Quem venceu a guerra pelo Dia-D?

As celebrações pelo 70º aniversário do Dia-D na Normandia [1] bem poderiam ter marcado um grande dia a favor da paz no mundo. Mas a estratégia de contenção dos EUA contra a Rússia fez fracassar qualquer ideia de paz e estragou a festa.
O presidente Barack Obama deu verdadeiro show de petulância – sequer quis encontrar-se com o presidente da Rússia Vladimir Putin na Normandia. E aquela conversa escandalosa, comparando Putin a Adolf Hitler?!
Durante as celebrações  do Dia-D na Normandia
Há enorme ambiguidade moral aqui. O ocidente celebra os desembarques na Normandia, com o mesmo empenho com que obra para ocultar – ou finge que não vê – que essa guerra poderia ter sido vencida pela União Soviética, só ela. 


O que torna abominável o comportamento de Obama essa semana é que ele esquece 27 milhões de cidadãos soviéticos que perderam a vida naquela guerra; os 400 mil britânicos mortos são poucos diante desse número e o número de norte-americanos mortos naquela guerra é ainda muito menor. Mas é provável que Obama, cujo ser está tomado até a última fibra pela convicção do ‘excepcionalismo’ dos EUA, seja ignorante absoluto e ainda acredite que os EUA tenham vencido a 2ª Guerra Mundial.

O importante historiador britânico, especialista em 2ª Guerra Mundial, prof. Geoffrey Roberts, discute nesse vídeo[2] o papel decisivo que a União Soviética teve na 2ª Guerra Mundial, e por que o ocidente ainda não conseguiu reconhecer essa verdade clara e sobejamente comprovada.

E a China? Não deveria ter sido também convidada para as celebrações dessa semana na França, em torno da vitória na 2ª Guerra Mundial? Claro que sim!

Poucos sabem, mas a China perdeu número gigante de mortos na 2ª Guerra Mundial – inferior, só, ao número de soviéticos mortos: a China perdeu 14 milhões de vidas – 4 milhões só de soldados.

A verdade é que se a China se tivesse rendido ao Japão, a capacidade japonesa para lutar contra a União Soviética e os EUA teria sido muito maior. Mas ninguém jamais lembra da China. Todos os créditos em todas as narrativas ocidentais vão sempre para uma ‘vitória dos EUA’ na Ásia.
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Memorial para a guerra contra o Japão 1931-1945 no Museu Jianchuan em Chengdu

Por outro lado, a parte chinesa naquela tragédia colossal vem misturada com uma história complexa e difícil daquele período que envolvia Josef Stálin, Chiang Kaishek e Mao Tse Tung; e a liderança comunista em Pequim já tinha suas próprias dificuldades para promover a luta contra o Japão como narrativa patriótica chave.

Basta dizer que, para Mao, o verdadeiro inimigo eram os nacionalistas, não os japoneses. A China de Mao não demorou a estabelecer contato não oficial com o Japão e nunca teve muito interesse em julgar os crimes de guerra japoneses.

Quanto a Stálin, apoiava firmemente os comunistas chineses, mas confiava mais na liderança deChiang, confiando em que tinha maior capacidade para bloquear os japoneses, que Mao, o que, é claro, o levou a dar apoio militar (inclusive aéreo) aos nacionalistas para enfrentar os japoneses. 

Livro recém publicado, Forgotten Ally: China’s World War II (1937-1945) de Rana Mitter,[3] historiador de Oxford, lança nova luz sobre a controversa questão de quem venceu a guerra pelo Dia-D.

Entrementes, Moscou e Pequim vão, sim, celebrar conjuntamente[4] os 70 anos da vitória sobre o fascismo alemão e o militarismo japonês.”


MK Bhadrakumar 



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