DILMA NA TV


Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

















Em 2014, tempo no horário político pode ser mais importante do que em outras eleições


A vitória de Dilma na convenção do PMDB só pode ser minimizada por quem tem interesse em
ampliar as dificuldades de sua campanha e reforçar o ânimo da oposição.
Dilma conseguiu o que queria: garantir um bom tempo na TV para defender seu governo, onde
pode ficar com metade do horário disponível.

Este fato não deve ser desprezado.


Explico. A partir da ideia de que imprensa é oposição, o resto é secos e molhados -- sempre aplicada
seletivamente, convém lembrar -- nos últimos anos a maioria dos meios de comunicação do país abriu mão
da tarefa de manter os brasileiros  informados, adequadamente, sobre o que se passa em seu país.

Em nome da avaliação crítica, omissões,  verdades parciais -- outro nome de mentiras parciais -- e simples
inverdades se tornaram uma rotina.

O exemplo mais recente, é o da Copa, onde as distorções serviram para exagerar na soma
de gastos públicos, e também para realizar comparações absurdas com despesas em áreas de educação e saúde,
engrossando as tentativas de criar um surrealista ambiente de oposição ao principal torneio do esporte nacional.

Em outras áreas, realizações importantes do governo -- como o termino parcial da Transposição do
São Francisco, a Ferrovia Norte-Sul, a Transcarioca -- sequer foram divulgadas com a importância
que possuem.

A prioridade em encontrar dissidentes cubanos ajudou a encobrir o trabalho realizado a partir do programa
Mais Médicos por doutores cubanos, espanhois, portugueses, argentinos e brasileiros.
Estes exemplos mostram uma situação peculiar das eleições.

É muito razoável supor que boa parte dos eleitores tem, hoje, uma visão parcial das realizações do governo, o que permite imaginar uma mudança favorável a reeleição quando o horário político tiver início. Para muitos eleitores, surgirão novidades
de bom tamanho.

Cabe assinalar que a comparação da convenção de ontem com os numeros da convenção do PMDB de 2010 é indevida por várias razões. Dilma recebeu 61% dos votos disponíveis, ou 123 a mais do que os partidários de uma ruptura com o governo.  

A primeira razão é que não dá para comparar o Brasil de 2010 -- a economia crescia 7,5% ao ano -- com o país de 2014.
Dilma é um governo mais desgastado do que o de Lula em seu segundo mandato, que foi o verdadeiro auge de seu governo e seu prestígio.

Dilma enfrentou os protestos de junho de 2013 - com um descontentamento radical difuso, capaz de assombrar qualquer governo de qualquer partido que estivesse em palácio naquele momento.
Em  quatro anos, demorou para dar respostas articuladas para o crescimento. Teve o mérito indiscutível de
manter o emprego num bom nível e seguir na politica de aumento de renda dos mais pobres, o que lhe assegura a fidelidade
dos eleitores identificados com o PT -- a frio, um terço do eleitorado -- e manter a liderança nas pesquisas.

As pesquisas apontam para um quadro relativamente estável. Mesmo oscilando para baixo, Dilma mantém uma boa vantagem em relação a Aécio e Eduardo Campos. Os números mostram que, com a soma dos votos de candidatos menores, a hipótese de levar a eleição no primeiro turno tornou-se remota. Se nem mesmo em 2010 a vitória em primeiro turno foi possível, em condições infinitamente mais favoráveis, é difícil pensar que isso possa acontecer agora.

Dilma joga na defesa. Não pretende demonstrar que seu governo é muito melhor do que os outros. Tentará defender a ideia de que a vida dos brasileiros mais pobres ficará muito pior nas mãos de seus adversários. Este é jogo -- e por isso a TV é tão importante.  

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