"Vai ficar famoso, ladrão, morrendo no vídeo"
Do El País
Um vídeo que mostra a agonia de três supostos criminosos em uma calçada após serem baleados supostamente pela Polícia Militar de São Paulo começou a circular pelas redes sociais com assustadora normalidade. No começo da gravação é possível ver a calça cinza e o coturno preto do autor do vídeo. A vestimenta é praticamente idêntica aos uniformes usados pelos policiais militares de São Paulo.
As imagens, postadas no Facebook e depois tiradas do ar por um perfil falso da Polícia do Estado de São Paulo, são fortes e percorrem durante 48 segundos os corpos dos suspeitos jogados no chão, agonizando no seu próprio sangue. A partir do segundo 12 é possível ouvir os gemidos de um deles.
No segundo 26 é possível ouvir uma pessoa dizendo: “Vai ficar famoso, ladrão, morrendo no vídeo”. Um dos baleados, no segundo 33, sussurra: “Meus filhos, meus filhos…”. Outra das frases audíveis vem de fora da cena: “Vai demorar aí, caralho, pra morrer?”.
Os responsáveis pela publicação do vídeo afirmam que a cena aconteceu no dia 8, na Vila Curuçá, na zona leste de São Paulo. Dos três baleados, Renato Santos, de 25 anos, e Marcos Aurélio Alves, de 37, sobreviveram e estão internados, segundo fontes policiais. O terceiro, ainda não identificado, morreu.
A Polícia Militar afirmou em um comunicado que o perfil “Polícia do Estado de São Paulo" não pertence à instituição e que apresenta uma série de conteúdos impróprios. “Já está em curso uma investigação sobre o perfil, seu conteúdo e administradores”, disse a nota. A Corregedoria da PM está investigando se houve participação de policiais militares na captação e divulgação das imagens, fato que poderá resultar em uma punição.
A nota ressalta: “todo policial militar, assim como qualquer cidadão, pode postar aquilo que bem entender nas redes sociais, podendo, contudo, ser responsabilizado no campo civil, criminal e administrativo em caso de postagens que ofendam pessoas, instituições, que sejam contrárias à lei ou atentatórias à dignidade humana”. O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, determinou que a Polícia Militar apure as circunstâncias da ocorrência e a responsabilidade pela postagem do vídeo.
O caso relatado tem semelhança com um episódio divulgado em 2011 pelo jornalista André Caramante na Folha de S. Paulo. Um vídeo gravado em 2008 mostrava dois suspeitos baleados no chão enquanto um agente gritava: "Estrebucha! Filho da puta", "filho da puta, você não morreu ainda? Olha pra cá! Maldito. Não morreu ainda?". Um dos suspeitos, que na época tinha 16 anos, sobreviveu, e afirmou ao jornal que a humilhação dos agentes durou cerca de 40 minutos. "Tomara que morra a caminho [do hospital]", lhe disseram.
Segundo o jornal, dois policiais, responsáveis pelo vídeo, foram identificados, mas não presos.
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