PSB e suas alianças “pragmáticas”

Autor: Miguel do Rosário
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A decisão do PSB de Eduardo Campos de se aliar à Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, e a Lindberg Farias (PT), no Rio, ambos candidatos a governador, confundiu a cabeça de analistas.
Entretanto, nada melhor para estimular um analista do que uma confusão desse tipo. Permitam-me, portanto, dar alguns pitacos sobre o significado desse movimento.

Minha primeira impressão é que o fator determinante para esse “jogo duplo” de Eduardo Campos, de ter um pezinho em ambos os lados do tabuleiro, é o fiasco, até o momento, de sua aliança com Marina Silva.
Quando Campos anunciou, meses atrás, a entrada de Marina em sua chapa, lembro-me que comentei algo assim: é genial, é brilhante, mas talvez tenha sido genial demais, brilhante de demais. E citei um verso de Bezerra da Silva, o filósofo das favelas cariocas: “malandro quando é malandro demais, vira bicho”.
“Bicho”, na gíria carioca (já um pouco fora de uso), quer dizer fora-da-lei, mas também pode ter um significado mais leve, tipo: pessoa desagradável, incômoda, mal vista, antissocial.
Arrisco um pensamento bem ao gosto de filósofos de botequim: em política, é preciso ser esperto sem parecer ser esperto demais.
Talvez tenha sido isso que tenha atrapalhado a “Operação Marina” empreendida por Campos. O eleitorado entendeu como uma jogada “esperta” demais, que passou justamente a imagem daquilo que as pessoas menos gostam em política: a de que vale tudo para se eleger.
As pessoas até tampam o nariz para as espertezas de seus candidatos quando entendem que se trata de uma operação necessária à vitória. Acredito que o eleitor comum é mais compreensivo e mais pragmático do que intelectuais e próceres da “crise da representação política” pensam. O eleitor, tanto da esquerda, quanto da direita, protesta contra as certas “alianças”, porque entende que precisa marcar posição e forçar o seu candidato para o seu lado do espectro. E isso é saudável e democrático. Mas ao cabo ele vota no PSDB ou no PT independente desses protestos.
Mas o problema é que Marina vinha exatamente com uma proposta de “nova política”, cujas alianças seriam sempre “programáticas”, e não “pragmáticas”.
A “terceira via” ainda não vingou no Brasil.
Há o voto de protesto, maior ou menor em cada eleição, mas que é outra coisa.
A eleição presidencial está se polarizando de uma maneira muito acentuada, entre voto no governo e voto na oposição.
Diante desse quadro, a candidatura Campos desmilinguiu-se. Daí se explica a estratégia do PSB de assegurar pontes com ambos os espectros políticos: com a direita, através da aliança com os tucanos de SP; e com a esquerda, através da aliança com PT e PCdoB no Rio.
Como blogueiro de esquerda, eu lamento a decisão em São Paulo, e louvo a decisão no Rio, que alimenta esperanças de que o PSB abandone seus flertes com a direita e volte às suas origens, apoiando Dilma num eventual segundo turno.
Entretanto, como eu também sou um blogueiro um pouco malvado, fiz uma coletânea das frases de Marina Silva quando anunciou sua aliança “programática” com Eduardo Campos.
De repente, aquele discurso parece ter sido pronunciado há cem anos…

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