Três palpites sobre como fazer campanha política

Por Ze Gomes
No GGN
A irmã da mulher do meu irmão, pessoa humilde, moradora do interior profundo de Goiás, esteve conosco, em Brasília, há uns dois meses. Ganhou uma casa do Minha Casa Minha Vida e está pagando as prestações, muito satisfeita.
Estávamos todos em uma roda conversando quando o papo tomou o rumo das eleições. Ela se manifestou muito timidamente: “O povo fala tanto, diz coisa, mas mesmo assim eu acho que vou votar é na Dilma”. E contorcia o corpo, olhava pro chão, olhava com rabo de olho prá nós, como se estivesse envergonhada de dizer aquilo.

Quando nós a apoiamos, sua postura mudou. O corpo ficou ereto, o olhar mais firme.
Pareceu cristalino: aquele “o povo fala tanto, diz coisa” é a consequência do bombardeio midiático, da “escandalização do nada”, da detonação do PT, diuturna,  promovida pela mídia. As pessoas mais simples, desinformadas, ficam desorientadas. As coisas estão melhorando para elas, mas a televisão e as rádios afirmam e reafirmam que o governo é ladrão, é quadrilha, incompetente, que tudo está ruim.  Ficam envergonhadas de dizer que aprovam o governo. Inseguras.
Quando um “professor”, um “empresário”, um “doutor”, um “pastor”, um “padre”, um “servidor”, um “estudado”,  ou sei lá o que mais, concordam com elas, como que ressuscitam suas convicções, tiram-nas da área da insegurança.
Creio que boa parte dessas pessoas está entre os 30% de indecisos, brancos e nulos das pesquisas.
Trabalho diariamente em dois ambientes.  No primeiro, convivo com servidores públicos federais da área top  –no sentido salarial. No segundo, atendo pessoas de baixa renda na periferia.
Em observações diárias ao longo desses anos, tenho a convicção de que os servidores públicos podem ser assim classificados: 10% tem alguma idéia da necessidade de distribuição de renda e redução de desigualdades no país, e portanto aprovam, ou, pelo menos, não têm nada contra as políticas públicas do atual governo. 20% têm ódio do PT porque têm ódio de qualquer governo que não lhes conceda generosos aumentos todos os anos. Xingavam FHC e Lula e xingam Dilma. Os outros 70% são totalmente coxinhas. De uma insensibilidade horrorosa. Repetem decorado o discurso de Veja. Com essas pessoas não compensa dialogar. São agressivos. É perda de tempo discutir política com elas.
A outra categoria, a turma da baixa renda (classe C, D e E), chama a atenção pela falta de conhecimento. Quem trabalha só com pessoas diferenciadas não imagina o nível de instrução reduzido que a maior parte do povão apresenta. É assombroso. Uma incapacidade cognitiva para as tarefas mais simples. Imaginem esse contingente enorme de pessoas desinformadas sendo bombardeadas o tempo todo por nossa mídia. Elas vão a nocaute. Sentem que a vida está melhorando, mas todo mundo (a mídia) dizendo que no governo só tem ladrão as desnorteia.
A propaganda eleitoral no rádio e televisão vai ser decisiva, mas a militância pode dar a sua ajuda no boca-a-boca. Para esses abnegados que pretendem sair um pouco do seu conforto e ir à luta, tenho três palpites a dar:
  1. Esqueçam a classe média e os que pensam que são classe média
  2. Invistam no povão. São eles a maioria dos 30% dos indecisos, atordoados que estão pela contrapropaganda do PIG. Necessitam apenas de um empurrãozinho para se decidirem. Vale imprimir ou mandar imprimir em gráficas pequenos textos em linguagem popular, e sair por aí distribuindo. Alguns exemplos abaixo, livres para uso. O futuro do Brasil merece os 300 reais que se gaste para fazer isso.
  3. Onde o antagonismo é muito grande na disputa para governador, é melhor nem ficar discutindo a eleição estadual. Focar apenas na eleição presidencial é mais produtivo, para evitar contaminação com a disputa local.
Os textos devem ser em linguagem bem simples. Nada de pronomes oblíquos (p. ex venderam ela no lugar de venderam-na), nada de verbos difíceis, etc., usando assuntos que são diretamente relacionados às pessoas das classes C, D, e E.
Modelo 01
Países do estrangeiro mandam nas televisões, rádios e jornais brasileiros. E esses mandam em nós, porque entram em nossas casas e falam mentiras em nossos ouvidos. Nós acabamos acreditando nessas mentiras, de tanto eles repetirem.
A  Presidente Dilma já disse que o dinheiro do nosso petróleo do pré-sal é para construir escolas de tempo integral onde as crianças pobres podem passar o dia todo.  Assim as crianças são educadas e não caem na vida do crime e das drogas.
Os países do estrangeiro e as televisões, rádios e jornais do Brasil querem tomar o petróleo do nosso pré-sal e derrubar a Presidente Dilma.
Mas nós não vamos deixar. Vamos votar na Presidente Dilma e vamos votar em deputados e senadores que apoiam ela e o Presidente Lula.                            
Modelo 02
Alguns candidatos a presidente querem o arrocho, vão provocar desemprego, vão baixar o salário mínimo, vão trazer de volta o desespero para nosso Brasil.
Eles querem dar mais e mais dinheiro para os bancos, eles vão aumentar a idade para o trabalhador aposentar, forçando ele a trabalhar até morrer, eles querem dar para o estrangeiro o dinheiro do nosso petróleo, que a Presidente Dilma vai usar fazendo escolas de tempo integral para as crianças estudarem o dia inteiro, enquanto os pais trabalham, e assim evitar que caiam no crime e nas drogas.
Mas nós não vamos deixar. Vamos votar na Presidente Dilma e vamos votar em deputados e senadores que apoiam ela e o Presidente Lula.
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Que tal arregaçar as mangas? Ficar discutindo o poder da mídia corporativa, se ele diminuiu, é fuga: Ele continua imenso. Ficar confiando na capacidade de entendimento do povo, se ele sabe votar, é perigoso: uma parcela da população tem capacidade cognitiva mínima, necessita de uma mãozinha.
P.S.: Não tenho esperanças que o Nassif prestigie esse post, por ser escancaradamente partidário. A técnica do Nassif, já percebi há muito, é bater uma no cravo e outra na ferradura. Não está errado agindo assim. Às vezes devemos mesmo ser mineiros no estilo. Eu estou me arriscando tanto no “livre pensar” por um motivo só: O que está em jogo nessa eleição é tão importante para o futuro do país que ouso me expor. Ao ridículo e ao perigo que o cidadão sempre se expõe ao tomar partido na disputa política.  Mas tomar partido também é essencial, mesmo com os perigos.  

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