Iraque começou a receber aviões russos para combater jihadistas

Aparelhos deverão ser pilotados por antigos pilotos de Saddam Hussein. ISIS anunciou o restabelecimento de califado. Irão disponível para maior envolvimento. Ofensiva para recuperar Tikrit repelida.
Chegada de aviões russos a Badgad REUTERS

O Iraque recebeu uma primeira entrega de jactos de combate russosSukhoi,Su-25, que vão ajudar as suas forças militares a responderem à ofensiva jihadista das últimas semanas. Os aviões começarão a ser usados dentro de “três ou quatro dias”.
O anúncio da chegada de aparelhos coincide com uma tentativa das forças governamentais para recuperarem o controlo de Tikrit, 160 Km a Norte de Bagdad. Aconteceu também no dia em que os combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) anunciaram, numa gravação difundida na Internet, que restabeleciam o califado e que o seu chefe, Abou Bakr Al-Baghdadi, é "o líder de todos os crentes".

Os primeiros cinco aparelhos russos chegaram na noite de sábado, em aviões de transporte de carga. Dois outros eram esperados ainda neste domingo. O general Anwar Hama Ameen, comandante da Força Aérea, anunciou também que estão já no país especialistas russos para ajudarem a tornar rapidamente operacionais os 12 aparelhos adquiridos. Ficarão por um curto período, acrescentou.
Os Su-25, aparelhos de ataque ao solo, deverão ser tripulados por pilotos da antiga força área de Saddam Hussein – ditador derrubado em 2003 pela invasão norte-americana – familiarizados com esses aviões, indicou um responsável iraquiano à AFP.
A compra dos aviões de combate, que custam 368 milhões de euros, foi anunciada na quinta-feira pelo primeiro-ministro, Nouri al-Maliki. No sábado, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Moscovo, Serguei Riabkov, declarou que a Rússia não ficaria de “braços cruzados” face à ofensiva jihadista, que ameaça desintegrar o país.
Com o apoio de sunitas, o ISIS conquistou nas últimas três semanas vastas áreas do Norte e Ocidente do Iraque, incluindo cidades como Mossul e Tikrit. Paralelamente, os curdos iraquianos tomaram Kirkuk.
O Exército desencadou nos últimos dias uma ofensiva para reconquistar Tikrit mas os ataques, que envolvem milhares de soldados, tanques e apoio aéreo têm sido repelidos pelos jihadistas. Testemunhas citadas pela BBC indicam que há pesadas baixas de ambos os lados.
Ao mesmo tempo, depois de o ayatollah Ali al-Sistani, principal líder religioso xiita do Iraque, ter apelado a um rápido entendimento sobre o nome do primeiro-ministro do futuro Governo, decorrem intensos contactos políticos, numa tentativa de conseguir um acordo até terça-feira, dia da abertura do Parlamento após as eleições de Abril, ganhas pela aliança liderada por Maliki com maioria relativa.
Irão propõe "solução" síria
New York Times vê na compra de aviões russos uma resposta do Iraque à relutância do Congresso norte-americano em fornecer-lhe meios aéreos, designadamente aviões de combate F-16, até que o primeiro-ministro xiita aceite formar um Governo inclusivo. Chefe do executivo nos últimos oito anos, Maliki é acusado – por adversários internos e aliados como os EUA –  de ter contribuído para a actual situação do país devido a políticas que discriminam sunitas e curdos.
Os EUA, que no final de 2011 se retiraram do Iraque após uma ocupação de oito anos, enviaram há dias três centenas de conselheiros e começaram a usardrones. Oficialmente, estes aparelhos aéreos estão apenas a proteger cidadãos e interesses norte-americanos mas, segundo informações do jornal, já foram usados em operações militares.
O xiita Irão também enviou conselheiros e estará disposto a um envolvimento semelhante ao que teve na Síria, em apoio do regime de Bashar al-Assad, que apoiou com especialistas militares. “O Irão disse aos responsáveis iraquianos que está pronto a fornecer-lhes a nossa bem-sucedida experiência na versátil defesa popular, a estratégia vencedora usada na Síria para colocar os terroristas na defensiva”, afirmou o general Massoud Jazayeri, dos Guardas Revolucionários, em declarações à televisão al Alam, reproduzidas pela Reuters.
O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, referiu-se também ao conflito no Iraque, que descreveu como um “confronto entre humanidade e selvajaria bárbara”. Criticou também a imprensa ocidental por retratar o confronto como uma guerra entre muçulmanos xiitas e sunitas. “É uma batalha entre apoiantes e opositores do terrorismo, é uma guerra entre os fãs da América e do Ocidente e aqueles que defendem a independência do seu país”.
Os combates das últimas semanas no Iraque provocaram já, segundo as Nações Unidas, mais de um milhar de mortos e levaram à fuga de centenas de milhares de pessoas.

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