base e que têm identidade comum no apoio à Dilma. Não temos uma opção preferencial e vamos dialogar com todos eles. A candidatura do Garotinho está no campo popular e tem nosso apoio”, disse o ministro das Relações Institucionais, o petista Ricardo Berzoini, após a convenção do PR que confirmou a candidatura do ex-governador.




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