Quem é patético no Brasil: o terrorismo ou o jornalismo? É o “Programa do Gugu” impresso?

Autor: Fernando Brito
estadao
Estadão e Folha, ontem e hoje, deram uma mostra do nível de (ir)responsabilidade do jornalismo brasileiro.
A Folha “entrevista” pelo Twitter um suposto ” hacker”, autodenominado “AnonManifest”, que diz ter obtido dados sigilosos sobre chegada de delegações estrangeiras e até do secretário-geral da ON, Ban Ki Moon.
Nenhum documento, dos que teriam sido obtidos, é mostrado ou referido em detalhes, para provar que, de fato, houve uma violação de dados de alta sensibilidade.
É a “palavra” tuitada do anônimo.

Hoje, o Estadão “descobre” 16 – veja que o número é preciso – marmanjos que se dizem “The Old Black Blocs” que anunciam um “aliança informal” com os bandidos do PCC para “transformar a Copa do Mundo” num caos.
O que há de jornalismo investigativo para ter certeza de que isso não passa de “factóite” de um grupelho mentalmente transtornado, que confunde ideologia anticapitalista com simples badernagem?
Nada.
Os dois maiores jornais do país, num único final de semana, abrem os mais generosos espaços para tudo o que é a essência do terrorismo, muito mais do que qualquer ação concreta: criar um estado de insegurança, medo, um clima propício a explosões de pânico.
Nada contra, muito antes pelo contrário, em apurar a existência destes “fenômenos” psicopatológicos e seus reflexos sociopatológicos.
Mas apresenta-lo de forma quase propagandística, aceitando como verdadeiras todas as tresloucadas “promessas” de caos é de uma total e completa irresponsabilidade.
Eu tento imaginar se esses grupos ameaçariam promover o caos – e se a  mídia os promoveria – em festivais como o Rock in Rio ou o Lollapaloosa, igualmente eventos capitalistas e que levam embora do Brasil um monte de dinheiro, na forma de cachês, direitos, renda. E lá está o Estado, também, gastando com serviços, segurança, transporte, tudo o que ele necessariamente deve prover.
Mas, como é a Copa, e a Copa é “Governo”, vale tudo.
Sobretudo cometer este crime inominável de estimular que qualquer transtornado,em sua falta de equilíbrio, faça o que só a sorte impediu que se fizesse no Riocentro, há 40 anos, provocar uma explosão de pânico, com o impensável em matéria de ferimento e risco para pessoas.
E, ainda que não aconteça coisa alguma, como é provável, priva as pessoas de seus direitos. Afinal, você levaria seus filhos para um local que está sobre ameaças de “caos” por uma aliança “black bloc-PCC” ?
Isso se tudo não se tratar de algo como aquele caso do “comunicado do PCC” no “Programa do Gugu”, há dez anos.
Triste é ver o Estadão transformado, espontaneamente, num palco de sensacionalismo como aquele.

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