Amor, ódio, esperança e radicalidade na luta política-eleitoral



Editorial do Vermelho

A campanha eleitoral propriamente dita ainda nem começou, mas o enfrentamento entre as principais candidaturas é cada vez mais duro e radicalizado. A oposição neoliberal e conservadora, encabeçada pelo candidato Aécio Neves, da coalizão PSDB-DEM-Solidariedade, expressão partidária da nova direita nacional, optou por duros ataques ao governo e à pessoa da presidenta da República, num discurso em que se misturam falsas denúncias e insultos, uma mixórdia de preconceito e ódio. 

A fórmula adotada pelo consórcio oposicionista neoliberal e conservador tem dois sentidos muito precisos. 

Em primeiro lugar, os inimigos da democracia, da soberania nacional e do progresso social querem macular a imagem da mandatária, caracterizá-la negativamente, desfazer a confiança do povo em uma governante que se destaca como estadista, boa gestora, moralmente inatacável – pela honestidade com que conduz a administração pública – e líder política para quem acima de tudo estão a democracia, a soberania nacional, o desenvolvimento, o bem-estar e as aspirações do povo brasileiro. 

Em segundo lugar, o consórcio oposicionista atua para criar um cenário de instabilidade, caos, ingovernabilidade e quebra de princípios democráticos básicos no desenvolvimento da luta política e social. Para isto, fabricam-se manifestações minoritárias em que o insulto e a incitação à violência se tornam a norma, numa demonstração de que a direção tucana aposta num cenário de desestabilização política do país para o caso de uma provável derrota dos seus planos eleitorais.

Observe-se que a estratégia do insulto e do ódio não começou com a manifestação cretina e mal educada minutos antes da partida inaugural da Copa do Mundo. Mês e meio antes, numa das festas de comemoração do 1º de Maio organizada por uma das centrais sindicais, um deputado e sindicalista que sempre esteve de braços dados com o patronato e os executivos das multinacionais, antigo aliado dos neoliberais, comandou um coro ofensivo e lançou gestos obscenos contra a mandatária. 

Mais do que o esboroamento do mito da cordialidade nas relações sociais como elemento constitutivo do caráter nacional, a estratégia dos neoliberais e conservadores encastelados na campanha aecista revela o nascimento de uma vertente para o fascismo, a semeadura da radicalização política, a preparação da violência como método para regressar ao poder. É o que corresponde à visão de mundo da classe social que esta candidatura representa, herdeira de escravocratas, que vê com indisfarçáveis inconformismo e intolerância a emergência do protagonismo do povo humilde e dos trabalhadores, traduzida numa ainda tímida, incipiente, frágil mas real ascensão social e obtenção de níveis mínimos de bem-estar.

Assim, tudo está a indicar não só que teremos uma campanha eleitoral radicalizada, como esta radicalidade não se esgotará em outubro vindouro, pois expressa objetivamente a polarização social e política em curso no Brasil desde a abertura do novo ciclo a partir da primeira eleição de Lula, em 2002.

Se concretizada, a reeleição da presidenta Dilma Rousseff seria a quarta vitória do povo brasileiro. São significativas as conquistas acumuladas, é real a possibilidade de promover mudanças estruturais no país, como de reforçar o processo independentista, integrador e democrático-popular, de sentido anti-imperialista, em curso na América Latina, que se vai transformando num importante polo no cenário geopolítico atual. A direita conservadora e neoliberal e seus aliados internacionais têm este cenário em conta e visam, com as movimentações políticas que empreendem, a interrompê-lo, truncá-lo, revertê-lo, em nome dos seus interesses de classe e antinacionais. Como temos assinalado, o que está em disputa na atual contenda eleitoral é se o Brasil continuará a realizar as mudanças que correspondem aos anseios nacionais e populares, ou se retrocederá às políticas que convêm à oligarquia financeira e às potências internacionais. 

A expressão “Lulinha paz e amor”, marca de campanhas eleitorais passadas, era uma formulação do chamado marketing político, cada vez mais influente em disputas políticas mediatizadas e espetacularizadas, em que a publicidade e a habilidade para usar a televisão têm peso decisivo. Supor, porém, que são tiradas deste tipo que definem o resultado da luta política, seria no mínimo ingenuidade. A alternância entre boutades, afirmações incisivas e palavras agressivas é sempre a expressão da temperatura política, do nível da batalha, fórmulas que falam das convicções dos contendores e do humor do eleitorado. O Brasil é um país com lancinantes contradições sociais, que inevitavelmente se expressam com radicalidade na vida política, sobretudo quando está em jogo o vértice do poder nacional – a Presidência da República.

Sem resvalar para a provocação e as baixarias do consórcio oposicionista e seu candidato Aécio Neves, as forças progressistas vão à luta com um discurso mobilizador, capaz de infundir esperança, descortinar perspectivas e desencadear as energias latentes do povo brasileiro, a fim de seguir na caminhada para realizar transformações políticas e sociais avançadas e mudar a realidade e a face do país. 

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