Circo do futebol já foi montado na Granja Comary

bruna essa Circo do futebol já foi montado na Granja Comary

No blog Balaio do Kotscho

Logo na primeira semana de treinamentos da seleção brasileira, em Teresópolis, a Granja Comary já foi transformada numa grande cidade cenográfica. Um verdadeiro circo do futebol  está montado na concentração, com prioridade para a Globo, é claro, a emissora que tomou conta do pedaço e é quem dá as cartas, como se aquilo fosse uma filial do Projac.
Tudo bem, a Globo pagou uma nota para ter os direitos de transmissão da Copa no Brasil, mas não me consta que também tenha contratado, com exclusividade, o elenco da seleção. Já fiz a cobertura de dois Mundiais e sei como é difícil conseguir entrevistas com a comissão técnica e os jogadores. Durante os treinos e dentro da concentração, era impossível.

Com Zagalo no comando, em 1974, na Alemanha, e Telê, no México, em 1986, havia horários rígidos e limites para o trabalho da imprensa, que todo mundo respeitava. Ninguém tinha privilégios. Agora, com o sargentão Felipão de técnico, com sua cara de mau e intransigente zelador das regras, está virando uma festa do caqui.
bronca Circo do futebol já foi montado na Granja Comary
Durante a semana, Felipão chegou a interromper um treinamento _ por conta própria ou atendendo a ordens superiores _ para que um apresentador global, acompanhado dos filhos e de um cadeirante, pudesse gravar cenas do seu programa dentro do campo, quando os jogadores já tinham feito o aquecimento.
No domingo, só faltou cobrir a Granja Comary com uma lona. Apareceu _ e como apareceu! _ até a mocinha da novela das nove, namorada de Neymar, que se tornou a grande estrela do primeiro treino coletivo, ofuscando as estrelas de Felipão. Bruna Marquezine estava à vontade, como se estivesse gravando mais um capítulo da novela, não se vexando de ficar aos amassos com o jogador na beira do campo, ao vivo, para todo o Brasil.

Para não perder o protagonismo na mídia, e mostrar que é ele quem manda, ao final do treino o técnico deu um esporro geral nos jogadores na frente dos jornalistas. "Não gostei do treino, não gostei de nada. Tudo errado. Muita coisa errada. Muita liberdade, muito contra-ataque, uma série de detalhes que não são normais na seleção", esbravejou. Deve ter algum lugar, imagino eu, mais reservado naquele latifúndio para o técnico acertar os ponteiros com seus jogadores e para que eles recebam suas namoradas.
De fato, Felipão tem toda razão, mas sua bronca não deveria se limitar ao time. Até o seu parceiro de comando na comissão técnica, Carlos Alberto Parreira, levou os netos para dentro do campo na granja da CBF. Começamos mal.
Ao contrário do que vi na Alemanha e no México, onde não fomos campeões, mas todos levaram o trabalho a sério, este clima de oba-oba lembra mais o da concentração da seleção brasileira em 1950, quando todo mundo comemorou o título antes da hora e até hoje tem gente chorando a derrota na final contra o Uruguai em pleno Maracanã. A diferença é que, em 2014, ainda não apareceram os políticos em campanha, como naquele ano fatídico, em que a televisão estava engatinhando no Brasil. Menos mal. Nem o cacique-mor José Maria Marin foi visto por lá no furdunço de domingo.
Ainda é tempo de botar ordem na casa. É bom lembrar que faltam apenas dez dias para o jogo de estreia contra a Croácia. Para começar, acho que o grande ídolo Neymar não pode continuar aparecendo mais na telinha, em comerciais, programas de televisão ou namorando, do que dentro dos campos de treinamento. Treino é treino, jogo é jogo e, na hora de trabalhar, é trabalhar duro. Convém deixar para fazer festa depois do último jogo.

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