Das vitórias do Brasil neste mundial, a maior delas é o pontapé na bunda da Fifa

Valcke e Blatter
Valcke e Blatter

Se o Brasil saiu vitorioso nesta Copa do Mundo, a Fifa é uma derrotada, uma velha desmoralizada metida a dar lições.
Há uma justiça poética nisso. Nos últimos anos, o secretário-geral Jerôme Valcke e o presidente Joseph Blatter se dedicaram a bater na organização do torneio de uma maneira calhorda e oportunista, sabendo que teriam ampla cobertura.
Valcke chegou a dizer que os brasileiros precisavam de um “pontapé na bunda” e que os preparativos estavam em “estado crítico”.

Para ele, o Brasil não era “a Alemanha”. Mudou de opinião recentemente. Blatter, entre outras caneladas, afirmou que “é o país com mais atrasos desde que estou na Fifa e foi o que teve mais tempo, sete anos, para se preparar”.
São observações que deixam patente a suposta superioridade da federação ao se referir a um país atrasado, povoado por vagabundos que não saem da praia e governado por ladrões incompetentes.
A empáfia deu lugar à resignação, depois à mudança de discurso e à vergonha. Pode levar ainda à cadeia.
A empresa Match Services, parceira da Fifa, está sendo investigada pela venda ilegal de ingressos. É algo de que se ouve falar há muito tempo, mas que só foi exposto desta maneira no Brasil. O diretor da Match foi preso no Copacabana Palace (solto no dia seguinte). A operação foi elogiada pela Scotland Yard.
Entre os bilhetes apreendidos, aparece um com o nome de Humberto Mario Grondona, filho mais velho do vice da Fifa, Julio Grondona. A Match teria ligação com um sobrinho de Blatter.
Em áreas sob sua responsabilidade, como a segurança, a entidade falhou. Houve duas invasões de torcedores, chilenos e argentinos, no Maracanã; gente sem tíquete conseguiu entrar em algumas partidas; registraram-se casos de roubos e furtos. No campo, houve a orientação para os árbitros não darem cartão, com os resultados que conhecemos.
O Brasil está dando um pontapé no traseiro de um sócio picareta. Não é pouca coisa. De todas as viradas de jogo de um mundial espetacular, talvez esta seja a mais importante.
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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