Vice na chapa de Lindbergh, PV quer reeditar aliança de 1986 no RJ

Militantes do PT e do PV realizaram a primeira reunião para a elaboração do programa ambiental a ser apresentado pelo candidato Lindbergh Farias.

Maurício Thuswohl
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Rio de Janeiro – Militantes do PT e do PV no Rio de Janeiro realizaram na noite de segunda-feira (19) a primeira reunião conjunta para a elaboração do programa ambiental a ser apresentado pelo candidato petista ao governo estadual, senador Lindbergh Farias. O seminário “Desenvolvimento Sustentável” contou com as presenças do fundador e dirigente nacional do PV, Roberto Rocco, nome confirmado como candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Lindbergh, e do deputado estadual e ex-ministro do Meio Ambiente no governo Lula, Carlos Minc. Ambas as legendas assumiram o compromisso de realizar um “governo sustentável” em caso de vitória nas próximas eleições.

Minc - que nos últimos sete anos foi secretário estadual do Ambiente na gestão de Sérgio Cabral (PMDB) - defendeu os avanços de sua pasta e afirmou que “será possível fazer muito mais” em um governo petista, já que no atual ele não teve a colaboração de outros setores da administração pública. Já Rocco ressaltou a “convergência programática” entre os dois partidos e afirmou que o momento político é parecido com 1986, quando PT e PV fizeram uma campanha antológica em torno de Fernando Gabeira, candidato ao governo naquelas eleições vencidas pelo hoje ministro da Aviação Civil, Moreira Franco.

“Em 1986, ano da fundação do PV, nós protagonizamos aquela que talvez tenha sido a campanha mais bonita da história da política no estado do Rio de Janeiro, em uma coligação como essa com o PT. Foi uma campanha fantástica, com os dois partidos começando suas trajetórias na vida política na recém-conquistada democracia brasileira. Engatinhávamos ainda, do ponto de vista da representação nas instâncias políticas, nas casas legislativas e no Poder Executivo, mas aquela campanha foi um cartão de visita que para nós é inesquecível”, disse Rocco.

O fato de os dois partidos nunca mais terem se coligado regionalmente desde então foi minimizado pelo dirigente verde: “Em 86 começava uma parceria que, para nós, parecia que seria permanente, mas os caminhos da política, assim como os caminhos da vida, às vezes nos levam por trajetórias distintas. Mas, não ficamos em campos opostos, andamos em trilhas paralelas, buscando, cada um, afirmar sua proposta e apresentar seu programa à sociedade”, disse.

Rocco contou como se deu a reaproximação: “A Executiva do PV decidiu estabelecer diálogo com todos os partidos, com exceção do PR e do PRB, por absoluta incompatibilidade programática. E o diálogo com o PT, que resultou nessa aliança, nos atraiu por conta das convergências programáticas, as mesmas que nos uniram lá atrás, em 1986. Essas mesmas bases estão colocadas para o desafio que vem aí. Temos uma chapa que pode mudar a forma de fazer política no Rio de Janeiro e dar um exemplo para todo o Brasil”.

Mesmo com o ainda estreito leque da aliança, que inclui também o PCdoB, e o escasso tempo de tevê, Rocco aposta no sucesso da comunicação direta com o eleitor: “Nossa frente não será a que mais terá partidos, mas a nossa aliança será com a sociedade, com as instituições, com o terceiro setor, com o setor produtivo, com as comunidades, com os pescadores, com os catadores de lixo. Queremos reaproximar o governo da sociedade”, disse.

Desafios

O candidato a vice-governador apontou os “desafios estratégicos” que deverão ser enfrentados pelo próximo governo do Rio: “O primeiro deles é preparar a gestão pública do estado para as mudanças climáticas que já são uma realidade no mundo todo. Temos de enfrentar esse desafio de maneira a minimizar os impactos que já acontecem e evitar que maiores impactos venham a acontecer. Para isso, temos que ter uma política estadual de redução das emissões de gases, e a contribuição que o estado do Rio dá para esse efeito danoso tem que ser revertida. Esse é um desafio que o PV, junto ao PT e ao PCdoB, topou assumir frente à sociedade fluminense”, disse Rocco.

Outro desafio, segundo o verde, é a superação da dependência econômica ao petróleo: “A economia de importantes regiões de nosso estado está calcada nos royalties do petróleo. Algumas cidades dependem exclusivamente desses royalties. Mas, e quando o petróleo acabar? O que vai acontecer com as pessoas que vivem em torno dessa atividade econômica? Nós precisamos preparar o estado para esse novo momento, precisamos estimular a economia criativa, precisamos investir nas nossas vocações, como o turismo e a atividade econômica lúdica”.

“Também precisamos investir em energia solar, já que o estado é privilegiado, e na energia dos ventos. Precisamos tratar nossas bacias hidrográficas com a preocupação de preservar a nossa água. Precisamos proteger as nossas nascentes e descontaminar nossos lençóis freáticos e sistemas lagunares. Queremos a preservação de nossa cobertura vegetal e o incentivo à agrofloresta que produza alimentos, mas mantenha a floresta em pé. Queremos para o Rio o desenvolvimento sustentável, com justiça social e equilíbrio ambiental e, para isso, precisaremos de governança, para fazer com que essa sustentabilidade seja perene”, concluiu Rocco.

“Fazer mais”

O deputado Carlos Minc defendeu sua participação no governo Cabral: “Nesses sete anos, avançamos em alguns pontos. Foi uma gestão petista, nós tivemos metas nossas e ouvimos o PT. Estávamos dentro de um governo onde tínhamos duas secretarias no meio de mais de 20 secretarias, mas na área ambiental fizemos nossa luta política, mesmo com essa limitação”, disse.

Para Minc, os avanços podem ser muito maiores em um governo com PT e PV: “A Secretaria do Ambiente avançou, mas não dávamos a linha do governo. Agora teremos a possibilidade de ver quais foram os avanços, o que mais pode ser feito e como a gente pode ter uma interlocução com outras áreas da administração que, no governo atual, expressam outras filosofias”, disse, citando como exemplo as secretarias de Agricultura e de Transportes e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae): “Eram setores que não dialogavam, mas, tendo um governo Lindbergh e Rocco, é uma outra realidade e nós poderemos potencializar as parcerias”.

“A Secretaria do Ambiente esteve aprisionada dentro de um sistema de prioridades que vai na contramão do que seria uma política de clima, de tecnologia limpa, de defesa da saúde do trabalhador. Temos que pensar uma política ambiental para todo o governo, com a participação dos movimentos sociais e da universidade. O Lindbergh está imbuído disso”, continuou Minc.

“Mexida na Cedae”

O ex-ministro citou o “nó do saneamento” no estado como exemplo da falta de colaboração do restante do governo Cabral com a área ambiental: “Só de recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam), além dos recursos do PAC disponibilizados pela presidenta Dilma Rousseff, colocamos cerca de R$ 1 bilhão à disposição da Cedae. Ao mesmo tempo, a Cedae, que tem o orçamento dez vezes maior do que a Secretaria do Ambiente, não tirou nada, zero, de seus próprios recursos para saneamento. Tem que haver uma grande mexida na Cedae. A Cedae não pode ir para um lado e o meio ambiente para outro”, disse.

Ocorreram outros problemas decorrentes da falta de diálogo com os demais setores do governo, segundo Minc: “Conseguimos tirar os impostos para energia solar e eólica, mas foi uma guerra para conseguir algo tão simples. Também tivemos dificuldades para isentar de imposto os equipamentos que transformam lixo em energia e utilizar o lixo sólido seco da construção civil, o famoso entulho, para coletar, moer e voltar a ser utilizado como insumos pelas prefeituras, pois isso não cruzava com a política da Secretaria de Habitação. Fizemos também um programa de educação ambiental em parceria com a Uerj, mas essa não era política da Secretaria de Educação. Com uma educação antenada com a sustentabilidade, nós poderemos atingir 20 vezes mais estudantes da rede pública”.

Avanços

Entre as políticas ambientais que serão intensificadas em um eventual governo de Lindbergh Farias, Minc cita a estruturação do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o mapeamento das áreas de riscos, a municipalização do licenciamento ambiental e adoção do ICMS Verde. Um ponto prioritário será a política de resíduos sólidos: “Acabamos com todos os principais lixões, o Rio hoje é o estado que tem o maior percentual de lixo em aterro sanitário (92%). Mas, a coleta seletiva avançou menos e seu nível na capital e nos municípios é de menos de 4%, quando a Lei Nacional de Resíduos Sólidos diz que teríamos que atingir 10% ainda este ano. Esse vai ser o governo da reciclagem e da coleta seletiva”, prometeu.

Outra política que Lindbergh, segundo Minc, se comprometeu a dar continuidade é a criação das “Fábricas Verdes”, projeto desenvolvido pela Superintendência de Território e Cidadania: “Em comunidades como Complexo do Alemão, Jacarezinho, Rocinha, Salgueiro e Mangueira, desenvolvemos uma política nitidamente popular e inclusiva com a reciclagem de computadores e a transformação de lixo eletrônico em inclusão digital. Isso é uma política petista desenvolvida pela Secretaria, uma política de esquerda voltada ao setor social, mas não era uma política de governo”.

Minc, que antes de ingressar no PT foi militante – e fundador – do PV, aposta no sucesso da aliança com os verdes: “Nos reencontramos várias vezes com o PV nesse caminho. É importante construirmos um programa objetivo e uma plataforma ambiental de governo. A expectativa é que a questão da sustentabilidade tenha um peso forte no governo do Lindbergh, como mostra a própria presença do Rocco como vice em nossa chapa”.



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