Oposição à Dilma corre para montar palanque no RJ

Senador Aécio Neves ensaia uma aproximação com a ala dissidente do PMDB e acena com um possível apoio ao atual governador, Luiz Fernando Pezão.

Maurício Thuswohl
Arquivo

Rio de Janeiro – Enquanto a presidenta Dilma Rousseff ainda estuda a melhor forma de se dividir entre os palanques dos quatro candidatos de sua base aliada que disputarão o governo do Rio de Janeiro, os adversários de sua reeleição correm contra o tempo para definir alianças e montar palanques que permitam o contato direto com o eleitor fluminense. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ainda não se definiu entre o os deputados Alfredo Sirkis (PSB) e Miro Teixeira (PROS), em uma decisão que dependerá em maior grau da vontade de sua vice, Marina Silva, que hesita entre os dois aliados. Já o senador Aécio Neves, motivado pela falta de uma candidatura tucana competitiva no Rio e pelo bloqueio das negociações entre o PSDB e o DEM, que tem como pré-candidato ao governo o ex-prefeito Cesar Maia, ensaia uma aproximação com a ala dissidente do PMDB e acena com um possível apoio ao atual governador, Luiz Fernando Pezão.


Embora o próprio Pezão reitere o apoio à reeleição de Dilma, a eventual debandada de parte do PMDB do Rio em direção à candidatura de Aécio é possível graças ao seu descontentamento com a opção do PT de romper a aliança no estado, não apoiar o candidato peemedebista e lançar a candidatura própria do senador Lindbergh Farias ao Palácio Guanabara. Comandada pelo presidente regional do partido, Jorge Picciani, essa ala descontente do PMDB já até marcou data – 30 de maio – para oficializar em um ato público o seu rompimento com Dilma e o apoio ao candidato tucano. O ato foi marcado em abril, quando Picciani reuniu um grupo de cerca de 50 parlamentares e prefeitos do PMDB fluminense para um jantar em torno de Aécio: “Em maio vamos reunir duas mil pessoas para selar a aliança entre Pezão e Aécio”, diz o presidente da legenda.

A intenção declarada por Picciani é realizar o ato público antes da convenção nacional do PMDB, marcada para 10 de junho, de forma a fortalecer a posição pró-Aécio no partido. Em termos regionais, no entanto, trata-se de um passo político arriscado, pois por enquanto o apoio declarado ao tucano no Rio limita-se ao próprio PSDB e ao seu tradicional aliado PPS. Outros partidos da base de Pezão, como o PSD e o PP, ainda podem se aliar a Aécio graças à proximidade pessoal de seus líderes regionais – o secretário estadual do Ambiente, Índio da Costa, e o senador Francisco Dornelles – com o tucano. Por outro lado, partidos que manifestaram oficialmente apoio a Pezão, como o PDT, já afirmaram que sairão da aliança em caso de rompimento com Dilma.

Além de Picciani, outro entusiasta do rompimento com Dilma e do apoio a Aécio no Rio de Janeiro é o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Após ganhar projeção nacional por ter protagonizado diversos embates políticos com o governo federal nos últimos dois anos, Cunha tem se reunido desde março com a bancada do partido para tratar do apoio ao candidato tucano e esteve ao lado de Aécio nos atos de 1º de Maio. Personagem fundamental neste enredo, o ex-governador Sérgio Cabral não tem se manifestado publicamente nas últimas semanas e, ao menos oficialmente, apóia Dilma. O próprio Cabral, no entanto, foi o primeiro a levantar a possibilidade de aliança do PMDB fluminense com Aécio quando, ao criticar para a imprensa o eventual apoio de Dilma a Lindbergh no Rio, disse que gostaria de lembrar à presidenta que seu filho “também tinha Neves no nome”.

Bernardinho e Cesar

Antes de partir para o acordo com os descontentes do PMDB no Rio, o PSDB chegou a tentar articular um palanque próprio e forte no estado. Devido às poucas possibilidades de vitória dos principais nomes tucanos no Rio, como o deputado federal Otávio Leite e o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, a direção nacional do PSDB tentou convencer o técnico de vôlei Bernardinho, que é filiado ao partido, a se candidatar ao Palácio Guanabara. Após o início das negociações, que tiveram a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves chegou a declarar publicamente a possibilidade da candidatura de Bernardinho, mas o treinador desistiu da empreitada após conversas com a família e manifestou aos dirigentes tucanos a intenção de ser candidato somente em 2016, quando poderá disputar a prefeitura do Rio.

Uma vez descartada a opção por Bernardinho, Aécio passou a conversar com o DEM, mas a falta de crença na vitória do provável candidato demista ao governo estadual, Cesar Maia, e a não formalização de um acordo entre o partido e o PSDB em nível nacional estancaram as negociações. Além disso, o ex-prefeito do Rio é defensor de uma candidatura própria do DEM à Presidência da República, na figura do senador goiano Ronaldo Caiado.

Em todo caso, se o DEM se definir pelo apoio à candidatura do tucano à Presidência, o palanque de Cesar será o porto seguro de Aécio no Rio e uma garantia frente à possibilidade de a aliança com Pezão e o PMDB fracassar: “A única coisa certa é que eu serei candidato ao governo do estado”, diz Cesar, que atualmente ocupa cargo de vereador na capital, onde faz oposição ao prefeito Eduardo Paes, do PMDB.

Miro x Sirkis

Preocupada em definir o palanque de Eduardo Campos no Rio de Janeiro o quanto antes, a direção estadual do PSB fechou internamente apoio ao candidato do PROS ao governo estadual, o deputado federal Miro Teixeira, que foi um dos principais incentivadores da legalização da Rede, partido criado por Marina Silva e que não se legalizou a tempo para as próximas eleições. Em reuniões realizadas em abril entre dirigentes dos três partidos, ficou alinhavada a chapa de Miro ao Palácio Guanabara. Esta deverá contar com o ex-jogador e atual deputado Romário como candidato ao Senado e com um nome indicado pela Rede para vice-governador. Outro partido que pode se juntar no apoio a Miro é o PPS, caso Aécio feche mesmo um acordo com Pezão e o PMDB.

A aliança entre Campos e Miro somente ainda não foi anunciada oficialmente porque o deputado federal Alfredo Sirkis, que deixou o PV para apoiar Marina e ingressou antes dela no PSB, também deseja concorrer ao governo do Rio: “Fechar com o candidato de um partido como o PROS que, em nível nacional, apóia a reeleição de Dilma, é uma decisão precipitada. Acho que o PSB pode ter seu próprio candidato, e a decisão final do partido só acontecerá em junho”, diz Sirkis, que insiste em sua pré-candidatura. Instalado mais esse impasse na aliança PSB-Rede, caberá agora à Marina Silva definir qual será o palanque de Eduardo Campos no Rio.




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