A "plutocracia paulista" no PSDB

De O Globo
Escolha do tucano Aloysio Nunes na chapa de Aécio Neves evidencia dificuldade de diálogo do partido fora do eixo Sul-Sudeste na visão de analistas políticos
RENATO ONOFRE
O senador Aloysio Nunes Ferreira foi oficializado nesta segunda-feira como candidato à vice-presidência na chapa de Aécio NevesFoto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O senador Aloysio Nunes Ferreira foi oficializado nesta segunda-feira como candidato à vice-presidência na chapa de Aécio Neves - Ailton de Freitas / Agência O Globo

SÃO PAULO - Com o anúncio de que o senador tucano Aloysio Nunes será o vice na chapa do mineiro Aécio Neves à presidência, o PSDB colocou fim especulações políticas sobre o nome e revelou, mais uma vez, a dificuldade do partido em formar alianças eleitorais desde o fim do antigo PFL. Analistas políticos ouvidos pelo GLOBO apontam o modelo "oligárquico" e extremamente paulista da escolha do rumo do partido - e dos presidenciáveis - nos últimos 20 anos isolou a legenda fora do estado como o principal motivo das dificuldades na escolha do vice.

- O PSDB perdeu voz fora do eixo Sul-Sudeste com o enfraquecimento do DEM (ex-PFL). Se isolou e enfrenta um processo de esgotamento de quadros políticos que o PT também enfrenta, mas ainda mantém a figura do ex-presidente Lula. Esse isolamento levou a aristocratização da elite paulista tucana que inviabilizou novas alianças - afirmou o cientista político e professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Daniel Aarão Reis.
Desde a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, os tucanos não conseguem aliados de peso para a disputa. Em 2002, durante a primeira candidatura pós FHC, Serra e os tucanos tiveram que aceitar a indicação do nome da então deputada federal capixaba Rita Camata do PMDB para a disputa, mas a legenda não estava coesa na aliança. Um grupo defendia a candidatura do ex-presidente e então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, ao Planalto.
Quatro anos depois, Geraldo Alckmin se conformou com o senador pernambucano José Jorge (PFL) como companheiro de chapa. E na eleição seguinte, Serra tolerou a escolha do então deputado do DEM Índio da Costa - hoje no PSD -, mas queria o mineiro Aécio.
Segundo o coordenador Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia (Neepd) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Michel Zaidan Filho, os tucanos paulistas esqueceram de dialogar politicamente com os outros estados e, agora, colhem o isolamento eleitoral:
- O PSDB é um partido da plutocracia da Avenida Paulista que nunca permitiu que outras lideranças emergissem fora do ninho de Covas (em referência ao ex-governador de São Paulo, Mario Covas, primeiro candidato tucano ao Planalto). Eles praticaram um regionalismo a versa. Eles historicamente criticam o Nordeste por isso, mas o que São Paulo só fez foi isso. O próprio Aécio foi vítima disso na eleição passada quando queria ser o candidato - afirmou o professor.
O cientista político e professor da UFMG, Fábio Wanderley Reis, concorda com Zaidan que o domínio da "oligarquia paulista", como definiu, limitou a formação de novas alianças nacionais e apontam ainda que a aproximação do PSDB com a direita o deixou sem dialogo com outras legendas.
- Houve um claro deslocamento à direita, abrindo espaço para o PT na centro-esquerda. Com o enfraquecimento da direita no Brasil, o PSDB ficou sem quem dialogar. Esse isolamento leva a limitação de opções agora.

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