Ucrânia: Relatório de Situação (SITREP), 24/4/2014, 1405 UTC/Zulu
The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
Praticamente todas as minhas fontes confirmam que a junta
em Kiev lançou ataque contra a cidade de Slaviansk.
A maioria das fontes dizem que só forças do SBU e do
Setor Direita (Pravy Sektor) estão envolvidas, embora outras fontes falem de
“forças especiais” (sem detalhes) vistas perto do aeroporto de Slaviansk também
participam. Meu palpite pessoal é que, no máximo, os militares estão dando
algum apoio, mas que o ataque está sendo executa de fato só pelos SBU +
SD (Pravy Sektor). Do ponto de vista da junta, é decisão bem esperta, porque,
diferente dos paramilitares ou forças militares, os SBU/SD adorarão
matar, sequestrar, torturar ou mutilar o que eles veem como “separatistas”
locais ou apoiadores-Moskal. Além do mais, também diferentes dos
paramilitares ou unidades militares regulares, os bandidos do SBU/SD não
esperam mercê dos locais, portanto jamais se renderão ou, ainda menos provável,
desertarão.
Assim sendo, a única questão agora é ver a determinação dos
falantes de russo na Ucrânia do leste, quando a coisa é p’rá valer. Em
8/8/1988, a população local de Tskhinval consegui derrubar uma força atacante
MUITAS vezes mais forte e apoiada por fogo *massivo* e *sustentado* de
artilharia e tanques (o que ainda não aconteceu em Slaviansk), mas o
fizeram porque não tinham absolutamente nenhuma dúvida do que seria a tomada da
Ossétia Sul pelos bandidos realmente genocidas de Saakashvili. Não tenho, não,
absolutamente não tenho, certeza de que a maioria das pessoas na Ucrânia partilham
esse tipo de determinação.
Mapa legendado com a situação geral da Ucrânia |
A boa notícia – pelo menos por hora – é que o ataque de
hoje foi reles e nada terá a mostrar, de fato. A luta aconteceu nos arredores
de Slaviansk, só duas baixas entre as milícias da resistência local, algumas
poucas tentativas de entrar na cidade em minivans, que foram interceptadas; e
no final do dia a força atacante foi obrigada a recuar. Para força de ataque
noticiada de 5 mil atacantes apoiados por blindados e metralhadoras pesadas, o
resultado é patético.
A má notícia é que Slaviansk parece estar cercada por todos
os lados, exceto pela estrada principal entre Slaviansk e Donetsk.
O resumo é o seguinte: a imprensa-empresa ocidental quer
mostrar que a junta golpista tem muita potência, enquanto a imprensa russa quer
explicar que a junta golpista está cometendo um crime contra a população civil.
Os dois lados são interessados e a ambos interessa inflar a situação.
Pessoalmente, não vejo sinais de ataque total semelhante ao
de 8/8/2008.
Vladimir Putin |
Observo também que a reação de Putin hoje foi muito
ponderada. Ameaçou com “consequências”, mas, se você ouvir atentamente, ameaçou
os “oficiais envolvidos” e disse que isso afetaria também a “relação” entre os
dois países. Importante é que não fez qualquer referência ao massacre de
Ossétia Sul, não mencionou o direito de intervir, não falou de proteger
população russa, como Lavrov, sim, falou, ontem. Não estou sugerindo que Putin esteja hesitando ou que não cumprirá
a promessa de defender os falantes de russo no leste da Ucrânia. Só estou
tentando mostrar que, numa “escala de ameaça”, ele, até agora, continua
decidido a esperar e ver.
De fato, foi o que Putin disse, quase literalmente. Vale
dizer: sim, ele ameaçou com “consequências”, mas, até aqui a ameaça está
dirigida só aos tomadores de decisão da junta golpista, não contra os 5 mil
atacantes em campo (os quais, sim, serão o alvo real de uma intervenção russa,
se acontecer).
É muito cedo para saber. Temos de esperar e não nos deixar
contaminar pelo exagero envenenado da imprensa-empresa.
Permaneçam sintonizados. Tentarei mantê-los atualizados.
The Saker
Nota dos tradutores
[1] Sigla de “Tempo Universal Coordenado” [ing. Universal Time Coordinated], ex-GMT , também chamado “Zulu Time” que é a notação de horário pelo Alfabeto Fonético da OTAN,
utilizado sobretudo na aviação, para a qual o “horário Zulu” é padrão
universal, para que os pilotos possam localizar-se sempre por horário
comum a todos, sem confusão quando atravessam várias zonas de horário.
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