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Futebol: Horror!, horror!, horror!
José Roberto Torero
O
futebol brasileiro está sem beleza, sem arte. Houve uma ou outra
exceção, como a vitória do São Paulo sobre o Botafogo e a do Flamengo
sobre o Palmeiras
O título acima é uma frase de Macbeth, mas poderia ser de qualquer
comentarista esportivo que se vê obrigado a assistir os jogos do
Campeonato Brasileiro.
As partidas andam tão feias que os narradores já devem estar pensando em pedir adicional por insalubridade.
O
futebol brasileiro está sem beleza, sem arte. Houve uma ou outra
exceção, como a vitória do São Paulo sobre o Botafogo e a do Flamengo
sobre o Palmeiras. Mas mesmo estas partidas não foram exatamente
memoráveis. A verdade é que, dos trinta jogos disputados até agora, a
grande maioria foi feia de dar dó (de quem as assiste).
Os motivos para esta decadência são vários:
Calendário.
O Brasil não dá tempo aos clubes para que treinem, se preparem,
amadureçam. Os jogadores chegam das férias e já começam a jogar. Imagine
uma peça em que os atores não têm tempo para ensaiar. Há grande chance
de ser um fiasco, mesmo que os atores e os diretores sejam bons.
Êxodo:
Os melhores jogadores do Brasil não estão no Brasil. A mais provável
escalação da seleção tem apenas um jogador atuando no país: o
centroavante Fred. Todos os outros dez estão no exterior. Nove na Europa
e o goleiro Júlio César, no Canadá. Apesar do cofre dos clubes
brasileiros estar muito mais cheio do que nos últimos anos, os atletas
de sucesso que voltaram são, em geral, elefantes que voltam para morrer
no lugar em que nasceram.
Empresários: Eles diminuem a
meritocracia no futebol. Colocam nos clubes os jogadores que lhes
interessam, não necessariamente os melhores. Graças a uma extensa rede
de corrupção, medíocres acabam em clubes de ponta e boas promessas ficam
sem chances. Não é mais o melhor jogador que consegue um lugar ao sol. É
o que tem o empresário mais poderoso. Ou mais esperto.
Fim dos campinhos:
A diminuição dos campos de pelada espalhados pelas cidades vem
acontecendo há muitos anos, e cada vez mais sentiremos o efeito disso.
As escolinhas de futebol não conseguem fazer o que a várzea fazia. Além
de serem restritas à classe média, elas ensinam fundamentos, não
criatividade. Um jogador como Pelé, que aprendeu jogar nos campinhos
barrentos de Bauru, talvez não surgisse hoje.
Brucuturidade:
Inventei esta palavra para dizer que os jogadores estão deixando de ser
artistas e virando reles atletas. Eles são velozes, resistentes, marcam
muito, dão carrinhos e percorrem 10 km por jogo. Mas a habilidade fica
em segundo plano. Assim o futebol fica feio e burro. O jogador deveria
estar mais perto do bailarino que do atleta.
Bolso cheio:
Atualmente os jogadores têm menos sede de glória do que de dinheiro.
Como não têm profunda ligação com seus clubes, jogam mesmo é pelo
salário. E aí, quando conseguem uma poupança polpuda, param de perseguir
a perfeição. Eles não querem um lugar no Olimpo, querem uma conta nas
ilhas Seychelles. Não querem a imortalidade, mas uma Ferrari. E, quando
conseguem o que desejam, ficam desmotivados.
CBF: A
entidade não pensa o futebol. Apenas trata de ganhar dinheiro explorando
a seleção. E com Marco Polo del Nero nada mudará. É só olhar para o que
ele fez, e não fez, pelo futebol de São Paulo.
É claro que,
apesar desses sete motivos de atraso, vez ou outra aparecem pequenos
milagres, como Neymar. Mas a tendência é que sejam cada vez mais raros.
Pense
nos melhores jogadores de seu time nas décadas de setenta ou oitenta.
Há jogadores hoje em seu clube que cheguem perto deles? Acho difícil.
A decadência vem chegando como uma cinzenta nuvem de tempestade.
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