Até Ana Maria Braga sai em socorro de Alckmin na falta d'água
Alckmin: socorro da Globo para esconder crise de abastecimento de água é providencial |
por Helena Sthephanovitz
É curioso o tratamento diferenciado dado pela TV Globo para a crise de abastamento de água na grande São Paulo, sob a esfera de competência de um estadual governo tucano, de Geraldo Alckmin. Totalmente diferente do alarmismo e da politização que faz em torno do sistema elétrico, sob competência do governo federal petista.
A falta d'água em São Paulo é crítica, sentida pela população e empresas. Já há até multa – sob contestação na justiça – para quem não racionar de fato. E é tratada pela TV Globo como se a culpa fosse de São Pedro e do cidadão por supostamente desperdiçar água. Na linha editorial da emissora, nada se fala sobre a falta de investimentos e de planejamento da empresa estadual de águas, a Sabesp.
Na terça-feira (13), até o programa de variedades de Ana Maria Braga saiu em socorro do desgaste do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) abrindo com uma reportagem de dez minutos, fazendo campanha sóbria pelo racionamento "voluntário" de água, sem usar nenhum colar de tomates secos, como ela usou quando o preço do legume estava alto para criticar a inflação.
"Você já se antenou para a necessidade de não desperdiçar água? Parece uma conversa de tia chata... Ai, não gasta água! Mas a situação está calamitosa em São Paulo, em muitas cidades do interior e no Brasil (sic). A falta de chuva deixou os níveis dos reservatórios baixíssimos. A gente está vendo aí recordes históricos, mas recordes negativos", disse a apresentadora.
Depois, veio uma reportagem feita de helicóptero sobre o sistema de represas da Cantareira e descrevendo a "gambiarra" de bombear a água do chamado volume morto, que garante o abastecimento por um tempo limitado. O repórter encerra a participação dizendo que assim, segundo o governo paulista, "não haverá racionamento".
A apresentadora prosseguiu: "O governador Geraldo Alckmin tomou uma medida para evitar o desperdício. Você será multada... Para controlar este gasto da água... A multa foi criada para o morador que gastar mais do que a média atual da casa. Então, quem gastar acima da média, paga a conta 30% mais cara. Já os consumidores que conseguirem economizar 20% da conta receberão um desconto de 30% (...) Então, eu acho que é uma boa informação para os moradores de São Paulo. (...) Nessa hora, a gente tem que parar e pensar o que fazer para ajudar. Essa situação aflige agora... para ajudar o Estado de São Paulo, o pessoal de lá... Mas que você tem que entender que água é uma das coisas mais preciosas para a vida humana, né?"
E continua: "Para a vida no planeta como um todo. Então, se você não conscientizar que isso pode se estender para outras regiões do país... Que se fala que a água pode faltar neste planeta há muitos e muitos anos, mas a gente parece que não presta atenção. Fechando a torneira e o chuveiro durante algumas atividades diárias, a gente pode evitar o desperdício. (...) Apesar desta situação, o ministro das Minas e Energia, Édson Lobão, afirmou ontem, durante uma entrevista, que não há risco de falta de energia no país. Energia! E ainda descartou a necessidade de racionamento do consumo de energia em decorrência da estiagem do Sudeste. Segundo Lobão, desde 2003, a capacidade instalada de energia no país aumentou 73%, ao passo que o consumo cresce 51%. Nós vamos entender que energia é diferente de consumo de água, né? (...) Eu sugiro que nós, cidadãos, pensemos no futuro dos nossos filhos e dos nossos netos porque o planeta não é só para hoje, né?"
Uma ginástica e tanto misturar um problema localizado com o planeta e ainda incluir energia elétrica, onde não há medidas extraordinárias em curso, tais como multas extras.
Se o padrão da emissora fosse o de fazer sempre um jornalismo de serviços em momentos de anormalidade, seria mais compreensível, mas não é isso que vemos. O que se observa é que quando o governo é tucano há condescendência, poupando-o de cobranças de responsabilidades que possam levar a desgastes políticos. Quando o governo é petista, há a clara intenção de politizar, impor desgastes e apostar no quanto pior, melhor. Foi o caso do tomate, foi o caso do chamado "caos aéreo", em que havia plantão de repórteres nos aeroportos e a toda hora entravam no ar. Para fazer um jornalismo que não tivesse dois pesos e duas medidas, teria que tratar todos os casos da mesma forma.
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