O deputado e o doleiro, os candidatos e os graneiros. Sem financiamento público não se moraliza a política

 Autor: Fernando Brito
financiam

Quando, na esteira dos protestos do ano passado, a presidenta Dilma Rousseff e Lula insistiram na adoção do financiamento público de campanhas, a direita e a mídia se voltaram contra o “absurdo” de que a disputa pelo voto popular fosse bancada com recursos públicos, a direita e seus jornais gritaram contra essa “imoralidade”.
“Proibir a contribuição de empresas para campanhas e partidos é o mesmo que investir quixotescamente contra moinhos de vento.”, ensinava O Globo.
Financiamento público, não!, bradava o Zero Hora.

E todos os outros iam por aí.
Os argumentos são, basicamente, três.
O primeiro é que isso implicaria gastar dinheiro público com propaganda de candidato. como se o dinheiro das grandes doações privadas, como todo mundo está cansado de saber, em algum momento tenham deixado de sair – ou sairão, no futuro – dos cofres públicos, através de licitações, contratos, isenções e uma infinidade de favores.
O segundo é o de que isso não evitaria o “caixa-dois”, como se algo no mundo evitasse o “caixa-dois”. Aliás, a única coisa que, embora não evitasse, o permitia rastrear, salvo se fosse em espécie, era a CPMF, que eles próprios lutaram para extinguir, em lugar de, como foi proposto, reforma-la, isentando as pequenas movimentações bancárias.
E o terceiro seria de que isso daria poder aos “caciques” partidários, como se este não fosse, já agora, total na maioria dos partidos. Aliás, exceto pelo PT, que tem um processo de eleição direta, não conheço outro em que haja ao menos um tentativa de  democracia interna.
O  outro lado da moeda – literalmente da moeda – é o que se assiste na vida pública brasileira.
O distinto amigo, a cara leitora e este rabugento blogueiro, nenhum de nós três, por mais bem intencionado e sonhador que seja tem condições de ser candidato sequer a vereador.  Não é, hoje, algo para o bico de quem vive de defender idéias.
Todo mundo sabe que, exceto no caso de pessoas notórias nos meios de comunicação ou em áreas muito divulgadas, como o esporte, quem quiser ser candidato tem de estar preparado para gastar ou conseguir muito dinheiro.
Muito não é força de expressão, são milhões de reais.
Nada que 99,9% possa ter do seu.
E se não é do seu, o deputado passa, no fundo, a ser “deles”.
É como disse, outro dia, o jornalista Franklin Martins, no CartaMaior: “ aqui, o candidato se elege e acha que não deve nada a ninguém – a não ser a quem financiou a campanha dele.”
Claro que há exceções, mas são raríssimas. Assim como existem também os parlamentares que gostariam de se ver livres de um “passar o chapéu” frequentemente comprometedor. Mas inevitável.
Enquanto não tivermos a coragem de estabelecer que os gastos de campanha, salvo por doações de pessoas físicas e de valor limitado, sejam apenas os realizados dentro dos limites de cotas de um fundo partidário revigorado e que o voto seja, como deve ser na democracia representativa, dado a partidos e não a indivíduos, não nos livraremos disso.
O caso do Deputado André Vargas – que deve ter o direito de se defender e de se explicar está, todos sabemos, ganhando as páginas apenas porque ele é um pueril, numa espécie de vingança contra seu gesto parvo de erguer o punho diante de Joaquim Barbosa – é apenas um entre quase todos os deputados, sobre os quais, desejando a mídia, vai encontrar situações, no mínimo, pouco recomendáveis.
O deputado petista, querendo ou não, atentou contra milhares e milhares de seus companheiros, que aderem a uma causa, passando por isso muito mais dificuldades do que a de comprar, parcelada, uma passagem de avião.
E acabou se igualando, de maneira porca, aos que reúnem os barões do capital e lhes prometem servir e proteger, com o voto dos que votam com o estômago.

Comentários