COPA 1, ANTI-COPA 0

Abertura da Copa mostrou como é difícil contrariar vontade da maioria da população numa democracia

Quando se lembra que, até muito recentemente, dizia-se que o governo deveria render-se se a uma incorrigível  incompetência tropical para  devolver a Copa para a FIFA, o dia de ontem é digno de festa.
Verdade que foi apenas o início de uma jornada complicada, que terá varios momentos imprevisíveis. 
Espalhada por vários pontos do país, mobilizando platéias e populações diversas, a Copa irá prolongar-se por um mês inteiro, quando podem ocorrer surpresas, imprevistos e até coisa pior.

Como começo, foi um sinal positivo,  porém. (Mesmo lembrando que o padrão de cultura da FIFA nunca foi sua maior especialidade, o show de abertura não precisava ser tão ruim e inexpressivo – nem o exoesqueleto precisava ser tão escondido assim...)
O espírito anti-Copa resumiu-se, ontem, a uma cafajestada contra Dilma Rousseff no Itaquerão, logo abafada por um coro que falava do orgulho de ser brasileiro.
Cafajestadas não demonstram apenas falta de educação. Refletem isolamento político, de quem não está falando com a massa nem consegue comunicar-se com o país. Indo para o principal.
Para quem chegou ao máximo de imaginar que seria razoável impedir a Copa de qualquer maneira, com ajuda de violência quando preciso, o 12 de junho serviu para demonstrar a dificuldade de se contrariar a vontade da maioria quando se vive sob um regime democrático.
A torcida ajudou o time a virar uma partida que começou com um azarado gol contra. Cumpriu seu papel e jogou junto. 
Fora do estádio, os protestos foram ainda mais  pífios, confirmando a visão de que a principal proteção dos jogos não se encontra nos cassetetes da Polícia nem em tanques do Exército -- mas o amor do povo ao futebol e o respeito por seus direitos. Como sabe qualquer pessoa que já fez uma passeata na vida, quando a população sente necessidade de protestar enfrenta até uma ditadura. 
Depois de ontem, é difícil negar que os brasileiros querem a Copa e estão felizes com ela – e que isso não afeta sua visão da situação do país, nem irá tornar nenhum candidato a presidente mais ou menos popular. Mas é óbvio que os profissionais das más notícias e das tragédias anunciadas perderão credibilidade (e votos) na medida em que suas profecias não se confirmarem. Por isso, evitam dizer em voz alta aquilo que pensam em voz baixa.
 Mas eles estão atentos. 
Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

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