Amaury Ribeiro Jr.: Como funcionou a Privataria do futebol brasileiro
publicado em 16 de maio de 2014 às 22:39
Da Redação
O Lado Sujo do Futebol, da Editora Planeta, entre outras histórias conta a da privatização do futebol brasileiro. Primeiro por João Havelange, em seguida por Ricardo Teixeira, que Amaury Ribeiro Jr., autor deA Privataria Tucana, define como “o quarto irmão Marinho”. Isso porque, obviamente, a privataria do futebol serviu a gente poderosa: Roberto Marinho e os filhos, por exemplo.
A investigação foi um trabalho coletivo, assinado por Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet.
Abaixo, um aperitivo, conforme antecipado pelo blog do Juca:
Amigos íntimos
“Esse carro teve um desastre nos Estados Unidos. E faleceu uma pessoa que era muito querida minha.” – Ricardo Teixeira
O caminho que nos leva até a fonte do mistério corta os pântanos da Flórida, nos Estados Unidos. Nossa viagem vai de norte a sul, de Orlando a Miami. Paramos para abastecer. O bando de corvos que cerca a lanchonete anexa ao posto de gasolina dá um ar surreal à nossa missão, que faz lembrar os contos cavernosos de Edgar Allan Poe. Mas o nosso objetivo é justamente separar ficção de realidade. Estamos atrás da verdade escondida no acidente que pode ter mudado a história do futebol mundial.
Na saída 193, fazemos o retorno na Florida Turnpike e ajustamos o contador de quilometragem. Após 26 quilômetros, paramos no acostamento, no ponto exato indicado por um boletim de ocorrência em nossas mãos. Um carro da polícia rodoviária para em seguida. Educado, o policial nos adverte que só se pode estacionar ali em casos de emergência. Explicamos o motivo de nossa presença. “Façam o que for preciso e saiam depressa.”
Abaixo, um aperitivo, conforme antecipado pelo blog do Juca:
Amigos íntimos
“Esse carro teve um desastre nos Estados Unidos. E faleceu uma pessoa que era muito querida minha.” – Ricardo Teixeira
O caminho que nos leva até a fonte do mistério corta os pântanos da Flórida, nos Estados Unidos. Nossa viagem vai de norte a sul, de Orlando a Miami. Paramos para abastecer. O bando de corvos que cerca a lanchonete anexa ao posto de gasolina dá um ar surreal à nossa missão, que faz lembrar os contos cavernosos de Edgar Allan Poe. Mas o nosso objetivo é justamente separar ficção de realidade. Estamos atrás da verdade escondida no acidente que pode ter mudado a história do futebol mundial.
Na saída 193, fazemos o retorno na Florida Turnpike e ajustamos o contador de quilometragem. Após 26 quilômetros, paramos no acostamento, no ponto exato indicado por um boletim de ocorrência em nossas mãos. Um carro da polícia rodoviária para em seguida. Educado, o policial nos adverte que só se pode estacionar ali em casos de emergência. Explicamos o motivo de nossa presença. “Façam o que for preciso e saiam depressa.”
Um de nós já está dentro da mata. Seus gritos fazem mais barulho que o motor da viatura policial que arrancava dali. No meio da lama, peças antigas de um automóvel – um friso de plástico, um pedaço de para‐choque. Coincidência ou não, aqueles pedaços de carro nos enfiam num túnel do tempo. Voltamos a outubro de 1995, uma sexta‐feira 13.
Passava pouco da meia‐noite quando um luxuoso BMW preto cortava em alta velocidade a Turnpike. Com o pé firme no acelerador, uma bela jovem carioca, morena, esguia, cabelos lisos escuros, sobrancelhas arqueadas. Adriane usava colares, pulseiras e anéis dourados. Estava acompanhada por Lorice, a quem havia buscado no Hotel Marriot, em Boca Raton.
Era uma noite típica dos outonos no Estado do Raio de Sol, lema oficial da Flórida: 25 graus, céu limpo. Numa fração de segundos, o carro se desgovernou a mais de 160 km/h. Rodopiou, capotou e caiu em um lago. A jovem morena ficou presa nas ferragens. A amiga, ferida, foi retirada do veículo por motoristas que pararam no local. Adriane de Almeida Cabete, de 23 anos, morreu afogada na madrugada daquela sexta‐feira. O acidente encerrou o conto de fadas que ela começara a viver meses antes no Brasil.
A maior parte desse conto de fadas havia se passado na Flórida, terra dos parques de diversão da Disney, em Orlando. Uma das principais atrações por lá é o Castelo da Cinderela, cópia do original de Neuschwanstein, na Alemanha, cenário da história da moça pobre que uma fada‐madrinha transforma em princesa. Para a estudante Adriane, nascida e criada perto do morro do Alemão, subúrbio do Rio de Janeiro, o condomínio de luxo Clube do Polo, em Delray Beach – de onde ela teria saído pilotando sua carruagem conversível –, era a materialização de um castelo. Na fábula, o encanto de Cinderela se quebra à meia‐noite.
O acidente que transformou em abóbora o mundo de Adriane ocorreu aos seis minutos da madrugada. Na história infantil, o sapato de cristal perdido por Cinderela ao descer correndo a escadaria do palácio do baile real leva até a moça o príncipe do final feliz. Na história de Adriane, o conversível puxa o fio da meada deste livro‐reportagem: o veículo estava em nome de Ricardo Teixeira – à época, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dono do futebol brasileiro então tetracampeão mundial e casado com Lúcia Havelange, filha do na época todo‐poderoso presidente da Fifa, João Havelange.
Passava pouco da meia‐noite quando um luxuoso BMW preto cortava em alta velocidade a Turnpike. Com o pé firme no acelerador, uma bela jovem carioca, morena, esguia, cabelos lisos escuros, sobrancelhas arqueadas. Adriane usava colares, pulseiras e anéis dourados. Estava acompanhada por Lorice, a quem havia buscado no Hotel Marriot, em Boca Raton.
Era uma noite típica dos outonos no Estado do Raio de Sol, lema oficial da Flórida: 25 graus, céu limpo. Numa fração de segundos, o carro se desgovernou a mais de 160 km/h. Rodopiou, capotou e caiu em um lago. A jovem morena ficou presa nas ferragens. A amiga, ferida, foi retirada do veículo por motoristas que pararam no local. Adriane de Almeida Cabete, de 23 anos, morreu afogada na madrugada daquela sexta‐feira. O acidente encerrou o conto de fadas que ela começara a viver meses antes no Brasil.
A maior parte desse conto de fadas havia se passado na Flórida, terra dos parques de diversão da Disney, em Orlando. Uma das principais atrações por lá é o Castelo da Cinderela, cópia do original de Neuschwanstein, na Alemanha, cenário da história da moça pobre que uma fada‐madrinha transforma em princesa. Para a estudante Adriane, nascida e criada perto do morro do Alemão, subúrbio do Rio de Janeiro, o condomínio de luxo Clube do Polo, em Delray Beach – de onde ela teria saído pilotando sua carruagem conversível –, era a materialização de um castelo. Na fábula, o encanto de Cinderela se quebra à meia‐noite.
O acidente que transformou em abóbora o mundo de Adriane ocorreu aos seis minutos da madrugada. Na história infantil, o sapato de cristal perdido por Cinderela ao descer correndo a escadaria do palácio do baile real leva até a moça o príncipe do final feliz. Na história de Adriane, o conversível puxa o fio da meada deste livro‐reportagem: o veículo estava em nome de Ricardo Teixeira – à época, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dono do futebol brasileiro então tetracampeão mundial e casado com Lúcia Havelange, filha do na época todo‐poderoso presidente da Fifa, João Havelange.
Um eventual relacionamento de Ricardo Teixeira com Adriane, 35 anos mais nova que ele, seria uma questão privada se não houvesse no caso detalhes intrigantes. Lorice Sad Abuzaid, a amiga de Adriane, era na data do acidente empregada de Wagner José Abrahão, empresário de turismo, parceiro de negócios de Ricardo Teixeira e beneficiário de contratos suspeitos com a CBF. Desde 1995, as contas bancárias de Lorice, Wagner e Ricardo Teixeira só aumentaram. E, pelas revelações a serem feitas neste livro, vão crescer ainda mais com a Copa do Mundo do Brasil em 2014.
Adriane é apontada como pivô da separação do cartola e Lúcia Havelange e do estremecimento com o sogro que o havia lançado e protegido no futebol. O objetivo desta reportagem é separar boatos da realidade e responder perguntas que o episódio levanta. São questões de interesse público e não de vida privada. A investigação, como se verá, traz à luz uma rede de conexões, irregularidades e indícios que, embora tenham ocorrido na paisagem ensolarada de Miami, são de fato bastante sombrios.
*****
“Isso é um assunto pessoal. Vocês não têm autorização para falar sobre isso. Minha mãe e doutor Ricardo Teixeira estão afinados para processar vocês”, ameaçou por telefone, aos gritos, a advogada Yolanda, filha de Lorice, ao ser questionada por nós.
Adriane é apontada como pivô da separação do cartola e Lúcia Havelange e do estremecimento com o sogro que o havia lançado e protegido no futebol. O objetivo desta reportagem é separar boatos da realidade e responder perguntas que o episódio levanta. São questões de interesse público e não de vida privada. A investigação, como se verá, traz à luz uma rede de conexões, irregularidades e indícios que, embora tenham ocorrido na paisagem ensolarada de Miami, são de fato bastante sombrios.
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“Isso é um assunto pessoal. Vocês não têm autorização para falar sobre isso. Minha mãe e doutor Ricardo Teixeira estão afinados para processar vocês”, ameaçou por telefone, aos gritos, a advogada Yolanda, filha de Lorice, ao ser questionada por nós.
No final de 2013, documentos disponíveis na Junta Comercial do Rio de Janeiro, em repartições e cartórios públicos provavam que Yolanda está equivocada. O acidente não é assunto meramente pessoal. Ao contrário: desvenda o envolvimento do ex‐presidente da CBF com Wagner José Abrahão, um dos principais beneficiários dos negócios envolvendo CBF e Fifa em torno da Copa do Mundo no Brasil.
Os documentos mostram que, na época do acidente, Lorice, a sobrevivente, já era funcionária de Abrahão. Foi ela também quem arranjou trabalhos esporádicos para Adriane na agência de viagens contratada pela CBF. Esses primeiros contatos foram fundamentais para que a jovem frequentasse o mundo de Teixeira em Miami.
Com exceção da família de Adriane, que vive ainda no mesmo apartamento humilde na zona norte do Rio, as demais pessoas ligadas ao acidente enriqueceram, e muito, nas últimas duas décadas. Lorice era uma simples funcionária de uma das empresas de Abrahão, dono da agência contratada para organizar as viagens da seleção brasileira e dos dirigentes da CBF (inclusive na Copa de 1994, que acontecera no ano anterior, nos Estados Unidos). Na ocasião, aos 40 anos, morava com o marido, um advogado trabalhista. Os dois dividiam um apartamento de classe média no centro de Niterói.
No ano da Copa no Brasil, Lorice – vítima e testemunha do acidente – é ex‐sócia de Abrahão, que, por sua vez, tem negócios nem sempre claros com Ricardo Teixeira. Abrahão, dono do Grupo Águia, dividiu com outra empresa, a Traffic (de J. Hawilla, amigo pessoal do cartola), o direito de comercialização dos pacotes de “hospitality” (os ingressos VIPs) da Copa de 2014, uma das partes mais lucrativas do evento. A previsão era de que o negócio chegaria a quase R$ 1 bilhão somente com a venda dos 210 mil pacotes para o mercado brasileiro. Não é difícil adivinhar quem ajudou Abrahão na jogada: Ricardo Teixeira.
Divorciada, a hoje gerente de viagens Lorice deixou o apartamento de Niterói e vive com a filha Yolanda em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Investe em imóveis no bairro. É fã de Ronaldo Fenômeno, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Neymar. Admiradora da seleção brasileira, tornou‐se vizinha de artistas e jogadores de futebol. Como o círculo de amizades, também a aparência mudou substancialmente. Aos 60 anos, em lugar da pele pálida da época do acidente, Lorice exibe corpo bronzeado e vestidos de grife. Apesar dos quase 20 anos decorridos da tragédia, aparenta estar mais jovem. “Em terra em que leoa reina, cachorra nenhuma põe a pata”, postou recentemente na rede social Facebook. Ilustra a frase a foto de um sapato de salto alto vermelho e preto, cores do Flamengo – time de seu coração, assim como de Ricardo Teixeira.
Os documentos mostram que, na época do acidente, Lorice, a sobrevivente, já era funcionária de Abrahão. Foi ela também quem arranjou trabalhos esporádicos para Adriane na agência de viagens contratada pela CBF. Esses primeiros contatos foram fundamentais para que a jovem frequentasse o mundo de Teixeira em Miami.
Com exceção da família de Adriane, que vive ainda no mesmo apartamento humilde na zona norte do Rio, as demais pessoas ligadas ao acidente enriqueceram, e muito, nas últimas duas décadas. Lorice era uma simples funcionária de uma das empresas de Abrahão, dono da agência contratada para organizar as viagens da seleção brasileira e dos dirigentes da CBF (inclusive na Copa de 1994, que acontecera no ano anterior, nos Estados Unidos). Na ocasião, aos 40 anos, morava com o marido, um advogado trabalhista. Os dois dividiam um apartamento de classe média no centro de Niterói.
No ano da Copa no Brasil, Lorice – vítima e testemunha do acidente – é ex‐sócia de Abrahão, que, por sua vez, tem negócios nem sempre claros com Ricardo Teixeira. Abrahão, dono do Grupo Águia, dividiu com outra empresa, a Traffic (de J. Hawilla, amigo pessoal do cartola), o direito de comercialização dos pacotes de “hospitality” (os ingressos VIPs) da Copa de 2014, uma das partes mais lucrativas do evento. A previsão era de que o negócio chegaria a quase R$ 1 bilhão somente com a venda dos 210 mil pacotes para o mercado brasileiro. Não é difícil adivinhar quem ajudou Abrahão na jogada: Ricardo Teixeira.
Divorciada, a hoje gerente de viagens Lorice deixou o apartamento de Niterói e vive com a filha Yolanda em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Investe em imóveis no bairro. É fã de Ronaldo Fenômeno, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Neymar. Admiradora da seleção brasileira, tornou‐se vizinha de artistas e jogadores de futebol. Como o círculo de amizades, também a aparência mudou substancialmente. Aos 60 anos, em lugar da pele pálida da época do acidente, Lorice exibe corpo bronzeado e vestidos de grife. Apesar dos quase 20 anos decorridos da tragédia, aparenta estar mais jovem. “Em terra em que leoa reina, cachorra nenhuma põe a pata”, postou recentemente na rede social Facebook. Ilustra a frase a foto de um sapato de salto alto vermelho e preto, cores do Flamengo – time de seu coração, assim como de Ricardo Teixeira.
O momento que fez Lorice se sentir a rainha da floresta aconteceu em 12 de maio de 1999. Três anos e sete meses após o acidente, ela se tornou sócia e gerente em uma das empresas de turismo de Abrahão no Rio, a RM Freire Viagens e Turismo Ltda.
De acordo com a Junta Comercial do Rio de Janeiro, o empresário recorreu a um artifício para camuflar a sociedade com a ex‐funcionária. Em vez de entrar na companhia como pessoa física, usou duas firmas de sua propriedade para ingressar no quadro societário da RM: a Iron Tour Operadora Turística Ltda. e a Thathithas Empreendimentos e Participações Ltda. Lorice deixou o quadro da empresa em outubro de 2000. A agência passou a ser administrada pelo próprio Abrahão. Mas a agente de viagens continua no Grupo Águia. Despacha diariamente na Barra da Tijuca, onde se tornou uma das principais executivas da empresa.
Quanto a Wagner Abrahão, patrão e ex‐sócio de Lorice, ele se deu muito bem com a Copa de 2014. A expectativa era que ele faturasse cerca de meio bilhão de reais com o torneio. É uma grande fatia do bolo de turismo da Copa – bolo que, de acordo com estimativas talvez um tanto exageradas do Ministério do Esporte, divulgadas em 2010, movimentará R$ 9,4 bilhões durante o Mun‐ dial. Mais de 40% trazidos por turistas estrangeiros.
De acordo com a Junta Comercial do Rio de Janeiro, o empresário recorreu a um artifício para camuflar a sociedade com a ex‐funcionária. Em vez de entrar na companhia como pessoa física, usou duas firmas de sua propriedade para ingressar no quadro societário da RM: a Iron Tour Operadora Turística Ltda. e a Thathithas Empreendimentos e Participações Ltda. Lorice deixou o quadro da empresa em outubro de 2000. A agência passou a ser administrada pelo próprio Abrahão. Mas a agente de viagens continua no Grupo Águia. Despacha diariamente na Barra da Tijuca, onde se tornou uma das principais executivas da empresa.
Quanto a Wagner Abrahão, patrão e ex‐sócio de Lorice, ele se deu muito bem com a Copa de 2014. A expectativa era que ele faturasse cerca de meio bilhão de reais com o torneio. É uma grande fatia do bolo de turismo da Copa – bolo que, de acordo com estimativas talvez um tanto exageradas do Ministério do Esporte, divulgadas em 2010, movimentará R$ 9,4 bilhões durante o Mun‐ dial. Mais de 40% trazidos por turistas estrangeiros.
O amigo de Teixeira, no entanto, não se satisfez. Quatro agências de turismo do Grupo Águia foram indicadas pela CBF para operar o contrato de publicidade da entidade com a TAM: a Pallas Operadora de Turismo Ltda., a Top Service Turismo Ltda., a One Travel Turismo Ltda. e a Iron Tour Operadora Turística Ltda. Lembra dessa última? É a mesma agência que foi sócia de Lorice na RM Freire Viagens e Turismo Ltda. De acordo com o contrato assinado por Teixeira antes de deixar a CBF, a TAM pagava US$ 7 milhões por ano para patrocinar a seleção brasileira, uma bolada que era depositada mensalmente na conta de uma das quatro agências. (Em 2013, o sucessor de Ricardo Teixeira na CBF, José Maria Marin, quebrou esse esquema para montar o próprio: assinou com a Gol.)
O sucesso de Abrahão no ramo do turismo é antigo. Nasceu nos anos 70, com a Stella Barros, uma das pioneiras na venda de pacotes de viagens para a Disney. Mas os negócios do grupo ace‐ leraram mesmo foi na relação com o futebol. Paulista, Abrahão, que sempre trabalhou no Rio, firmou‐se no mercado de turismo esportivo na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. A trajetória de suas empresas nesses mais de 30 anos foi marcada por denúncias de fraude e polêmicas.
Em 1994, na Copa dos Estados Unidos, a empresa já era a agência oficial da CBF, contratada sem concorrência para organizar as viagens da seleção brasileira e dos dirigentes, sob o nome SBTR Passagens e Turismo Ltda. Na Copa da França, em 1998, o grupo foi acusado de lesar os torcedores. Apesar de comprarem ingressos com meses de antecedência, os clientes de Abrahão tiveram que assistir à final, entre Brasil e a seleção da casa, do lado de fora do Stade de France. O empresário foi processado e teve de pagar fiança para deixar o país.
Na Copa da Alemanha, oito anos depois, foi acusado de outra ilegalidade: obrigar os turistas a comprar ingressos dos jogos casados com pacotes turísticos. Ele e Ricardo Teixeira foram denunciados pelo Ministério Público e processados por crimes contra a ordem econômica e as relações de consumo, pela venda casada. Para os promotores, Teixeira deu vantagens indevidas à Iron Tour, de Abrahão, a única autorizada pela CBF a vender os ingressos. Em janeiro de 2007, porém, a Justiça absolveu a dupla. Alegou‐se que o Ministério Público não apresentou nenhuma prova de que outra empresa havia se interessado pelos pacotes.
O sucesso de Abrahão no ramo do turismo é antigo. Nasceu nos anos 70, com a Stella Barros, uma das pioneiras na venda de pacotes de viagens para a Disney. Mas os negócios do grupo ace‐ leraram mesmo foi na relação com o futebol. Paulista, Abrahão, que sempre trabalhou no Rio, firmou‐se no mercado de turismo esportivo na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. A trajetória de suas empresas nesses mais de 30 anos foi marcada por denúncias de fraude e polêmicas.
Em 1994, na Copa dos Estados Unidos, a empresa já era a agência oficial da CBF, contratada sem concorrência para organizar as viagens da seleção brasileira e dos dirigentes, sob o nome SBTR Passagens e Turismo Ltda. Na Copa da França, em 1998, o grupo foi acusado de lesar os torcedores. Apesar de comprarem ingressos com meses de antecedência, os clientes de Abrahão tiveram que assistir à final, entre Brasil e a seleção da casa, do lado de fora do Stade de France. O empresário foi processado e teve de pagar fiança para deixar o país.
Na Copa da Alemanha, oito anos depois, foi acusado de outra ilegalidade: obrigar os turistas a comprar ingressos dos jogos casados com pacotes turísticos. Ele e Ricardo Teixeira foram denunciados pelo Ministério Público e processados por crimes contra a ordem econômica e as relações de consumo, pela venda casada. Para os promotores, Teixeira deu vantagens indevidas à Iron Tour, de Abrahão, a única autorizada pela CBF a vender os ingressos. Em janeiro de 2007, porém, a Justiça absolveu a dupla. Alegou‐se que o Ministério Público não apresentou nenhuma prova de que outra empresa havia se interessado pelos pacotes.
Em 2000 e 2001, uma das agências de Abrahão, a Stella Barros, foi investigada pela CPI da Nike. Em apenas dois anos, entre 1998 e 2000, a SBTR recebeu da CBF R$ 31.104.293,89, quase três vezes mais que as 27 federações ligadas à entidade. Segundo o relatório da comissão, a agência, que operava para a CBF, teria montado esquema de lavagem de dinheiro por meio de superfaturamento de passagens aéreas e diárias de hotéis.
À CPI, Ricardo Teixeira tentou minimizar sua relação com Abrahão. Disse que, ao assumir a CBF, apenas manteve uma empresa que já prestava serviços à entidade e que tinha sido uma decisão “da diretoria”. Na ocasião, o deputado Dr. Rosinha pensou alto: “Há uma suspeita minha, pelo menos, que a Stella Barros está servindo como um dos caminhos de desvio de dinheiro da CBF”. Mas a CPI não foi além das suspeitas. O relacionamento seguiu íntimo e lucrativo. Sobrevive até hoje, com as operações milionárias da Copa no Brasil. Os segredos da Flórida, pelo jeito, ainda movimentam muito dinheiro.
Uma parcela desse dinheiro parece esconder‐se em transações imobiliárias favorecendo Ricardo Teixeira. Apesar de ter acumulado um patrimônio considerável nos 23 anos em que esteve no comando da CBF (1989‐2012), o dirigente também recebe agrados do amigo Abrahão. Em 2011, a apuração da série de reportagens sobre a Máfia do Futebol exibida pela TV Record revelou que, em escritura lavrada no 9o Cartório de Registro de Imóveis do Rio de Janeiro, Cláudio Abrahão – irmão e sócio de Wagner Abrahão no Grupo Águia – vendeu para o cartola uma cobertura na Barra da Tijuca, em 2009, por R$ 720 mil. É o mesmo valor que o empresário havia pago pelo imóvel cinco anos antes. Só que, na escritura, Cláudio lançou o valor de R$ 2 milhões para a base de cálculo do imposto. Na época, corretores da região avaliaram o imóvel em pelo menos R$ 4 milhões.
À CPI, Ricardo Teixeira tentou minimizar sua relação com Abrahão. Disse que, ao assumir a CBF, apenas manteve uma empresa que já prestava serviços à entidade e que tinha sido uma decisão “da diretoria”. Na ocasião, o deputado Dr. Rosinha pensou alto: “Há uma suspeita minha, pelo menos, que a Stella Barros está servindo como um dos caminhos de desvio de dinheiro da CBF”. Mas a CPI não foi além das suspeitas. O relacionamento seguiu íntimo e lucrativo. Sobrevive até hoje, com as operações milionárias da Copa no Brasil. Os segredos da Flórida, pelo jeito, ainda movimentam muito dinheiro.
Uma parcela desse dinheiro parece esconder‐se em transações imobiliárias favorecendo Ricardo Teixeira. Apesar de ter acumulado um patrimônio considerável nos 23 anos em que esteve no comando da CBF (1989‐2012), o dirigente também recebe agrados do amigo Abrahão. Em 2011, a apuração da série de reportagens sobre a Máfia do Futebol exibida pela TV Record revelou que, em escritura lavrada no 9o Cartório de Registro de Imóveis do Rio de Janeiro, Cláudio Abrahão – irmão e sócio de Wagner Abrahão no Grupo Águia – vendeu para o cartola uma cobertura na Barra da Tijuca, em 2009, por R$ 720 mil. É o mesmo valor que o empresário havia pago pelo imóvel cinco anos antes. Só que, na escritura, Cláudio lançou o valor de R$ 2 milhões para a base de cálculo do imposto. Na época, corretores da região avaliaram o imóvel em pelo menos R$ 4 milhões.
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Amaury com o pedaço de um automóvel encontrado exatamente onde se acidentou a amiga de Ricardo Teixeira, na Flórida. O friso estava enterrado na lama na mata além do acostamento. (Fotos Luiz Carlos Azenha)
A cobertura mais que subfaturada não é o único rolo imobiliário de Ricardo Teixeira. Situação bem semelhante se repete no contrato do aluguel da mansão do cartola no condomínio Polo Club, em Del‐ ray Beach, ao norte de Miami, como revelaremos adiante. O cartola frequentava o lugar até 2013.
Foi desse condomínio que Adriane, a amiga “muito querida” de Teixeira, teria partido para a morte no BMW preto conversível na noite de 12 de outubro de 1995. Estivemos na mansão, em janeiro de 2014, atrás de documentos e indícios do acidente em torno do qual giram as relações nebulosas entre Teixeira, Lorice e os irmãos Abrahão.
Na mesma viagem, conhecemos a State Road 91, ou Florida Turnpike, local da tragédia. Comparada às estradas brasileiras, a Turnpike é bastante segura. Com quatro pistas, duas de cada lado, possui boa drenagem e amplos acostamentos. Não se nota nenhuma falha ou buraco na pista. Vigilantes atentos fazem rondas em todos os trechos da rodovia. Basta um veículo encostar e em menos de cinco minutos um xerife se aproxima em carro oficial ou camuflado, como aconteceu conosco.
Bandos de corvos se amontoam sobre placas de sinalização. Embora tenham penas negras brilhantes e um grasnido muito semelhante ao das gaivotas, nos Estados Unidos esses pássaros são consi‐ derados um mau presságio. Mais impressionantes que as aves soturnas são os outdoors com fotos de advogados ao longo do trajeto. Sem nenhum constrangimento, eles se oferecem para processar o Estado da Flórida em caso de acidente na pista da morte.
Amaury com o pedaço de um automóvel encontrado exatamente onde se acidentou a amiga de Ricardo Teixeira, na Flórida. O friso estava enterrado na lama na mata além do acostamento. (Fotos Luiz Carlos Azenha)
A cobertura mais que subfaturada não é o único rolo imobiliário de Ricardo Teixeira. Situação bem semelhante se repete no contrato do aluguel da mansão do cartola no condomínio Polo Club, em Del‐ ray Beach, ao norte de Miami, como revelaremos adiante. O cartola frequentava o lugar até 2013.
Foi desse condomínio que Adriane, a amiga “muito querida” de Teixeira, teria partido para a morte no BMW preto conversível na noite de 12 de outubro de 1995. Estivemos na mansão, em janeiro de 2014, atrás de documentos e indícios do acidente em torno do qual giram as relações nebulosas entre Teixeira, Lorice e os irmãos Abrahão.
Na mesma viagem, conhecemos a State Road 91, ou Florida Turnpike, local da tragédia. Comparada às estradas brasileiras, a Turnpike é bastante segura. Com quatro pistas, duas de cada lado, possui boa drenagem e amplos acostamentos. Não se nota nenhuma falha ou buraco na pista. Vigilantes atentos fazem rondas em todos os trechos da rodovia. Basta um veículo encostar e em menos de cinco minutos um xerife se aproxima em carro oficial ou camuflado, como aconteceu conosco.
Bandos de corvos se amontoam sobre placas de sinalização. Embora tenham penas negras brilhantes e um grasnido muito semelhante ao das gaivotas, nos Estados Unidos esses pássaros são consi‐ derados um mau presságio. Mais impressionantes que as aves soturnas são os outdoors com fotos de advogados ao longo do trajeto. Sem nenhum constrangimento, eles se oferecem para processar o Estado da Flórida em caso de acidente na pista da morte.
No trecho em que se acidentou, Adriane enfrentou algumas curvas suaves – e só. O lugar de onde ela saiu da pista é no meio de uma longa reta, tornando improvável que tenha perdido o controle por causa da velocidade. Na noite da tragédia, a pista estava seca. De acordo com o laudo assinado pelo cabo Fredrick Brown, da Polícia Rodoviária da Flórida, encarregado da investigação 795.68.23, Adriane seguia na pista interna, rumo a Orlando, quando freou bruscamente e desviou para a direita, por motivo ignorado. O carro atravessou o acostamento e começou a rodopiar num gramado ao lado da rodovia. Capotou uma vez e meia e caiu de cabeça para baixo dentro de um lago, que hoje está seco. Resta uma imensa poça de lama. No acostamento, brotou um jardim natural de flores amarelas e lilases.
Testemunhas que passavam pelo mesmo trecho da rodovia disseram que o BMW dirigido por Adriane viajava a mais de 160 km/h. Uma delas, Michael Lyons, afirmou ter visto uma pequena nuvem de fumaça ou poeira saindo do lado esquerdo do conversível antes do acidente. Outro motorista, Mike Gonzalez, disse que o carro dirigido pela brasileira viajava em alta velocidade, com as luzes desligadas. Segundo a perícia, a primeira marca de freada no asfalto ficou a cerca de 340 metros de onde o automóvel parou, indício de que Adriane estava acima da velocidade recomendada para o local, de 100 km/h. Mike Gonzalez, o motorista que parou para socorrer, disse à polícia que, ao descer da rodovia para o lago, encontrou a passageira Lorice aos gritos, pedindo socorro.
“Eu e meu amigo corremos em direção ao carro, mas não conseguíamos ver nada. Quando enfiei a mão no carro, senti a mão da outra vítima, e comecei a gritar se ela estava OK. Não houve resposta. Dei a volta e comecei a chutar a porta até ela abrir, tirei a vítima e as outras pessoas ajudaram eu e meu amigo a carregá‐la”, contou no testemunho à polícia.
Adriane foi declarada morta à 1h30 da manhã, no Hospital St. Cloud, pelo serviço de emergência médica do condado de Osceola. Exames demonstraram que ela não tinha consumido álcool, nem drogas. “A motorista do veículo 1 se afogou ao ficar presa pelo solo úmido do fundo do canal”, registrou o cabo Brown. Ele culpou Adriane pela própria morte. Seguindo a recomendação do policial, a promotoria da Flórida não abriu inquérito para apurar homicídio. De acordo com o atestado de óbito, Adriane era estudante de secretariado.
Testemunhas que passavam pelo mesmo trecho da rodovia disseram que o BMW dirigido por Adriane viajava a mais de 160 km/h. Uma delas, Michael Lyons, afirmou ter visto uma pequena nuvem de fumaça ou poeira saindo do lado esquerdo do conversível antes do acidente. Outro motorista, Mike Gonzalez, disse que o carro dirigido pela brasileira viajava em alta velocidade, com as luzes desligadas. Segundo a perícia, a primeira marca de freada no asfalto ficou a cerca de 340 metros de onde o automóvel parou, indício de que Adriane estava acima da velocidade recomendada para o local, de 100 km/h. Mike Gonzalez, o motorista que parou para socorrer, disse à polícia que, ao descer da rodovia para o lago, encontrou a passageira Lorice aos gritos, pedindo socorro.
“Eu e meu amigo corremos em direção ao carro, mas não conseguíamos ver nada. Quando enfiei a mão no carro, senti a mão da outra vítima, e comecei a gritar se ela estava OK. Não houve resposta. Dei a volta e comecei a chutar a porta até ela abrir, tirei a vítima e as outras pessoas ajudaram eu e meu amigo a carregá‐la”, contou no testemunho à polícia.
Adriane foi declarada morta à 1h30 da manhã, no Hospital St. Cloud, pelo serviço de emergência médica do condado de Osceola. Exames demonstraram que ela não tinha consumido álcool, nem drogas. “A motorista do veículo 1 se afogou ao ficar presa pelo solo úmido do fundo do canal”, registrou o cabo Brown. Ele culpou Adriane pela própria morte. Seguindo a recomendação do policial, a promotoria da Flórida não abriu inquérito para apurar homicídio. De acordo com o atestado de óbito, Adriane era estudante de secretariado.
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Pela primeira vez, a mãe de Adriane falou sobre o assunto fora do círculo familiar. Conversamos com Mariza pouco antes do Natal de 2013, uma época que acentua a saudade da família. “Deixem isso quieto. Minha filha é sagrada.” Em entrevista gravada pelo interfone de sua casa, contou um pouco sobre a vida de Adriane. “Minha filha foi para os Estados Unidos por intermédio da Lorice, amiga da família há anos. Ela (Adriane) estudava e trabalhava. Tudo que minha filha tinha era fruto do trabalho dela.” Mariza relata que Adriane prestava serviços para Lorice, que era agente de turismo da CBF. As duas viajavam sempre juntas.
Viúva há três anos e doente, Mariza conta que a família não se conforma até hoje com a perda da filha Adriane. Aos 73 anos, ela diz que nunca havia falado antes no nome do ex‐presidente da CBF. Qualquer insinuação de que a filha possa ter tido um caso com o Ricardo Teixeira provoca indignação em toda a família. “Não conheço esse moço, não sei quem ele é. Só sei que o carro era aquele, em que minha filha morreu”, disse. “Me esqueça, pelo amor de Deus. Eu nunca vou falar sobre isso. Passou. Já foi.”
Além da dor pela perda da filha, Mariza tem outro motivo para desejar ser esquecida pela imprensa. Segundo o jornalista Juca Kfouri, a CBF pagava, pelo menos até junho de 2011, o plano de saúde da mãe de Adriane, que nunca foi funcionária da confederação, no valor de R$ 612 mensais.
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Foi Juca Kfouri quem revelou o acidente que matou a filha de Mariza. Em sua coluna na Folha de S.Paulo de 23 de outubro de 1995, deu a notícia da tragédia e informou que, por causa de Adria‐ ne, o casamento entre Ricardo Teixeira e Lúcia Havelange havia entrado em crise.
Pela primeira vez, a mãe de Adriane falou sobre o assunto fora do círculo familiar. Conversamos com Mariza pouco antes do Natal de 2013, uma época que acentua a saudade da família. “Deixem isso quieto. Minha filha é sagrada.” Em entrevista gravada pelo interfone de sua casa, contou um pouco sobre a vida de Adriane. “Minha filha foi para os Estados Unidos por intermédio da Lorice, amiga da família há anos. Ela (Adriane) estudava e trabalhava. Tudo que minha filha tinha era fruto do trabalho dela.” Mariza relata que Adriane prestava serviços para Lorice, que era agente de turismo da CBF. As duas viajavam sempre juntas.
Viúva há três anos e doente, Mariza conta que a família não se conforma até hoje com a perda da filha Adriane. Aos 73 anos, ela diz que nunca havia falado antes no nome do ex‐presidente da CBF. Qualquer insinuação de que a filha possa ter tido um caso com o Ricardo Teixeira provoca indignação em toda a família. “Não conheço esse moço, não sei quem ele é. Só sei que o carro era aquele, em que minha filha morreu”, disse. “Me esqueça, pelo amor de Deus. Eu nunca vou falar sobre isso. Passou. Já foi.”
Além da dor pela perda da filha, Mariza tem outro motivo para desejar ser esquecida pela imprensa. Segundo o jornalista Juca Kfouri, a CBF pagava, pelo menos até junho de 2011, o plano de saúde da mãe de Adriane, que nunca foi funcionária da confederação, no valor de R$ 612 mensais.
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Foi Juca Kfouri quem revelou o acidente que matou a filha de Mariza. Em sua coluna na Folha de S.Paulo de 23 de outubro de 1995, deu a notícia da tragédia e informou que, por causa de Adria‐ ne, o casamento entre Ricardo Teixeira e Lúcia Havelange havia entrado em crise.
“A pivô da possível separação – que traria consequências óbvias para o futuro do futebol brasileiro – morreu num acidente de automóvel no último dia 12 de outubro, na estrada que liga Miami a Or‐ lando. Ela teria dormido ao volante, capotado três vezes e caído num lago à beira da estrada. Atendida, faleceu na ambulância”, escreveu.
A informação estava correta no geral, apesar da imprecisão nos detalhes: segundo a polícia da Flórida, o acidente aconteceu na madrugada do dia 13 e o número de capotagens noticiado não corres‐ ponde ao que consta na investigação oficial. O parágrafo seguinte deu uma informação nunca confirmada: O presidente da CBF estava com ela, algo que a família da jovem nega, mas que os amigos íntimos confirmam detalhadamente, ressalvando que Teixeira prestou toda a ajuda necessária, embora buscando não se envolver publicamente com o episódio.
A coluna, com o título Interesse público, causou um furacão no meio esportivo. Em longa entrevista à revista Playboy, em dezembro de 1999, o presidente da CBF foi questionado pelo repórter Carlos Maranhão se “teria se envolvido em um acidente de carro na Flórida em que morreu uma brasileira que seria sua namorada”. Teixeira respondeu: “Não houve nenhum acidente comigo. Eu não me encontrava na Flórida nem nos Estados Unidos nesse dia. Sabe onde eu estava? Assistindo a um jogo entre Brasil e Uruguai, em Salvador, ao lado de Antônio Carlos Magalhães. Como esse fato podia ser facilmente comprovado, surgiu depois uma nova versão: eu teria ido de Salvador para Miami de jatinho, apanhado um carro e me envolvido no tal acidente. Ora, fui de Salvador para o Rio de Janeiro junto com a delegação, e esse também é um fato público. Trata‐se de uma infâmia. Mas, para alguns, virou verdade”. Nenhum documento oficial sobre o acidente cita a presença de Teixeira no automóvel.
Sobre Adriane, nenhuma palavra. Não negou, nem assumiu que a vítima fosse sua namorada. Kfouri mantém a informação: “Ela era namorada dele. Consta até que ele foi muito correto com os familiares dela e que os atendeu muito bem”, conta o jornalista, que nunca foi desmentido ou processado pela revelação bombástica.
A informação estava correta no geral, apesar da imprecisão nos detalhes: segundo a polícia da Flórida, o acidente aconteceu na madrugada do dia 13 e o número de capotagens noticiado não corres‐ ponde ao que consta na investigação oficial. O parágrafo seguinte deu uma informação nunca confirmada: O presidente da CBF estava com ela, algo que a família da jovem nega, mas que os amigos íntimos confirmam detalhadamente, ressalvando que Teixeira prestou toda a ajuda necessária, embora buscando não se envolver publicamente com o episódio.
A coluna, com o título Interesse público, causou um furacão no meio esportivo. Em longa entrevista à revista Playboy, em dezembro de 1999, o presidente da CBF foi questionado pelo repórter Carlos Maranhão se “teria se envolvido em um acidente de carro na Flórida em que morreu uma brasileira que seria sua namorada”. Teixeira respondeu: “Não houve nenhum acidente comigo. Eu não me encontrava na Flórida nem nos Estados Unidos nesse dia. Sabe onde eu estava? Assistindo a um jogo entre Brasil e Uruguai, em Salvador, ao lado de Antônio Carlos Magalhães. Como esse fato podia ser facilmente comprovado, surgiu depois uma nova versão: eu teria ido de Salvador para Miami de jatinho, apanhado um carro e me envolvido no tal acidente. Ora, fui de Salvador para o Rio de Janeiro junto com a delegação, e esse também é um fato público. Trata‐se de uma infâmia. Mas, para alguns, virou verdade”. Nenhum documento oficial sobre o acidente cita a presença de Teixeira no automóvel.
Sobre Adriane, nenhuma palavra. Não negou, nem assumiu que a vítima fosse sua namorada. Kfouri mantém a informação: “Ela era namorada dele. Consta até que ele foi muito correto com os familiares dela e que os atendeu muito bem”, conta o jornalista, que nunca foi desmentido ou processado pela revelação bombástica.
A notícia da morte da “pivô de sua separação” em um jornal de circulação nacional incomodou Teixeira. Pode ter enterrado de vez qualquer chance de reconciliação com Lúcia. Algum rela‐ cionamento existia entre Adriane e Teixeira. Ele mesmo admitiu em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Congresso Nacional em 2000 – cinco anos após o acidente – para investigar contratos da CBF com a Nike, fabricante de material esportivo e patrocinadora da seleção desde junho de 1996. O cartola falou sobre a jovem ao ser questionado pelo deputado Dr. Rosinha (PT‐PR).
– Tem também um BMW do senhor, que não está declarado no Imposto de Renda. O BMW dos Estados Unidos.
– Excelência, o senhor sabe que um carro ou qualquer propriedade que se tenha, e que ele entre e saia no mesmo ano, você não precisa declarar – respondeu Teixeira.
– Esse carro era do senhor, o senhor era proprietário e vendeu no mesmo ano?
– Excelência, acho que o senhor está querendo chegar a uma coisa que para mim é muito triste.
– Eu não vou chegar a lugar nenhum que seja triste para ninguém – retrucou o parlamentar
– Esse carro teve um desastre nos Estados Unidos… e faleceu uma pessoa que era muito querida minha.
Era tão querida que, segundo a investigação da polícia norte‐ame‐ ricana, o endereço que constava da carteira de habilitação de Adriane era no mesmo condomínio da casa de Teixeira. No documento da moça, estava registrado: 16881, Knightsbridge Lane, Delray Beach.
– Tem também um BMW do senhor, que não está declarado no Imposto de Renda. O BMW dos Estados Unidos.
– Excelência, o senhor sabe que um carro ou qualquer propriedade que se tenha, e que ele entre e saia no mesmo ano, você não precisa declarar – respondeu Teixeira.
– Esse carro era do senhor, o senhor era proprietário e vendeu no mesmo ano?
– Excelência, acho que o senhor está querendo chegar a uma coisa que para mim é muito triste.
– Eu não vou chegar a lugar nenhum que seja triste para ninguém – retrucou o parlamentar
– Esse carro teve um desastre nos Estados Unidos… e faleceu uma pessoa que era muito querida minha.
Era tão querida que, segundo a investigação da polícia norte‐ame‐ ricana, o endereço que constava da carteira de habilitação de Adriane era no mesmo condomínio da casa de Teixeira. No documento da moça, estava registrado: 16881, Knightsbridge Lane, Delray Beach.
O automóvel do presidente da CBF estava registrado no número 16879 da mesma rua. Fomos investigar.
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O condomínio onde morava Ricardo Teixeira, em Delray Beach; de lá, mudou-se para uma casa ainda mais luxuosa, em Miami.
Delray Beach é fruto da tremenda expansão imobiliária ocorrida na Flórida a partir de Miami, ao sul em direção a Homestead e ao norte em direção a West Palm Beach. Na imensa faixa de areia banhada pelo oceano Atlântico se instalaram aposentados vindos de outras partes dos Estados Unidos para fugir do frio e investidores da América Latina, muitos deles trazendo dinheiro sujo para a “Lavanderia Flórida”. Ao contrário da areia branca e fina da maioria das praias do vizinho Caribe, ali a areia é escura e grossa. A paisagem deve muito em beleza se comparada com os destinos turísticos do Nordeste do Brasil. O grande atrativo fica aquém da areia barrenta: as mansões em condomínios oferecidas a preços relativamente acessíveis para quem quer investir dinheiro de forma segura, longe de casa.
Outra vantagem da Flórida é a facilidade de, a partir dali, fazer negócios com os paraísos fiscais, como as ilhas Cayman, no Caribe, e outros. Muita gente tem empresa registrada nas ilhas sem nunca ter estado lá: são meros ancoradouros para dinheiro de origem indefinida. No mundo das transações eletrônicas, o dinheiro gira fisicamente, de fato, nas contas bancárias de Miami. A cidade dispõe de um exército de advogados dispostos a ajudar quem pretende montar empresa ou esconder dinheiro.
Foi nesse cenário que Ricardo Teixeira se instalou. O condomínio Polo Club impressiona. Quem estaciona próximo à portaria assiste a um desfile de carrões: Mercedes, Camaros, Porsches. Um dos segu‐ ranças – de farda cáqui e chapéu, à semelhança dos xerifes do policiamento ostensivo norte‐americano – nos informou que o número 16881 da Knightsbridge Lane, que constava da carteira de motorista de Adriane, não corresponde a um imóvel. Mas o número 16879 é, sim, de uma casa: a de Ricardo Teixeira.
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O condomínio onde morava Ricardo Teixeira, em Delray Beach; de lá, mudou-se para uma casa ainda mais luxuosa, em Miami.
Delray Beach é fruto da tremenda expansão imobiliária ocorrida na Flórida a partir de Miami, ao sul em direção a Homestead e ao norte em direção a West Palm Beach. Na imensa faixa de areia banhada pelo oceano Atlântico se instalaram aposentados vindos de outras partes dos Estados Unidos para fugir do frio e investidores da América Latina, muitos deles trazendo dinheiro sujo para a “Lavanderia Flórida”. Ao contrário da areia branca e fina da maioria das praias do vizinho Caribe, ali a areia é escura e grossa. A paisagem deve muito em beleza se comparada com os destinos turísticos do Nordeste do Brasil. O grande atrativo fica aquém da areia barrenta: as mansões em condomínios oferecidas a preços relativamente acessíveis para quem quer investir dinheiro de forma segura, longe de casa.
Outra vantagem da Flórida é a facilidade de, a partir dali, fazer negócios com os paraísos fiscais, como as ilhas Cayman, no Caribe, e outros. Muita gente tem empresa registrada nas ilhas sem nunca ter estado lá: são meros ancoradouros para dinheiro de origem indefinida. No mundo das transações eletrônicas, o dinheiro gira fisicamente, de fato, nas contas bancárias de Miami. A cidade dispõe de um exército de advogados dispostos a ajudar quem pretende montar empresa ou esconder dinheiro.
Foi nesse cenário que Ricardo Teixeira se instalou. O condomínio Polo Club impressiona. Quem estaciona próximo à portaria assiste a um desfile de carrões: Mercedes, Camaros, Porsches. Um dos segu‐ ranças – de farda cáqui e chapéu, à semelhança dos xerifes do policiamento ostensivo norte‐americano – nos informou que o número 16881 da Knightsbridge Lane, que constava da carteira de motorista de Adriane, não corresponde a um imóvel. Mas o número 16879 é, sim, de uma casa: a de Ricardo Teixeira.
O visitante que percorre as ruas do condomínio encontra jardins bem cuidados, no estilo marcante da região: não há muro entre as casas. É um lugar silencioso, sem a violência e o estresse das me‐ trópoles. A Knightsbridge Lane é uma rua circular. No meio dela há um lago artificial. A casa que Teixeira chegou a ocupar ali, a primeira dele na Flórida, é confortável, com 215 metros quadrados, três quartos e piscina integrada a um lago nos fundos, compartilhado com os vizinhos. O imóvel estava em nome de uma empresa, a Globul, com sede no principado de Liechtenstein, micropaís en- cravado nos Alpes, localizado entre a Áustria e a Suíça. O local é um refúgio fiscal europeu conhecido por garantir sigilo absoluto a quem usa seu sistema bancário.
Mas, no dia 13 de dezembro de 2000, foi autorizada a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Ricardo Teixeira no Brasil pela CPI da Nike, criada para investigar os negócios da CBF. Na declaração do Imposto de Renda do dirigente em 1997, apareceu um depósito de R$ 12.185,55 à Globul. Segundo Teixeira, tratava‐se do pagamento do aluguel da casa de Miami, referente a todo o ano anterior. Perto de R$ 1.000 por mês (R$ 5 mil em valores atuais). Os parlamentares desconfiaram da versão de Teixeira. Cobraram provas. O presidente da CBF enviou um contrato de aluguel, assinado em 15 de março de 1995 – sete meses antes do acidente de Adriane. O custo mensal: US$ 1.500. Mas os membros da CPI foram além: telefonaram para uma corretora de imóveis em Miami, que garantiu que o aluguel de uma casa como essa, naquela região, não sairia por menos de US$ 5 mil por mês.
Em 1996, poucos meses depois do acidente em que morreu Adriane, a casa foi vendida para um casal norte‐americano. Quem intermediou? A Solimare International Inc., empresa de um amigo de Ricardo Teixeira, o empresário paulista Waldemar Verdi Junior. Mas o dirigente não ficaria muito tempo sem ter um teto na região. Logo depois, em abril de 1997, a mesma Solimare intermediou a compra de uma casa no mesmo condomínio. Dessa vez, porém, o tamanho era três vezes maior. Adivinhe para quem! Para a mesma Globul.
Mas, no dia 13 de dezembro de 2000, foi autorizada a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Ricardo Teixeira no Brasil pela CPI da Nike, criada para investigar os negócios da CBF. Na declaração do Imposto de Renda do dirigente em 1997, apareceu um depósito de R$ 12.185,55 à Globul. Segundo Teixeira, tratava‐se do pagamento do aluguel da casa de Miami, referente a todo o ano anterior. Perto de R$ 1.000 por mês (R$ 5 mil em valores atuais). Os parlamentares desconfiaram da versão de Teixeira. Cobraram provas. O presidente da CBF enviou um contrato de aluguel, assinado em 15 de março de 1995 – sete meses antes do acidente de Adriane. O custo mensal: US$ 1.500. Mas os membros da CPI foram além: telefonaram para uma corretora de imóveis em Miami, que garantiu que o aluguel de uma casa como essa, naquela região, não sairia por menos de US$ 5 mil por mês.
Em 1996, poucos meses depois do acidente em que morreu Adriane, a casa foi vendida para um casal norte‐americano. Quem intermediou? A Solimare International Inc., empresa de um amigo de Ricardo Teixeira, o empresário paulista Waldemar Verdi Junior. Mas o dirigente não ficaria muito tempo sem ter um teto na região. Logo depois, em abril de 1997, a mesma Solimare intermediou a compra de uma casa no mesmo condomínio. Dessa vez, porém, o tamanho era três vezes maior. Adivinhe para quem! Para a mesma Globul.
Agora, chute quem foi morar lá! Não é preciso ser muito esperto: Ricardo Teixeira. Segundo consulta feita pela CPI junto ao registro de imóveis da Flórida, o valor da transação foi de US$ 924.400. Mais uma vez, Teixeira disse que não era o dono da casa, e que pagava aluguel à Globul pelo imóvel de 600 metros quadrados, no número 5896 da Vintage Oaks. Em 2001, o grand finale: a Globul vendeu a casa a Ricardo Teixeira, por US$ 800 mil. Ou seja, a empresa topou repassar ao cartola a propriedade com uma desvalorização de quase US$ 125 mil! É como se você vendesse sua casa por um valor 14% menor ao que você desem‐ bolsou quatro anos antes.
Nas páginas 192 e 193 de seu relatório final, a CPI lançou mais questionamentos sobre as transações de Teixeira: “Em 26 de dezembro de 2000 (a CPI CBF/NIKE acabava de ser instalada), no penúltimo dia útil do ano, numa mesma data, Ricardo Teixeira fez duas remessas de dinheiro para o exterior, transferências internacionais de reais, em seu próprio nome: uma de US$ 602.160,00 e outra de US$ 246.628,44. As duas remessas foram através do Rural International Bank, de Nova York”. São desconhecidos os objetivos dessas remessas.
Era um período em que o cartola estava sob a lupa de investigadores. Se pretendia regularizar a “compra” da casa em Miami, para poder declará‐la ao Imposto de Renda de 2001 no Brasil, li‐ vrando‐se de eventuais problemas, esse seria o caminho. Aliás, no seu depoimento à CPI Teixeira manifestou intenção de incluir a casa na próxima declaração de renda. Ainda assim, sempre negou ser dono ou sócio da Globul. Fez isso em relação a outra empresa muito mencionada mais adiante, neste livro: a Sanud. Porém, neste caso, foi desmentido espetacularmente.
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Cartola brasileiro protagonizou um caso digno dos corvos de Edgar Allan Poe
Nas páginas 192 e 193 de seu relatório final, a CPI lançou mais questionamentos sobre as transações de Teixeira: “Em 26 de dezembro de 2000 (a CPI CBF/NIKE acabava de ser instalada), no penúltimo dia útil do ano, numa mesma data, Ricardo Teixeira fez duas remessas de dinheiro para o exterior, transferências internacionais de reais, em seu próprio nome: uma de US$ 602.160,00 e outra de US$ 246.628,44. As duas remessas foram através do Rural International Bank, de Nova York”. São desconhecidos os objetivos dessas remessas.
Era um período em que o cartola estava sob a lupa de investigadores. Se pretendia regularizar a “compra” da casa em Miami, para poder declará‐la ao Imposto de Renda de 2001 no Brasil, li‐ vrando‐se de eventuais problemas, esse seria o caminho. Aliás, no seu depoimento à CPI Teixeira manifestou intenção de incluir a casa na próxima declaração de renda. Ainda assim, sempre negou ser dono ou sócio da Globul. Fez isso em relação a outra empresa muito mencionada mais adiante, neste livro: a Sanud. Porém, neste caso, foi desmentido espetacularmente.
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Cartola brasileiro protagonizou um caso digno dos corvos de Edgar Allan Poe
Quando a tragédia da morte de Adriane na Flórida aconteceu, o presidente da CBF tinha 48 anos de idade. Estava casado há 23 com Lúcia, a filha de João Havelange. Ainda saboreava as glórias de uma vitória recente. No ano anterior a seleção brasileira havia conquistado o primeiro título mundial sob o comando de Teixeira – curiosamente, ou não, nos mesmos Estados Unidos. A vitória nos pênaltis contra a Itália veio quando Roberto Baggio, principal craque rival, chutou a bola por cima do travessão defendido pelo goleiro Taffarel. Um chute nas arquibancadas consolidou a imagem do cartola como vencedor!
Enquanto milhões de brasileiros soltavam o grito da vitória entalado na garganta por 24 anos, Teixeira dava o seu grito da independência. Até aquele momento, ele ainda era somente o “genro”. Havia alcançado o cargo mais importante do esporte nacional, em 1989, sem ter dirigido um clube sequer. Fora alçado ao cargo de presidente da confederação de um país apaixonado por futebol pelas mãos de João Havelange. Quando Dunga levantou a taça no estádio Rose Bowl, Teixeira finalmente começou a sair da sombra do sogro. Com uma distinção clara em relação a Havelange: enquanto este sempre se movimentou discretamente nos bastidores, tendo no jogo político sua principal arma, Teixeira era ousado e arrogante. Ao longo da carreira, o homem que nunca jogou bola trombou com alguns dos maiores ídolos do futebol brasileiro, dentre os quais Pelé, Zico, Romário e Ronaldo.
Na embriaguez da vitória na Copa dos Estados Unidos, Teixeira expôs outro traço de sua personalidade: a crença na impunidade. O cartola bancou o que se tornou conhecido na crônica esportiva como a mãe de todos os voos da muamba: 11 toneladas de bagagem extra de jogadores e cartolas entraram no avião que trouxe a delegação campeã de volta ao Brasil. Quando a Receita Federal interveio, Teixeira mexeu os pauzinhos em Brasília. Conseguiu liberar a bagagem da galera. Mais tarde, a CBF assumiu o pagamento de cerca de R$ 50 mil em impostos, por causa de uma ação na Justiça.
Enquanto milhões de brasileiros soltavam o grito da vitória entalado na garganta por 24 anos, Teixeira dava o seu grito da independência. Até aquele momento, ele ainda era somente o “genro”. Havia alcançado o cargo mais importante do esporte nacional, em 1989, sem ter dirigido um clube sequer. Fora alçado ao cargo de presidente da confederação de um país apaixonado por futebol pelas mãos de João Havelange. Quando Dunga levantou a taça no estádio Rose Bowl, Teixeira finalmente começou a sair da sombra do sogro. Com uma distinção clara em relação a Havelange: enquanto este sempre se movimentou discretamente nos bastidores, tendo no jogo político sua principal arma, Teixeira era ousado e arrogante. Ao longo da carreira, o homem que nunca jogou bola trombou com alguns dos maiores ídolos do futebol brasileiro, dentre os quais Pelé, Zico, Romário e Ronaldo.
Na embriaguez da vitória na Copa dos Estados Unidos, Teixeira expôs outro traço de sua personalidade: a crença na impunidade. O cartola bancou o que se tornou conhecido na crônica esportiva como a mãe de todos os voos da muamba: 11 toneladas de bagagem extra de jogadores e cartolas entraram no avião que trouxe a delegação campeã de volta ao Brasil. Quando a Receita Federal interveio, Teixeira mexeu os pauzinhos em Brasília. Conseguiu liberar a bagagem da galera. Mais tarde, a CBF assumiu o pagamento de cerca de R$ 50 mil em impostos, por causa de uma ação na Justiça.
O escândalo nem chamuscou Teixeira. Para ele, o único voo que importava era o que o levaria a Zurique, para o lugar de Havelange. Depois de 20 anos, o presidente da Fifa pensava em aposentadoria – e, claro, em sua sucessão. O projeto era entregar o cargo ao genro e deixar tudo em família.
Tudo caminhava bem, até aquela sexta‐feira 13, em outubro de 1995, quando a morte de Adriane na rodovia dos corvos mudou a sorte de Teixeira. E alterou de forma definitiva sua relação com Havelange, iniciada quase 30 anos antes, sob uma chuva de confetes.
Leia também:
Veja a série de reportagens que deu origem ao livro O Lado Sujo do Futebol
Tudo caminhava bem, até aquela sexta‐feira 13, em outubro de 1995, quando a morte de Adriane na rodovia dos corvos mudou a sorte de Teixeira. E alterou de forma definitiva sua relação com Havelange, iniciada quase 30 anos antes, sob uma chuva de confetes.
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Veja a série de reportagens que deu origem ao livro O Lado Sujo do Futebol
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