PSDB governa São Paulo há 20 anos. Chegou a hora da derrota?
Como explicar as seguidas vitórias de candidatos do PSDB nas últimas cinco eleições para o governo do Estado de São Paulo, entre 1994 e 2010?
Marcel Gomes - Na Carta Maior
São Paulo – Como explicar as seguidas vitórias de candidatos do PSDB nas últimas cinco eleições para o governo do Estado de São Paulo, entre 1994 e 2010? Quais as razões de fundo que levaram a essa inédita hegemonia político-partidária, não alcançada por nenhum outro partido em pleitos estaduais na história democrática brasileira recente? O que esperar da disputa em 2014?
Essas são algumas das questões levantadas pelo pesquisador Danilo Cesar Fiore, cujo trabalho de investigação foi apresentado no IV Seminário Discente da Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), realizado ao longo desta semana.
Com a série histórica dos resultados das votações eleitorais em mãos, Fiore foi capaz de refletir sobre algumas hipóteses que explicariam a força tucana no Estado. A primeira delas passa pela paulatina decadência de siglas que protagonizaram as disputas da década de 80 e início da de 90: o PMDB (ex-MDB) e o PDS/PP (ex-Arena).
Na avaliação do pesquisador, baseada em literatura especializada na questão, isso teria ocorrido não apenas pela dissidência do PMDB que criaria o PSDB, enfraquecendo o partido original a partir de 1988. Aliado a esse fato, a liderança que permaneceu – Orestes Quércia – teria direcionado a sigla a um caminho de oligarquização e insulamento de lideranças, que dificultou a renovação de quadros. História semelhante teria ocorrido com o PDS/PP, dominado por Paulo Maluf.
“Em todos os pleitos até 2002 houve segundo turno [em São Paulo], e a votação somada dos dois primeiros colocados chegou, no máximo, a 70% do total de votos válidos. Não causa surpresa, assim, que nos dois últimos pleitos, quando a votação somada de ambos os candidatos atingiu quase 90% do total de votos, não tenha havido a segunda rodada eleitoral”, explica o pesquisador da USP. “A hipótese, portanto, é de que o PSDB teria absorvido o “espólio” destes partidos decadentes”.
Absorver o espólio significa, entre outros aspectos, receber apoio de eleitores identificados com o campo da centro-direita, e que ficaram “órfãos” com a decadência de PMDB e PDS/PP. Com propostas que respondem ao campo conservador, como por exemplo em relação à segurança pública, obtiveram apoio daqueles que antes optavam pelo malufismo.
Um outro aspecto que explicaria a força peessedebista no Estado teria fundo sociopolítico. Para Fiore, São Paulo “possui características específicas em relação ao resto do Brasil, como por exemplo o menor número de eleitores de estratos mais pobres e nível de desenvolvimento econômico mais elevado – ressalvadas regiões de carência significativa, como o Pontal do Paranapanema, o Sudoeste Paulista, o Vale do Ribeira e as franjas periféricas das grandes metrópoles”.
Com isso, a defesa dos interesses dessa parcela mais abastada da população brasileira, representada mais pelo ideal da “estabilidade econômica tucana” do que pelo projeto de “combate à pobreza do PT”, teria mais repercussão entre os eleitores paulistas.
“É curioso notar como o cenário estadual se configura na chave inversa do nível nacional em termos partidários, com PT e PSDB buscando resguardar seus respectivos territórios e, paralelamente, alcançar a tão aguardada vitória no campo adversário”, avalia o pesquisador.
Os tucanos, assim, para “resguardar seu território”, optaram por escalar caciques nacionais para enfrentar as disputas: Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra se revezaram nas eleições. Os três também foram candidatos à presidência da República, o que, na visão de Fiore e da bibliografia especializada, faz parte de uma “estratégia coerente de ocupação de campo político-eleitoral”.
Em que pese todos esses elementos estarem presentes neste pleito de 2014 – Alckmin disputará a reeleição –, o pesquisador avalia que é possível haver surpresas. E por quê? Em primeiro lugar, ele destaca a queda relativa de votos do PSDB nas eleições de 2010 em relação a 2006, bem como o crescimento constante do percentual de votos no PT em todo o Estado. Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, será o candidato petista.
Em segundo lugar, o PT parece ter voltado sua atenção – e recursos – para as eleições estaduais, após um longo período priorizando o pleito presidencial. É o caso não só de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro, onde o senador Lindbergh Farias tentará se eleger.
Por fim, uma última razão seria a presença de outros candidatos competitivos. Após anos, o PMDB finalmente apresenta um nome forte – Paulo Skaf, ao menos segundo as últimas pesquisas –, assim como campo conservador deve ter um representante de peso – Gilberto Kassab, do PSD, ex-prefeito de São Paulo.
São Paulo – Como explicar as seguidas vitórias de candidatos do PSDB nas últimas cinco eleições para o governo do Estado de São Paulo, entre 1994 e 2010? Quais as razões de fundo que levaram a essa inédita hegemonia político-partidária, não alcançada por nenhum outro partido em pleitos estaduais na história democrática brasileira recente? O que esperar da disputa em 2014?
Essas são algumas das questões levantadas pelo pesquisador Danilo Cesar Fiore, cujo trabalho de investigação foi apresentado no IV Seminário Discente da Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), realizado ao longo desta semana.
Com a série histórica dos resultados das votações eleitorais em mãos, Fiore foi capaz de refletir sobre algumas hipóteses que explicariam a força tucana no Estado. A primeira delas passa pela paulatina decadência de siglas que protagonizaram as disputas da década de 80 e início da de 90: o PMDB (ex-MDB) e o PDS/PP (ex-Arena).
Na avaliação do pesquisador, baseada em literatura especializada na questão, isso teria ocorrido não apenas pela dissidência do PMDB que criaria o PSDB, enfraquecendo o partido original a partir de 1988. Aliado a esse fato, a liderança que permaneceu – Orestes Quércia – teria direcionado a sigla a um caminho de oligarquização e insulamento de lideranças, que dificultou a renovação de quadros. História semelhante teria ocorrido com o PDS/PP, dominado por Paulo Maluf.
“Em todos os pleitos até 2002 houve segundo turno [em São Paulo], e a votação somada dos dois primeiros colocados chegou, no máximo, a 70% do total de votos válidos. Não causa surpresa, assim, que nos dois últimos pleitos, quando a votação somada de ambos os candidatos atingiu quase 90% do total de votos, não tenha havido a segunda rodada eleitoral”, explica o pesquisador da USP. “A hipótese, portanto, é de que o PSDB teria absorvido o “espólio” destes partidos decadentes”.
Absorver o espólio significa, entre outros aspectos, receber apoio de eleitores identificados com o campo da centro-direita, e que ficaram “órfãos” com a decadência de PMDB e PDS/PP. Com propostas que respondem ao campo conservador, como por exemplo em relação à segurança pública, obtiveram apoio daqueles que antes optavam pelo malufismo.
Um outro aspecto que explicaria a força peessedebista no Estado teria fundo sociopolítico. Para Fiore, São Paulo “possui características específicas em relação ao resto do Brasil, como por exemplo o menor número de eleitores de estratos mais pobres e nível de desenvolvimento econômico mais elevado – ressalvadas regiões de carência significativa, como o Pontal do Paranapanema, o Sudoeste Paulista, o Vale do Ribeira e as franjas periféricas das grandes metrópoles”.
Com isso, a defesa dos interesses dessa parcela mais abastada da população brasileira, representada mais pelo ideal da “estabilidade econômica tucana” do que pelo projeto de “combate à pobreza do PT”, teria mais repercussão entre os eleitores paulistas.
“É curioso notar como o cenário estadual se configura na chave inversa do nível nacional em termos partidários, com PT e PSDB buscando resguardar seus respectivos territórios e, paralelamente, alcançar a tão aguardada vitória no campo adversário”, avalia o pesquisador.
Os tucanos, assim, para “resguardar seu território”, optaram por escalar caciques nacionais para enfrentar as disputas: Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra se revezaram nas eleições. Os três também foram candidatos à presidência da República, o que, na visão de Fiore e da bibliografia especializada, faz parte de uma “estratégia coerente de ocupação de campo político-eleitoral”.
Em que pese todos esses elementos estarem presentes neste pleito de 2014 – Alckmin disputará a reeleição –, o pesquisador avalia que é possível haver surpresas. E por quê? Em primeiro lugar, ele destaca a queda relativa de votos do PSDB nas eleições de 2010 em relação a 2006, bem como o crescimento constante do percentual de votos no PT em todo o Estado. Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, será o candidato petista.
Em segundo lugar, o PT parece ter voltado sua atenção – e recursos – para as eleições estaduais, após um longo período priorizando o pleito presidencial. É o caso não só de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro, onde o senador Lindbergh Farias tentará se eleger.
Por fim, uma última razão seria a presença de outros candidatos competitivos. Após anos, o PMDB finalmente apresenta um nome forte – Paulo Skaf, ao menos segundo as últimas pesquisas –, assim como campo conservador deve ter um representante de peso – Gilberto Kassab, do PSD, ex-prefeito de São Paulo.
Créditos da foto: Arquivo
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