Dilma & Gianca
Me pedem a opinião sobre a visita de Giancarlo Civita, o Gianca, a Dilma.
Minha resposta cabe numa frase curta: perda de tempo.
Dilma, para a Veja, será sempre o “neurônio solitário”, como a chama Augusto Nunes, o gênio cosmopolita de Taquaritinga ganhador de Nobeis e Pulitzers.
Tive a fugaz esperança de que a Veja se modernizasse mentalmente depois da morte de Roberto Civita, com Gianca e seu irmão Titi, até pela idade.
Mas aconteceu o contrário. A revista conseguiu piorar.
Um exército de seguidores de Olavo de Carvalho tomou a revista: Rodrigo Constantino – quando darão o Nobel de Economia a ele? –, Felipe Moura Brasil e Lobão. Fora eles, a revista tem há tempo um filho espiritual de Olavo, Reinaldo Azevedo.
Olavo de Carvalho comanda hoje a Veja.
Seria mais útil, caso Dilma quisesse discutir questões de conteúdo – defender que tem mais de um neurônio, por exemplo –, chamar diretamente Olavo de Carvalho para uma conversa.
Com Gianca, se eu fosse Dilma, levaria a conversa para outra direção. Trataria de uma coisa chamada gratidão. Gratidão não com Dilma, não com o PT, mas com o Brasil.
O avô de Gianca, Victor Civita, era um ítalo-americano absolutamente inexpressivo quando, com mais de 40 anos, na década de 1950, veio tentar a sorte no Brasil.
Victor Civita veio para fazer gibis da Disney. Encontrou um país acolhedor para imigrantes como ele e fascinante para um candidato a empreendedor.
Fez gibis e depois revistas.
Jamais ele teria chance nos Estados Unidos, que abandonou para vir para o Brasil. Revistas nos Estados Unidos eram coisa para homens brilhantes como Henry Luce, que inventou a Time.
Mas o Brasil estava em construção, e Victor Civita pôde erguer – sem ser um editor como Luce, sem ter escrito um único artigo na vida – um império de mídia.
O Estado ajudou. A Abril obteve, como todas as empresas de mídia, múltiplos financiamentos do BNDES a taxas de juros maternais.
O dinheiro do contribuinte foi também transferido para a Abril, ao longo de muitos anos, por publicidade oficial que pagava tabela cheia quando todos os demais anunciantes já conseguiam expressivos descontos.
Para você entender: uma página dupla da Veja custava, para qualquer anunciante privado, x reais, ou cruzados, ou cruzeiros novos, ou o que fosse. Para o governo, custava duas ou três vezes mais.
Testemunhei isso em meus anos de executivo na mídia.
Com uma mistura de senso de oportunidade e mamatas, Victor Civita fez uma empresa tão grande que ele pode dividir em duas e dar uma fatia a cada filho – Roberto e Richard — no começo dos anos 1980.
O Brasil continuaria a mimar os Civitas. Quando a globalização se instalou no mundo e no Brasil, um dos raríssimos setores que continuaram a gozar de reserva de mercado foi a mídia.
Já escrevi algumas vezes que, numa defesa da Globo à reserva, foi dito que uma televisão chinesa poderia nos transformar em maoístas subversivos, caso o mercado fosse aberto e os chineses investissem em tevê.
Gianca e Titi nunca chegaram a trabalhar duro, e em certos momentos simplesmente não trabalharam. Mesmo assim, estão – como mostra a revista Forbes – entre os brasileiros mais ricos, com a morte de seu pai.
São cerca de 60 anos de Civitas no Brasil. Não sei exatamente o que deram em troca para o país, assim como não sei o que a Globo ou a Folha deram. (Tenho para mim que teriam lutado contra a desigualdade se tivessem uma missão que fosse além dos interesses privados.)
Mas todos sabemos o que o Brasil fez por eles.
E como o Brasil é tratado?
Se fizer uma arqueologia, leia o que escrevia sobre o país Diogo Mainardi. Se quiser ser atual, consulte Reinaldo Azevedo. O Brasil é a “Banânia”.
Sabemos todos quanto é deletério convencer uma pessoa de que ela é um horror. O mesmo vale para um país. Você não precisa inventar elogios para uma pessoa ou para um país. Mas também não precisa inventar insultos.
Penso que a única maneira de dar alguma utilidade a uma conversa com Gianca seria essa. Dilma poderia resumir seu encontro com Gianca numa única questão: “Caramba, Gianca, você conhece uma palavra chamada gratidão?”
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