O jogo do vice

 

Com Serra praticamente descartado, Aécio começa uma maratona de conversas para decidir quem será seu companheiro de chapa na disputa presidencial

Mário Simas Filho


Com a candidatura consolidada e com as pesquisas o apontando como alternativa real de poder, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ocupará boa parte dos próximos 20 dias para preparar uma das cartadas mais importantes da disputa eleitoral de 2014: a apresentação de quem será seu companheiro de chapa na sucessão presidencial. A escolha será oficializada em 14 de junho, na convenção nacional do PSDB, mas Aécio já sinalizou que pretende ter essa definição na primeira semana do mês. Entre os tucanos e aliados a disputa pelo posto está aberta e o pré-candidato dará início a uma maratona de conversas para buscar a maior convergência possível.
Oportunista, o ex-governador paulista José Serra se colocou na briga mesmo sem ser chamado. Escalou alguns líderes para tornar pública sua nova pretensão, passou a comparecer a alguns eventos ao lado de Aécio e, em conversas reservadas, posiciona-se como alguém capaz de assegurar a unidade do PSDB e de transferir ao mineiro um elevado número de votos em São Paulo, o maior colégio eleitoral do País. As investidas de Serra, no entanto, não têm encantado. As principais lideranças do PSDB avaliam reservadamente que a presença de Serra na chapa de Aécio traria mais problemas do que soluções. Serra é tido por boa parte dos tucanos como carta fora do baralho.
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“Esse assunto não chegou até mim”, desconversa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos principais entusiastas da candidatura de Aécio Neves, quando perguntado sobre o desejo de Serra. Nos encontros fechados, porém, o ex-presidente já se posicionou. Disse a pelo menos três interlocutores, na última semana, que Serra traria à chapa mais rejeição do que votos. Nessas conversas, FHC lembra que Serra foi derrotado em São Paulo, em 2012, pelo petista Fernando Haddad, um candidato que até então jamais disputara um voto. Além disso, pesquisas encomendadas pelo partido apontam que quase 50% dos entrevistados afirmam que não votariam no ex-governador de forma alguma. “Certamente uma candidatura de Serra a deputado federal é o melhor para ele e para o partido”, disse na quinta-feira 15, um ex-secretário com assento no Palácio dos Bandeirantes. “Ele ajudaria a eleger pelo menos quatro outros deputados.” Para Aécio, no entanto, não é tão fácil simplesmente descartar a possibilidade de Serra ser seu vice. O senador sabe que precisará entrar no campo com os tucanos de São Paulo unidos. Por isso, vem garantindo espaço no comando da campanha a vários paulistas e não descarta a hipótese de ter como vice o senador Aloysio Nunes, um dos principais interlocutores de Serra, além de cogitar a candidatura da deputada Mara Gabrilli, uma das maiores lideranças femininas do tucanato. “O que nós sentimos é que o vice será de São Paulo. O que existe de cristalizado é que a vitória de Aécio passa pela vitória em São Paulo”, diz o deputado Mendes Thame (PSDB-SP).
Apesar da convicção dos paulistas, Aécio ainda não está totalmente convencido de que o vice tenha que sair de São Paulo. Entre os nomes que avalia, está, por exemplo, a ex-presidente do STF, Ellen Gracie, que no ano passado filiou-se ao PSDB do Rio. Partidos aliados também estãono jogo, embora corram como azarões. Na terça-feira 13, depois de receber apoio do Solidariedade, Aécio recebeu também uma indicação: Miguel Torres, presidente da Força Sindical. “Trata-se de um bom nome. Vamos avaliar”, disse o mineiro Aécio.
Fotos: ELZA FIUZA AGENCIABRASIL-ABr; Pedro França; Gil Ferreira/SCO/STF

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