Ronaldo fará campanha com o microfone da Globo

publicado em 26 de maio de 2014 às 10:18
Publicado em 25/05/2014 às 09h00
Ronaldo repete com Dilma Rousseff o que fez com Andrés Sanchez e Ricardo Teixeira.
por Cosme Rímoli, em seu blog
Confessando estar envergonhado com a Copa e posando ao lado de Aécio ‘futuro presidente’, apela para o que faz melhor na vida: sobreviver…
O mês era novembro de 2011.
Ricardo Teixeira estava sendo massacrado pela imprensa.
Jornalistas europeus o acusavam de ter recebido propina da ISL.
E que por isso teria caído em desgraça na Fifa.
No Brasil, a repercussão da investigação da Polícia Federal.
Ele não tinha explicações para o gasto de um amistoso.
R$ 9 milhões para o Brasil jogar contra Portugal em Brasília.
Dilma Rousseff não o queria no comando da organização da Copa.
Diante desse quadro, Andrés Sanchez resolveu agir.
O ex-presidente corintiano indicou a Teixeira um escudo.
Ronaldo.

O ex-jogador seria o símbolo e porta-voz da Copa de 2014.
E ainda desviaria o foco do ex-presidente.
Andrés era amigo íntimo desde a última passagem como jogador.
Que o Flamengo negou.
Sabia que os dois estavam rompidos.
O presidente da CBF vetou o jogador depois da gandaia de 2006.
Era Ronaldo quem levava os atletas para a farra durante o Mundial.
Sua convocações passaram a ser proibidas por Teixeira.
“Até 2006 a gente tinha ótimo relacionamento, e esse relacionamento acabou, não sei por que. Algumas vezes a gente se encontrou e ele foi super frio. Não me importa absolutamente nada ter relacionamento com uma pessoa de duplo caráter.”
Disse em 2009, quando vivia uma excelente fase no Corinthians.
Mas acabou se esquecendo do ‘duplo caráter’ dois anos depois.
Ronaldo se reuniu com Andrés e Teixeira.
Recebeu a proposta para ser membro do Comitê Organizador Local.
Seria um símbolo apenas, que viajaria pelo mundo, um embaixador.
Não teria poder efetivo para decidir nada.
Só falaria bem do Mundial, visitaria estádios ao lado de políticos.
E posaria para fotos que seriam distribuídas para o mundo.
Ronaldo não receberia salário.
Mas teria total liberdade para faturar em propagandas.
E mais, já começava a amarrar sua participação como comentarista da Globo.
O convite a Ronaldo agradou em cheio o Planalto Central.
Dilma sabia muito bem o quanto sua imagem era valiosa.
Principalmente fora do país.
Seria um excelente negócio para todas as partes.
“Conheço Ronaldo desde quando ele era garoto, e acompanhei sua trajetória até o Penta. É um símbolo do nosso país e encantou várias gerações. É a voz perfeita para a organização da Copa de 2014.”
Esse foi a parte alta do discurso de Teixeira.
Mostrava orgulho ao apresentar Ronaldo como membro do COL.
O ex-jogador assumiu no dia 1º de dezembro.
Chegou tarde.
Três meses mais tarde, Ricardo Teixeira foi obrigado a renunciar.
Não suportou a pressão da Fifa, do Planalto Central e da Polícia Federal.
Deixou o cargo para José Maria Marin.
Uma semana após a renúncia, Ronaldo se afastou de Andrés.
Ele afirmou publicamente que desejava ser presidente da CBF.
Queria o cargo depois do mandato de Marin.
Exatamente como o ex-presidente corintiano.
Os dois se afastaram.
Andrés logo perderia suas funções na CBF.
E acabaria obrigado a renunciar.
Ronaldo continuou seguindo impávido no COL.
Fazendo cada vez mais propagandas.
Sua agência trabalhando firme com Neymar.
E ainda comentando a Copa das Confederações para a Globo.
Defendia a Copa com unhas, dentes e declarações infelizes.
A maior delas foi inesquecível.
“Sem estádio não se faz Copa. Não se faz Copa com hospital.”
Foi além.
“O povo tem de se sentir orgulhoso de pagar imposto e ver que vão ser feitas coisas importantes. Coisas que ficarão para a gente. Teremos estádios, ferrovias, estradas… Tudo ficará para o povo.”
Dilma e o ministro Aldo Rebelo vibravam.
As declarações de Ronaldo eram perfeitas.
Ele era um escudo fantástico.
Para as obras que seriam o legado da Copa…
E não saíram do papel, como as tais ferrovias.
Além dos atrasos nos caríssimos estádios.
Ronaldo fazia o seu papel até na semana passada.
Quando veio o jogo de abertura do Itaquerão.
Entre Corinthians e Figueirense.
O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke ficou possesso.
Teve a certeza de que 30 mil pessoas ficarão expostas à chuva.
O Corinthians não colocou vidros como cobertura.
Por serem ficarem verdes com o sol e lembrarem o rival Palmeiras.
Absurdo que o comando da Fifa desconhecia.
Mais perigoso ainda é o atraso com os equipamentos de transmissão.
A abertura da Copa deverá ser acompanhada por um bilhão de pessoas.
A internet para a imprensa internacional também não está pronta.
Valcke exigiu uma nova partida como teste definitivo.
A CBF teve de se submeter.
O Corinthians jogará contra o Botafogo dia 1º de junho.
O secretário reclamou muito com as pessoas que o acompanham.
Inclusive com Ronaldo.
Foi quando ex-jogador foi entrevistado na sexta-feira.
E saiu do papel que lhe cabia.
Não defendeu cegamente a Copa e o governo Dilma.
Pelo contrário.
Falou que o Brasil sabia que organizaria a Copa em 2007.
“E de repente chega aqui é essa burocracia toda, uma confusão, um disse me disse, são os atrasos. É uma pena. Eu me sinto envergonhado, porque é o meu país, o país que eu amo, e a gente não podia estar passando essa imagem para fora.”
O mundo repercutiu.
O embaixador da Copa de 2014 estava ‘envergonhado com os atrasos’.
Situação inédita na história dos Mundiais, assim como as manifestações.
Dilma e Aldo Rebelo já estavam se sentindo traídos por Ronaldo.
No dia 30 de abril ele acompanhou o jogo Cruzeiro e Cerro Porteño.
Pela tevê.
Fez questão de colocar a foto no seu instagram.
Caprichou na legenda.
“Deixando de ver o Timão por causa do meu grande amigo e futuro presidente do Brasil @aecionevesoficial que hoje como visita eu deixei ele escolher assistir o Cruzeiro! Vamos Timão e vamos Cruzeiro!”
Isso mesmo, com direito até a e-mail de Aécio.
Uma facada em Dilma, candidata à reeleição.
Ela decidiu se calar.
Mas não suportou a ‘vergonha pelo atraso na Copa’.
Respondeu duro ontem, em Brasília.
“Tenho certeza que nosso país fará a Copa das Copas. Tenho certeza da nossa capacidade, tenho certeza do que fizemos. Tenho orgulho das nossas realizações. Não temos por que nos envergonhar e não temos complexo de vira-latas.”
O ministro Aldo Rebelo também tinha de falar alguma coisa.
“A frase dita pelo Ronaldo, tomada de forma isolada, é um chute contra o próprio gol. Ele foi parte do grande esforço para construir a Copa do Mundo.”
Aí é que está a questão.
Por conhecer ‘tudo’ sobre o Mundial que vem a vergonha de Ronaldo.
O estrago já está feito.
Dilma sabe que Ronaldo está do lado de Aécio.
Tem um ‘inimigo’ na trincheira.
Poderosíssimo.
Porque daqui 18 dias começará o Mundial.
E ele terá o microfone da Globo à sua disposição.
Comentarista contratado dos jogos.
A reação do governo federal deverá ser a mesma com Marin.
Acabou a intimidade.
Tudo será mais frio, político apenas.
E enquanto a Copa durar.
Um rompimento drástico seria pior.
Teria consequências ainda mais danosas ao Mundial.
A reação de Dilma é exatamente a mesma de Andrés.
Se sente surpresa e traída.
Não há como reagir.
Mas o estrago já está feito.
O primeiro efeito colateral está nas redes sociais.
Começa a ser até elogiado.
Ou seja, está claro seu instinto de sobrevivência.
Como sempre se salvando do que está dando errado.
O ex-presidente do Corinthians e Ricardo Teixeira já sabiam.
Dilma Rousseff e Aldo Rebelo descobriram agora.
Ronaldo merece a alcunha que o consagrou.
É um Fenômeno…

PS do Viomundo: A capa-baboseira de Veja, que simula o desembarque de um Zé da Silva norte-americano no Brasil para ver como somos atrasados — feito constatou a Ellus –, mais a nova postura de Ronaldo, isso somado demonstra que a direita se organizou direitinho para a Copa sob Dilma: elogios à seleção de um país que não presta, que precisa urgentemente de um choque de vigor, de um novo centroavante, de sangue novo, etc. Talvez falem mal de Dilma apenas pontualmente, vão trabalhar a necessidade de mudança de acordo com certas características pessoais, que “coincidentemente” serão aquelas atribuídas depois a Aécio Neves, na campanha de televisão dos marqueteiros.
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