"O mundo está cansado de Israel e suas insanidades"

O jornalista israelense Gideon Levy notou, em artigo para o jornal Haaretz, nesta quinta-feira (26), o grau do isolamento de Israel. Além da somatória de “advertências” da Europa contra as colônias ilegais em territórios palestinos e os abusos da ocupação, o pretexto do rapto de três colonos judeus na Cisjordânia para a maior presença militar israelense, a detenção massiva de palestinos e a morte de cerca de 10 pessoas, estão expostos.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho


Asia News
Colônias israelenses Gush Etzion, bloco com 22 "comunidades" ou "municipalidades" e mais de 70 mil habitantes, entre Belém e Jerusalém, na Cisjordânia.Colônias israelenses Gush Etzion, bloco com 22 "comunidades" ou "municipalidades" e mais de 70 mil habitantes, entre Belém e Jerusalém, na Cisjordânia.
As advertências europeias contra o investimento e o comércio com as colônias israelenses – às quais se somaram, nesta sexta (27), a Espanha e a Itália – ainda têm pouco de eficácia, uma vez que se resumem a isso, advertências. Enquanto isso, a rompante operação militar de Israel soma566 detenções arbitrárias e quase 10 mortes na Cisjordânia e em Gaza quando, ainda nesta sexta, dois palestinos foram atingidos por ataques aéreos no norte da Faixa de Gaza.


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Há alguns meses, foram a Alemanha e o Reino Unido e, no início da semana, foi a França quem aderiu à tendência de desinvestimento relativa às colônias de Israel nos territórios palestinos, reconhecendo a ilegalidade das construções diante do direito internacional e avisando os seus cidadãos sobre as possíveis consequências legais dos negócios realizados com elas.

Na sequência, os governos da Itália e da Espanha – que vem sendo cenário de um protesto cada vez mais enfático contra as parcerias militares e “securitárias” com Israel – emitiram as suas próprias advertências aos cidadãos e empresas nacionais, nesta sexta, contra o comércio e o investimento nas colônias israelenses na Cisjordânia, em Jerusalém Leste e nas Colinas de Golã, território sírio anexado ilegal formalmente em 1980.

Ainda assim, as medidas não são sanções ou boicotes, nem são vinculantes. Oficiais do Ministério espanhol das Relações Exteriores enfatizaram que o governo da Espanha é contrário a essas ações – visivelmente, no caso de aliados como Israel – e que a decisão sobre a advertência é um “alinhamento” com as ações da Alemanha, França e Reino Unido, assim como a implementação de uma decisão da União Europeia que, no ano passado, publicou “diretrizes” neste sentido.

O enviado da UE para Israel Lars Fabourg-Andersen disse que as advertências, que não deveriam soar “surpreendentes”, apontam para o fato de que os Estados membros do bloco “estão perdendo a paciência com preocupações que não estão sendo tratadas”. A UE, assim como os EUA, fizeram algumas “advertências” próprias e ineficazes contra a política israelense de construção exponencial nas colônias ilegais que mantém nos territórios árabes ocupados, inclusive durante os períodos de negociações.

Vitimização e isolamento

Em sentido paralelo, o jornalista Gideon Levy apontou para o silêncio com relação ao caso do alegado rapto, há duas semanas, de três adolescentes das colônias de Gush Etzion, um bloco de 22 comunidades com mais de 70 mil habitantes, entre Belém e Jerusalém, na Cisjordânia. Para Levy, a falta de uma resposta apaixonada e raivosa por parte da comunidade internacional, como instigada por Israel, é uma prova de que as longas décadas em que a política arrogante predominou no país chegam à saturação.

O jornalista escreveu sobre a participação das mães dos três colonos ortodoxos na sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, na Suíça, nesta quarta-feira (25), para fazer um apelo sobre o caso dos seus filhos. Entretanto, a questão é uma amostra da “ironia do destino”, diz Levy: Há dois anos, Israel suspendeu oficialmente a sua cooperação com o órgão da ONU, em consonância com um posicionamento dos EUA, contrários ao próprio estabelecimento do conselho, que voltou a condenar as políticas da ocupação israelense, na mesma sessão.

“É preciso muita desfaçatez para exigir que o mundo se interesse pelo destino de três israelenses raptados, e consideravelmente bastante audácia para ficar frustrado pelo fato de que ele silenciou [a respeito],” afirma Levy, sublinhando que Israel “tentou mover céu e terra, e seu embaixador/propagandista na ONU fez um discurso comovente,” no esforço, mais uma vez, contra o Hamas. O partido islâmico acaba de reintegrar o governo palestino, após o bem-sucedido acordo de reconciliação que finalizou um longo período de ruptura política nacional, desafiando o governo israelense, que reagiu com agressividade.

Entretanto, como “já estava prestando atenção”, ironiza Levy, “este mundo bizarro estava mais interessado na campanha de punição coletiva imposta a milhares de residentes da Cisjordânia após o sequestro. Assim são as coisas, com este mundo completamente contra nós: Ele está mais interessado na ocupação de meio século e está mais abalado pelo destino de três milhões de palestinos do que com o de três israelenses.”

“É assim que uma fruta podre se parece. O mundo não tem qualquer razão para estar mais interessado no futuro de Naftali Fraenkel, Eyal Yifrah e Gilad Shaar do que no do garoto tão jovem quanto eles, Mohammed Dudin, de 15 anos, que foi morto por munições letais [disparadas] por soldados israelenses em Dura, na sexta passada.”

Mas os pais de Mohamed não estavam em Genebra, naquela sessão do Conselho de Direitos Humanos, pontua Levy. “É impossível exigir empatia do mundo quando Israel ignora as decisões mundiais; é impossível exigir atitude quando Israel perpetua a ocupação; e é impossível exigir solidariedade com o destino de vítimas israelenses quando este mesmo Israel vitimizado continua a matar, ferir e deter inocentes rotineiramente (...). O mundo está cansado de Israel e suas insanidades.”

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