Por que Lula não quer ser candidato

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Ele fala o que quer
Ficou claro para mim agora por que Lula não quer ser candidato. Em que outra situação ele teria condição de falar o quem falado? De dar entrevista para quem quer?
Como candidato, ele teria amarras que hoje não tem. Isso significa que ele pode defender causas que julga importantes, como a regulamentação da mídia.
Nisso, ele está certíssimo.
O atual sistema de mídia é bom apenas para as grandes companhias de jornalismo e seus bilionários donos.
Não faz sentido que meia dúzia de famílias controlem tão amplamente a opinião pública. Elas defendem seus próprios interesses, e não os interesses públicos.
Para a sociedade, é um drama, é um pesadelo o atual estado de coisas na mídia.

Circula na internet uma primeira página do Globo de 1964, pré-golpe, em que o décimo-primeiro salário criado por Jango Goulart era tratado como “desastroso”.
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Isto é Globo
Isto é Globo
Desastroso para quem? Para Roberto Marinho, talvez. Mas para a sociedade? Esta é a noção de interesse público segundo as empresas de mídia brasileira.
Dizer que regular é censurar é uma falácia que não merece resposta e nem respeito. É o último refúgio da canalhice.
Todas as sociedades avançadas regulam a mídia – até porque se trata de empresas como todas as outras. Fazem notícias como outras fazem sabonete ou salsicha.
Na Dinamarca, as regras estipulam coisas como um direito de resposta imediato – e em espaço nobre – quando a mídia comete uma reconhecida injustiça.
No Brasil, isso não existe. Na Folha, se você tiver sorte, consegue um espacinho na seção “Erramos”. Na maior parte da mídia, nem isso.
Nenhum fiscal pode deixar de ser fiscalizado, e no Brasil a mídia age como se tivesse recebido o voto maciço dos brasileiros e, por isso, tivesse direitos imperiais.
Acompanhei de perto, na Inglaterra, a discussão sobre a regulamentação da mídia, depois do escândalo do tabloide News of the World, de Murdoch.
A premissa com a qual os ingleses trabalharam é que a auto-regulamentação da mídia fracassou. E olhe que estamos falando de empresas muito mais sérias, muito mais responsáveis e muito mais vigiadas que as brasileiras.
Nos Estados Unidos, você não pode ter tantas mídias como a Globo, por exemplo, porque isso acaba dando em monopólio.
A Globo pensa o que pensa, sabemos todos. E então seu pensamento é espalhado por jornais, telejornais, rádios, revistas e, agora, internet.
Você pega a essência do pensamento da Globo: Jabor. Ele está na TV Globo, no Globo, na CBN, no G1.
Melhor: onde ele não está?
Se não ele, Merval? Ou Míriam Leitão?
Há um claro abuso aí.
Este poder desmedido da mídia, se você olha para a história, deu em páginas sinistras.
Em 54, por exemplo, os jornais levaram Getúlio Vargas ao suicídio. O crime de GV: criou o voto secreto, o voto das mulheres, as leis trabalhistas, os alicerces da indústria nacional com empresas como Petrobras.
Alguma dúvida de que se trata do maior brasileiro da história?
O poder abusivo da mídia levou também, ao longo dos anos, a uma série incrível de mamatas que tornaram seus donos bilionários à base, essencialmente, do dinheiro público.
O dia em que a história dos financiamentos dos bancos oficiais vier à tona saberemos todos por que, com tanta inépcia, as empresas de mídia geraram famílias que estão no topo da lista de bilionárias da Forbes.
A mídia é um fator de inexcedível atraso para a sociedade, do jeito que ela é.
É, além do mais, o anticapitalismo disfarçado de capitalismo: as empresas de jornalismo gozam de uma absurda reserva de mercado.
O DCM luta por um Brasil escandinavo, como todos sabem. Nada mais antiescandinavo que a mídia que temos.
É bom ver Lula, com a influência que tem, pegar a bandeira da regulamentação.
Se ele fosse candidato, teria que ficar calado ou falar platitudes – como fazem Dilma, Aécio, Eduardo Campos etc etc
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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