As particularidades da eleição

Apesar da piora na avaliação da presidenta, a oposição permanece praticamente imóvel nas pesquisas eleitorais
Dilma
Apesar da redução das intenções de voto da presidenta, nenhum outro pré-candidato apresentou bom crescimento nas pesquisas. Na imagem, Dilma Rousseff em evento da Embraer, dia 20 de maio

Andamos um bom pedaço de 2014 e a eleição de outubro está a apenas quatro meses. Como a Copa do Mundo vai durar cerca de 60 dias (o período de realização somado a uma quinzena antes e outra depois), chegaremos a ela antes de nos darmos conta.
As últimas pesquisas mostraram queda na avaliação positiva do governo federal e redução nas intenções de voto na presidenta. Dilma Rousseff busca a reeleição e seu trabalho é escrutinado diariamente pelo eleitorado, que precisa decidir se ela merece permanecer no cargo. Os insatisfeitos querem sua saída.

Um de seus antecessores passou por algo parecido em momento análogo. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso tentava novo mandato, direito que adquiriu à custa de pesados “argumentos” e muitos “entendimentos” no Congresso.
A certa altura daquele ano, parecia ter feito péssimo negócio. No fim de maio, segundo dados do Datafolha, seu governo era aprovado por 31% dos entrevistados, o que se refletia nas intenções de voto: empatava com Lula e estava em queda, enquanto a trajetória do petista era de ascensão. Apesar do Plano Real ainda jovem, da maciça propaganda governamental e do apoio da mídia corporativa, FHC estava mal.
A propaganda eleitoral o salvou. Apresentou realizações que a população desconhecia (algo fácil para qualquer governante), repaginou-se como personagem (ficou mais simpático aos olhos do eleitorado que, com razão, o considerava “elitista”) e se aproveitou do criativo sloganinventado por seus marqueteiros: “O homem que derrotou a inflação vai derrotar o desemprego”. Nada havia de verdade na formulação, como a população logo descobriria, mas foi suficiente para despertar esperanças. Sem sonhos não se ganham eleições. Para uma coisa a experiência serviu: ensinou a todos como vencer em condições parecidas.
As pesquisas feitas desde o segundo semestre de 2013 mostram um quadro surpreendente. As candidaturas de oposição permanecem fundamentalmente imóveis, mesmo diante das oscilações negativas do governo e da presidenta. Uma característica inédita das eleições deste ano.
De setembro de 2013 para cá, Aécio Neves, do PSDB, foi de 20% para… 20%, com pequenas variações no intervalo. Ao longo de nove meses, mexeu-se um pouco para a frente, um pouco para trás, e acabou no mesmo lugar.
Eduardo Campos, do PSB, fez igual, embora em patamar inferior. No período, passou de 10% para… 10%. Ele e o tucano disputam o campeonato da estabilidade, ou, mais exatamente, do não crescimento.
É interessante comparar o ocorrido em 2002 e o cenário atual. Especialmente por aquela ter sido uma genuína eleição de mudança, como alguns pensam que esta será. Nela, inexistiu estagnação igual.
De janeiro a maio daquele ano, o tucano José Serra viu sua intenção de voto multiplicar-se por quatro. Estava com 7% e foi a 28%, segundo o Datafolha. Depois caiu, mais perto da eleição. Anthony Garotinho, então no PSB, foi de 11% a 22% e assumiu o segundo lugar, atrás apenas de Lula. Perdeu, porém, o posto. Ciro Gomes, à época no PPS, começou o ano em quarto, com menos de 10%, e suplantou seus competidores mais próximos em julho. Chegou em 30%, a encostar em Lula, para terminar aniquilado por Serra.
Todos, salvo Lula, eram “desconhecidos”, mas a cada janela de mídia partidária cresceram em saltos expressivos, reflexo dos movimentos de um eleitorado que ativamente buscava opções. Que queria conhecer os nomes de quem disputava a Presidência e se expunha à comunicação política.
No fundamental, as regras não mudaram desde aquele tempo e os candidatos têm hoje as mesmas oportunidades de acesso ao eleitor (se não forem maiores). Por que Aécio Neves, Eduardo Campos e os nanicos mal se mexem?
A imobilidade das candidaturas de oposição pode derivar da lamentável e tola campanha de descrédito do sistema político em curso, patrocinada pela mídia conservadora e seus heróis, alguns encastelados no Judiciário. Pode decorrer da desconfiança básica do eleitor popular em relação aos nomes oferecidos pela oposição. Pode derivar de uma parte do País estar em compasso de espera, aguardando os acontecimentos dos próximos dias, em particular a Copa do Mundo.
A eleição deste ano é de fato estranha,  a mais parada desde o fim da ditadura. Pela lógica, esse comportamento deve beneficiar quem representa a continuidade.
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