Candidatura Aécio Neves, um incesto entre fratricidas?
Com apoios problemáticos e sob a má influência de Serra, Aécio inicia a fase oficial da campanha para a presidência da República com o PSDB isolado e dividido.
Definidas as chapas que concorrerão às eleições de 2014, é possível ver-se melhor o quadro político atual. Nele, o PT nacional formou um gigantesco bloco partidário de apoio, o PSB não conseguiu projeção nacional com sua união ao Rede, que começa a fazer água, e o PSDB, o principal partido da oposição, está velho, dividido e isolado.
Com respeito ao PSDB, sintomático disso é sua chapa "café com leite" para as eleições presidenciais de outubro de 2014 – Aécio e Aloysio - é um mau sinal para o partido.
No nosso modelo político, a existência de uma chapa formada por um único partido quase sempre é uma demonstração de fraqueza. Mais ainda, conhecendo-se a relação entre os PSDBs mineiro e paulista, sua união nestas eleições soa quase um incesto entre fratricidas.
O que os levaria a tal pecado?
Não, não é uma tentativa de finalmente unir o partido. É antes mais um fruto envenenado de sua divisão de sempre.
Só e mal acompanhado.
É certo que o PSDB não atraiu grandes nomes para o seu lado: Paulinho - ”discurso calibrado” da Força e o seu Solidariedade. Paulinho pode ser da Força, mas não há garantias que a Força seja de Paulinho, já que sindicalistas dessa central de trabalhadores apoiam Dilma. Trouxe também o PTB - ”suguem mais um pouco” - mas só trouxe a parte de Roberto Jefferson. Aécio segue a tradição fernandina de permitir que a arrogância lhe saque bobagens da boca. E, por fim, recebeu o apoio do DEM de sempre.
Não é lá muita coisa, mas ao menos o DEM poderia compor ainda que simbolicamente, o papel que lhe resta, uma coligação. Mas não, vai PSDB com PSDB.
E a razão disso é a divisão interna. E essa divisão tem um nome: José Serra.
Um incesto entre fratricidas?
A ausência de Serra seria um grande apoio ao PSDB, mas mais uma vez ele forçou a sua presença em uma eleição. Se eleito senador, seu foco muda imediatamente para 2018. E José Serra não perdoa, nem perde as esperanças, já está fazendo o que pode para minar Aécio e Alckmin.
Com sua candidatura ao senado, impediu uma coligação estadual paulista com o PSD e obrigou Alckmin a buscar apoio no PSB, ampliando para São Paulo os problemas que Aécio e Eduardo Campos já cultivavam em Minas.
Alckmin foi obrigado a dividir o palanque com um adversário de Aécio que dificilmente apoiará este em um ainda hipotético segundo turno. Aliás, se Dilma e Alckmin vencerem, Aécio e Alckmin passam a ser adversários diretos dentro do PSDB. Como Aécio não passou até agora dos 20% de intenção de voto, ideias podem estar surgindo na mente de um Alckmin precavido.
José Serra é um paradoxo, não se explica, após três derrotas seguidas, como tenha ainda tanta força dentro do PSDB. Aloysio Nunes parece ser a pessoa interposta por José Serra na chapa de Aécio dada a inviabilidade de ser ele próprio o candidato a vice. Se é que um dia Serra desejou realmente ser vice de Aécio. Essa pretensão manifestada sempre teve mais jeito de bode na sala.
Mas Aloysio é um nome que deveria ser evitado. O vídeo em que ele ofende e agride o blogueiro Rodrigo de Grassi já seria o suficiente para inviabilizá-lo. Mas é muito pior, Aloysio é um nome facilmente associável ao escândalo do propinoduto Metro-Siemens, quando não pelas acusações de pessoas envolvidas ou mesmo indiciadas pela Polícia Federal, por simplesmente ter retirado seu nome da CPI que investigaria o caso.
Não é uma exclusividade de Aloysio, o PSBD sai em Minas de Pimenta da Veigae seus inexplicados 300 mil reais valerianos e em São Paulo com José Aníbal, na vice de Serra, e Andrea Matarazzo de coordenador. Ambos investigados no mesmo escândalo que Aloysio Nunes.
Nunca o PSDB necessitou tanto da lentidão da Justiça e do manto da invisibilidade da grande imprensa.
Mas, de qualquer modo, Aloysio Nunes é uma bomba-relógio com seu temperamento e com suas ligações perigosas. Aécio comprou um problema que não era seu. Logo, que Aécio o tenha aceitado como vice só demonstra o quanto o PSDB não tem nomes alternativos de peso, e ainda está influenciado e dividido por Serra.
E Serra é como o pássaro cuco, mata seus irmãos no ninho.
Logo, para Aécio, seria melhor estar só que mal acompanhado por Serra. Batalhou por isso e a presença de Aloysio na chapa é a prova de que não conseguiu tal feito. Mais uma vez, não foi desta vez que um candidato do PSDB à presidência conseguiu unir o partido.
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