Crescimento do PIB foi bom ou ruim? Foi as duas coisas, conforme se olhe.
Autor: Fernando Brito
Ontem, os EUA divulgaram o resultado do crescimento de seu produto interno bruto no primeiro trimestre: -1%, e ninguém duvida que, apesar disso, a economia americana esteja em um processo de recuperação. Foi o inverno, dizem.
Na área do Euro, contados os 18 países totalmente integrados, o crescimento foi de 0,2%, puxado pela Alemanha, a maior economia, que conseguiu subir 0,8%, enquanto França e Itália marcavam zero e -0,2%.
E o Brasil, deveria ter crescido mais fortemente? A resposta é sim e também é não.
É sim porque o Brasil precisa crescer economicamente em níveis significativos para corresponder ao seu tamanho no mundo e aos níveis de justiça social que os brasileiros esperam e merecem.
Mas a resposta é também não, porque a política econômica contracionista, com elevação aos juros, restrição ao crédito e ao consumo e aperto das contas públicas – tudo o que o Governo e o BC vem fazendo em busca de uma “freada” na inflação, alimentada por fatores climáticos, midiáticos e eleitorais.
Afinal, a taxa média de inflação do primeiro trimestre, anualizada, nos levaria bem perto do patamar de dois dígitos em inflação em 2014. E pior ainda porque a partir de índices crescentes em janeiro (0,55%), fevereiro (o,69%) e março (0,92).
Está claro que o governo desestimulou fortemente o consumo e o resultado é o corte inédito, nos últimos anos, do volume do consumo das famílias. Some a isso a pressão cambial (começamos o ano com aquela história dos “Cinco Frágeis” – lembra? e passamos praticamente todo o primeiro trimestre com o dálar acima de R$ 2,35) e tínhamos montado o cenário para a tal “tempestade perfeita”.
Bem, como as cerejas do bolo, coloquem-se aí a “crise energética”, com o “apagão daqui a pouco”, o desacerto das contas públicas (que iam entrar em colapso) e o desejo não disfarçado do mercado de complicar a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, e o caminho da economia estava pintado como um cenário de trem fantasma.
Exceto as governamentais, é claro que as decisões de investimento foram freadas por isso.
Embora seja cruel que o desempenho da economia do país fique sujeito a isso, talvez os estrategistas do caos tenham cometido um erro político, colocando na sala um bode fedorento demais.
Porque com tudo o que se descreveu, ainda assim, o PIB não veio negativo, como muitos esperavam, demonstrando que o país tem fôlego para crescer rápido.
Há um cenário de recuperação econômica – sim, lenta, mas há – no mundo.
Há demanda que se reprimiu aqui.
As travas da economia brasileira, neste momento, são essencialmente político-eleitorais.
É a economia fazendo a política.
Estupidamente.
PS. Peço desculpas para o ritmo mais lento das postagens hoje. É que, como o pessoal já está brincando aqui no Rio, sou uma das vítimas da gripe “Joaquim Barbosa”, aquela que impede a gente de trabalhar.
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