Primárias bilionárias: os novos chefes políticos nos EUA

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Da Carta Maior

As oito pessoas mais ricas no país, com uma riqueza avaliada em aproximadamente US$ 40 bilhões, não esperaram o começo oficial das primárias republicanas.

O período das primárias republicanas para as eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos começou com a “Primária Sheldon Adelson”. As oito pessoas mais ricas no país, com uma riqueza avaliada em aproximadamente 40 bilhões de dólares, não esperaram o começo oficial das primárias republicanas. Eles têm sua primária própria.

Os republicanos até a chamaram de “Primária Sheldon”. Adelson assegurou audiência para as esperadas prévias de primavera da coalizão judaica republicana, em Las Vegas. Ao longo de 4 dias regagos a uísque, golfe, torneios de pôquer e encontros privados, o magnata de 80 anos examinou os mais prováveis candidatos a presidente dos republicanos, para 2016.


Adelson bancou sozinho a disputa presidencial do candidato Newt Gingrich em 2012, com aproximadamente 16 milhões de dólares em contribuições, parte dos quais financiaram o infame documentário “Quando Mitt Romney veio à cidade”. Quando Gingrich saiu da disputa, Adelson despejou 30 milhões na campanha de Romney. Quem quer que tenha o apoio de Adelson terá bilhões na sua campanha, em 2016.

Gastar 93 milhões de dólares em candidatos derrotados em 2012 não tornou Adelson um cara tímido, para 2016. Ele está mais cuidadoso nos seus investimentos, agora. “Ele não quer algum extremista louco na disputa”, disse um amigo dele. O apoiador dos republicanos, Victor Chaltiel informou: “Ele quer alguém com tenha chances de vencer as eleições, que seja razoável suas posições, mas não totalmente louco”. (Adelson tem defendido o uso de armas nucleares contra o Irã. Assim, “louco” é algo relativo).

A “primária bilionária” é um retorno ao que Paul Krugman chamou de “capitalismo patrimonial”, em que poucos milionários controlam as rédeas da economia, e usam sua riqueza para influenciar a política. Graças à maior transferência de riqueza da história dos EUA, os ricos estão mais ricos do que nunca. E, graças à decisão da Suprema Corte, conhecida como Citizen’s United [algo como Unidade dos Cidadãos], não há limite para o que eles podem financiar, numa campanha eleitoral.

Os novos patrões políticos bilionários não estão limitados à política nacional. Charles e David Koch estão na lista da revista Forbes das pessoas mais ricas do planeta. De acordo com a pesquisa de campo da Universidade George Washington, a maioria dos americanos nunca ouviu falar dos irmãos Koch, mas a riqueza dos Koch está “intrincada” na política local.

Junto ao gasto de milhões de dólares na disputa para o senado de 2014, o Washington Postinforma que os Koch estão investindo em disputas “ultra locais”, por meio de sua organização Americans For Prosperity [algo como Americanos pela Prosperidade]. O capítulo Wisconsin está ligado a uma eleição do Condado Iron, na qual disputaram contra empresas conhecidas como radicais “anti-mineração” e bancaram a distribuição de 1000 panfletos num município com apenas 5000 moradores em idade de votar. A AFP também está ligada a uma disputa local, em Iowa, e em outras disputas relativas a isenções fiscais, no Kansas, em Ohio e no Texas.

O que querem os irmãos Koch? David Koch diz: “alguém de tem se preocupar em salvar o país e em preservar o seu sistema de oportunidades”. Mas o New York Times é mais específico: “A ideia é fortalecer e formar equipes numa comunidade, que deem uma voz local conservadora permanente, dentre os trabalhadores que vivem na vizinhança e nas proximidades e avaliar as nuances das questões locais”.
Nada disso é novo. É uma velha estratégia, enraizada na noção de que “toda política é local”. Funcionou bem para Ralph Reed e para a Coalizão Cristã nos anos 80 e 90. Hoje, bilionários estão utilizando-a, mas com que objetivos e quais as suas implicações para a política americana?
 
Os bilionários de direita estão construindo sua própria máquina política, para promoverem seus interesses pessoais e preservarem seus lucros. Os irmãos Koch tem milhões espalhados em campanhas contra o Obamacare e contra as pesquisas que investigam os impactos ambientais, como parte de uma campanha mais ampla contra as regulações defendidas pelo governo – as quais são por eles percebidas como uma ameaça aos seus investimentos em combustível fóssil e às fortunas pessoais.
 
Adelson fará “o que for necessário” para barrar  os jogos online e assim proteger a margem de lucro de seus cassinos. Ele contratou o ex-senador democrata do governo Blanche Lincoln e consultor de empresa de lobby para sua corporação de Las Vegas. Embora não seja um apoiador antigo, Adelson contribuiu com 15600 dólares para a campanha do Senador Lindsey Graham, que apresentou um projeto de lei que bane o jogo online.
 
Adelson e os irmãos Koch mostram como os ricos podem usar seu dinheiro -  num contexto político pós-Citizens United – para impactar disputas e formatar a política. Suas mangueiras de dinheiro podem facilmente apagar outras forças políticas e estreitar o campo político de outras candidaturas. O custo de uma eleição cada vez exige candidatos mais ricos, ou padrinhos ricos. Aqueles que não têm nem um nem outro não precisam não precisam concorrer, nem mesmo em nível estadual ou local.
 
Os patronos ricos, como Adelson e os Koch, não investem sem esperar retorno. Eles provavelmente cobrarão aquilo por que pagaram. Um estudo conjunto das Universidades Yale e Berkeley evidencia que o dinheiro compra, sim, a influência política. O estudo mostrou que os doadores de campanhas têm mais chances de conseguirem agenda de reuniões com parlamentares – como resultado ou na esperança de se obter retorno dos investimentos feitos na campanha. O encontro com parlamentares pode garantir dinheiro suficiente para campanhas de reeleição. (Ponto para o argumento do juiz Anthony Kennedy, segundo o qual grandes contribuintes de campanhas eleitorais não levam nem criam uma aparência de quiproquó de corrupção”).

Os bilionários patrões politicos, como Adelson e os irmãos Koch são os novos oligarcas americanos. Os partidos políticos podem até ser influenciados pela opinião pública, mas os oligarcas americanos agem em interesse próprio sem qualquer preocupação com o sentimento público. Eles não são responsáveis por ninguém, e os legisladores em suas listas de pagamentos são mais responsáveis respondem mais aos seus patrões bilionários políticos do que ao resto do eleitorado estadunidense.



Tradução: Louise Antônia León


Créditos da foto: Arquivo

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