Sheherazade pode sair do SBT, mas continuará protegida e patrocinada pelos barões

 Autor: Miguel do Rosário
Novo_thumb[1]

Nem tudo está perdido. Se a “mídia técnica” da Secom financia até mesmo incitações ao crime de linchamento, como as falas da nossa “Nazi-Barbie”, Rachel Sheherazade, mostraram, a reação popular mostrou-se mais digna e mais corajosa. E a classe política também merece os cumprimentos, na figura da deputada federal Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), que deu entrada na denúncia no Ministério Público contra a apresentadora.
Essa é a liberdade defendida por nossos barões midiáticos. Em nome de seu reacionarismo doentio, poder fazer a defesa até mesmo de linchamentos, desde que seja de pobres e pretos, é claro. Já os pobres e pretos, não tem espaço nenhum na mídia para se defender: mas com essa liberdade os barões não se preocupam. E, infelizmente, nem a “mídia técnica”.

Outra lição advinda do episódio: ao SBT, outra emissora que nasceu na ditadura, sempre coube o papel sujo de incutir opiniões ultrareacionárias no povo, fazendo uma dobradinha com a Globo na luta contra a democracia e seus valores humanistas.
Agora vamos ver o que vai acontecer. De qualquer forma, Paulo Nogueira, cujo artigo transcrevo abaixo, está certo numa coisa: ninguém precisa se preocupar com a segurança econômica de Rachel Sheherazade. Ela agora é “protegée” dos barões, e tem o sustento garantido para a vida inteira, ou pelo menos enquanto continuar fazendo seus discursos protofascistas contra os valores democráticos e humanistas que visam proteger os pobres das violências do Estado e das elites.
*
Sheherazade teve o que mereceu
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.
Rachel Sheherazade pode se juntar a Heisenberg e cantar com ele a música que fecha gloriosamente Breaking Bad: guess I got what I deserved. Tive o que mereci.
Se for confirmado que ela está fora do SBT, ela terá o que mereceu.
Sheherazade rompeu um limite no comentário em que aplaudiu justiceiros. Se mesmo depois ela não se deu conta de que estava aplaudindo um crime, é porque ela é sem noção.
O que ela não imaginava provavelmente, em sua arrogância cega, era a reação de indignação que suas palavras despertariam entre todas aquelas pessoas que não podem ser caracterizadas como direitistas raivosos.
Ela poderia ter suavizado o problema se tivesse, nem que fingidamente, pedido desculpas pelo que disse. Não. Ela acelerou na curva, e o precipício era a consequência inevitável.
O SBT – mais uma vez, caso se confirme seu afastamento – demorou para agir. Aparentemente Sílvio Santos só se comoveu quando começaram a circular rumores segundo os quais o governo estaria estudando a verba anual de 150 milhões de reais que coloca em publicidade oficial no SBT.
Ela está fora do ar. A justificativa oficial da emissora é que se trata de férias, mas Sheherazade teria que sair de férias mês sim, mês não para esta explicação fazer sentido. Alguém lembrou que ela tirou férias recentemente.
Há aspectos cômicos num episódio essencialmente dramático. Dias atrás, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse numa entrevista que achava o caso grave.
Janot disse que liberdade de expressão não pode ser confundida com incitamento ao crime. O engraçado é que ele afirmou que não tinha visto o vídeo ainda.
Ou ele vive num planeta paralelo, dada a repercussão formidável do comentário, ou estava fugindo do jornalista. Qualquer que seja a alternativa, foi um momento de comédia na história.
Sheherazade parecia assustada nas últimas semanas. Em sua conta no Twitter, ela pediu aos admiradores que assinassem uma petição virtual pela sua permanência no SBT.
O tom do pedido mostrou que ela não aprendeu nada com o episódio. Ela se apresenta, numa brutal inversão de papeis, como vítima.
As viúvas e os viúvos dela não devem chorar. A plutocracia cuidará bem de Sheherazade. Todos os jornalistas que defendem os interesses do 1% estão a salvo dos problemas econômicos que podem afligir os demais em caso de perda de emprego. Até o “historiador” Marco Antonio Villa, com seus constantes e bizarros erros de avaliação, continua a aparecer com destaque na mídia.
O caso ensina muita coisa. Demonstra como é falaciosa a tese da “mídia técnica” que, até recentemente, governou as administrações do PT.
Colocar dinheiro público com base apenas em audiência pode fazer com que o governo, indiretamente, estimule o crime.
O mais interessante, em tudo, foi a força da opinião pública. A sociedade rejeitou o incentivo à violência feito por Sheherazade.
Por isso, e só por isso, ela teve o que mereceu.

Comentários