Um negócio de US$ 49 bilhões

abre.jpgREVIRAVOLTA O negócio bilionário nos Estados Unidos pode ter reflexotanto no mercado de tevês quanto no de telefonia no Brasil


Com a compra da DirecTV, controladora da Sky, a gigante das telecomunicações nos Estados Unidos, AT&T, entra no varejo brasileiro

Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)

Uma das líderes globais em serviços de telecomunicação, incluindo telefonia móvel, tecnologia 3G, internet banda larga e tevê por assinatura, a AT&T deve chegar em breve ao varejo brasileiro. Na semana passada, a gigante americana confirmou a compra da DirecTV, controladora da Sky, por US$ 49 bilhões e colocou a expansão do grupo na América Latina como prioridade. Em conversa com acionistas na segunda-feira 19, Randall Stephenson, presidente-executivo da AT&T, destacou o interesse no Brasil. “Quando olhamos para o mercado de tevê paga, vemos um mercado com baixa penetração, que ainda tem um grande potencial, particularmente no Brasil”, afirmou. “É difícil achar um paralelo exato dessa transação em qualquer lugar do mundo.”

No País, apenas 18,6 milhões de residências têm acesso à tevê paga, o que corresponde a uma penetração de 28,5%. Isso é uma fração do segmento nos Estados Unidos, onde o número de assinantes chega a 87,9 milhões, uma penetração acima de 80%. “Essa é uma notícia boa para o mercado”, diz João Paulo Bruder, analista de telecomunicações da IDC Brasil. “O consumidor só tem a se beneficiar com a chegada de uma empresa em busca de retorno sobre seu investimento e interessada em criar pacotes novos e aumentar a base de clientes.” De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações, a Sky tem hoje 29,7% do mercado, é líder na modalidade satélite e o segundo maior provedor de tevê paga, com 5,5 milhões de assinantes, atrás apenas da Net, que tem 9,9 milhões de clientes e uma fatia de 53,6%.

Os analistas acreditam que a AT&T não deve parar por aí. Diante de um mercado cada vez mais convergente, em que a mesma prestadora oferece múltiplos pacotes de tevê, internet e telefonia móvel e fixa, o que tende a fidelizar os clientes e aumentar o gasto médio por consumidor, a companhia deve entrar também no setor de telefonia e banda larga. Com as indicações de que a Tim, controlada pela Telecom Italia, está a procura de um comprador (apesar de a empresa negar isso), especula-se que essa deve ser a nova aquisição da AT&T no Brasil. “Para o consumidor, é muito melhor que entre uma nova empresa no mercado do que fatiar a TIM entre a Claro, a Vivo e a Oi”, afirma Manuel Fernandes, sócio da consultoria KPMG. “Com o aumento na concorrência, as empresas têm de reter clientes e, para isso, melhorar a qualidade e reduzir os preços.” Outra oportunidade de entrada no setor de telefonia estaria na GVT, braço brasileiro do grupo francês Vivendi.

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EXPANSÃO
O Brasil e a América Latina tornaram-se
agora mercados prioritários para a AT&T
A compra da DirecTV deve ser vista dentro do contexto da concorrência nos Estados Unidos. No começo do ano, uma oferta de US$ 45 bilhões formalizou a compra da Time Warner Cable pela Comcast, criando uma gigante de 30 milhões de assinantes de tevê a cabo e usuários de banda larga. Antes apenas uma provedora de tevê a cabo, num momento em que serviços de vídeos em streaming (transmissão via internet), como o Netflix, o Hulu e a Apple TV, se expandem em alta velocidade, a Comcast se tornou a principal companhia no setor de mídia e banda larga. Em mercados mais maduros, como o americano, em que muitas famílias têm os dois serviços, a briga por assinantes é intensa. Só no ano passado, 6,5% das residências deixaram de assinar tevê paga nos EUA, segundo a Experian Marketing Services. Isso representa mais de sete milhões de pessoas. Mas, no Brasil, o cenário é diferente. “Existe espaço para os dois, porque, por mais que apresentem semelhanças na oferta de programação, são formas de interação diferentes e que podem ser complementares”, diz Bruder, da IDC Brasil.
Agora, a Comcast e a AT&T, depois da compra da DirecTV, têm tamanhos equivalentes em relação à base de assinantes de tevê paga. “A iniciativa da Comcast de comprar a Warner impulsionou a AT&T a fazer o mesmo para se proteger e, assim, poder concorrer em pé de igualdade”, afirma Bruder, da IDC Brasil. Os dois negócios ainda esperam aprovação das entidades regulatórias dos países em que estão presentes. Para evitar conflitos, a AT&T vendeu sua participação de US$ 5 bilhões na América Móvil e, assim, encerrou uma parceria histórica com o bilionário mexicano Carlos Slim. No Brasil, a América Móvil é dona da Claro. Slim foi chefe de Randall Stephenson nos anos 90 e já trabalhou como membro do conselho da AT&T.
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Fotos: Richard Drew/AFP Photo, Paul Taggart/Bloomberg

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