Por que o G1 tem que responder pelos comentários criminosos que publica
Tentei, como repórter, entender a política de comentários do G1.
Me chamou a atenção um comentário no qual uma pessoa dizia que já era hora de invadir a casa de Genoino e matar as pessoas.
Escrevi um texto antes de me lançar ao trabalho de repórter. Perguntei o básico: como um site podia permitir uma coisa delas, o que os acionistas da Globo pensavam sobre isso – e como anunciantes colocavam sua marca num produto frequentado por celerados, bárbaros, selvagens.
Este é um ponto que particularmente me intriga: a postura passiva dos anunciantes do G1. Um site, afinal, é os seus leitores, e os leitores do G1 são aqueles.
Num mundo menos imperfeito, os anunciantes rejeitam um portal como o G1 – e qualquer outro site que abrigue e incentive brasileiros desagregadores e, usemos a palavra justa, criminosos.
Não só isso. Neste mundo menos imperfeito, os cidadãos também rejeitam com a melhor arma que existe: o boicote. Cada clique dado ao G1 vai ajudar na venda de anúncios, posteriormente.
E claro, nesta utopia possível de que falo, a justiça já teria identificado e processado – exemplarmente – os meliantes digitais.
Bem, fiz meu papel de repórter.
Procurei o editor chefe do G1, Renato Franzini. Depois de inúmeros telefonemas, e só quem liga para a Globo sabe o caos que é tentar achar alguém lá, encaminharam minha chamada a Franzini.
Ele foi pego de surpresa, notei. Não havia uma secretaria de anteparo.
Me apresentei e disse o que queria saber: qual era a política de comentários do G1.
Franzini me pareceu desconcertado. “Justo pra mim esse cara vai telefonar”, ele deve ter pensado.
Ele titubeou e fugiu da resposta. Disse que só a Central Globo de Comunicação – uma espécie de RP da empresa – poderia dar a resposta.
Tentei.
“Somos jornalistas nós dois. Uma frase é tudo que eu quero. Nem que seja: nós não temos política de comentários.”
Ele estava desconfortável, talvez intimidado por mim – embora eu tenha sido delicado.
Mas nada.
Ele me passou o telefone da Central de Comunicação. Depois de mais uma minimarotona ao telefone, cheguei a uma das funcionárias do diretor Sérgio Valente.
Expliquei tudo de novo.
Ela não tinha nada a dizer naquele momento, por não saber qual era a política do G1.
Me orientou a escrever a pergunta num email e remeter a ela. Ela se informaria e me responderia.
Evidentemente, jamais recebi resposta.
Dias depois, veio o caso do ônibus, e os comentários assassinos no G1.
Alguma surpresa para mim? Nenhuma.
Fui integrante do Conselho Editorial das Organizações Globo, o Conedit, comandado por João Roberto Marinho. Alguns minutos numa reunião no Conedit e teria sido resolvida a questão dos comentários homicidas.
No DCM, fizemos isso em minutos, tempos atrás. Criamos regras de decência e civilidade. Quem as infringe não é publicado. Quem instila ódio é banido: não queremos leitores assim. Simplesmente não queremos.
Existem sistemas modernos de moderação que tornam a filtragem fácil: o nosso, o Disqus, é usado por grandes sites internacionais.
Vejo agora que a justiça enfim se movimentou, sob a comoção do achincalhe às vítimas do acidente, e decidiu pedir o IP dos internautas canalhas.
É um passo.
Mas outro tem que ser dado: incriminar também quem publica. E exemplarmente.
Imagino, candidamente, o que aconteceria na Inglaterra se a BBC publicasse um e apenas um comentário como os do G1.
Haveria uma comoção imediata na opinião pública.
O roteiro está dado. O cidadão, para exigir mudança, tem que agir com sua maior arma: boicote.
O anunciante tem que rejeitar sites lidos por facínoras.
E a justiça tem que cobrar não só quem produz comentários criminosos – mas quem os publica.
Isto feito, o universo digital brasileiro rapidamente se civilizará.
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