A Folha enxovalha o que lhe resta de história: Janio de Freitas

Autor: Fernando Brito
janio
Eu entrei nesta profissão no tempo em que ela tinha algumas figuras míticas.
Barbosa Lima Sobrinho, já nos seus 80 anos, foi recebido como um ícone num debate de estudantes calouros na UFRJ.
Castelinho era venerado, não apenas pela qualidade da informação com pela delicadeza com que tratava da política e dos políticos em seu canto da página dois do Jornal do Brasil.

E, bem mais novo, Janio de Freitas era uma águia a apontar irregularidades, desvios e o monte de espertezas que foi, desgraçadamente, tomando conta da política brasileira.
Hoje, fui tomado de vergonha ao ver, na Folha de S. Paulo,  essa glória remanescente daqueles tempos de jornalismo agredida toscamente  por Reinaldo Azevedo.
Reinaldo não pode se queixar de ser criticado, porque é isso que ele procura quando criou para si mesmo o papel de enfant terrible da direita.
Ele busca, pelas razões absolutas que defende, pelos rótulos que prega e pelo ódio que destila, sempre o confronto pessoal, eis que o de ideias, nas poucas que tem, é frágil, fragilíssimo.
Não o culpo por nada além disso e todos os miasmas que brotam do seu texto não são coisa alguma além disso.
No monturo da Veja, onde teria propriedade a frase que Dante apõe ao pórtico do Inferno – lasciate ogni speranza voi che entrate – ele cabe,  porque quem  para lá vai sabe que terá de se despir não apenas dela como de parte de sua dignidade.
Mas não na Folha, onde há gente digna, capaz e civilizada, embora tenha de se submeter às manias tolas que o jornal cultiva.
É à Folha que cabe o repúdio por colocar sua figura histórica, Janio,  ao alcance de mãos lamacentas.
Ela o foi buscar e deu-lhe ribalta.
Não sei o que se passou com Janio, a quem mal conheço pessoalmente embora o admire como profissional como se ainda fosse um trêmulo “foca”.
Não sei se lhe doeu ver a casa a quem tanto deu abrigar tal figura, ou se deu de ombros e espanou com o pé a figura minúscula.
Sei que a mim doeu e revoltou.
E por mim é que faço este desagravo, do qual Janio não precisa.
Preciso eu, para seguir achando que há dignidade em minha profissão.

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