O assassinato de Malhães e o “nunca mais”. Nunca mais, mesmo?
Autor: Fernando Brito
O assassinato do coronel Paulo Malhães, que há um mês confessou uma série da assassinatos cometidos por ele e por outros durante a ditadura, embora possa ter sido simples coincidência, não parece ser apenas uma terrível casualidade.
Há vários elementos que permitem pensar nesta linha, mas este não é um blog policial, para entrar nesse debate, mesmo que a permanência de assaltantes numa simples casa de sítio por longas nove horas tenha o significado óbvio de que estavam procurando algo que ia além de jóias, dinheiro, armas ou eletrodomésticos.
Mais importante é uma reflexão sobre o lado político tenebroso que esta possibilidade abre.
Não é algo que se possa deixar, exclusivamente, nas mãos de um delegado de polícia. Não se pode correr o risco de uma insuficiência, ou de cumplicidades ou mesmo de incompreensão da gravidade do que isso pode, no limite, representar.
Que as associações criminosas formadas no mundo da repressão política ainda sobrevivam, com conexões que lhes permitam “agir” quando se vêem ameaçadas de serem reveladas.
Lembremo-nos que se trata de pessoas que, mais de uma vez, não hesitaram em matar e ainda forjar cenas e situações que encobrissem as responsabilidades pelos assassinatos.
A recusa do Supremo Tribunal Federal em permitir a abertura das investigações sobre os crimes da ditadura estendeu um manto de impunidade sobre os que a praticaram.
É inacreditável que a mais alta Corte deste país, indiretamente, possa ser cúmplice deste tipo de “eliminação” da memória nacional.
O desejo de que nunca mais vivamos assassinatos políticos passa, necessariamente, pelo fato de que assassinatos políticos – que dizem respeito a toda a sociedade – jamais possam ficar ocultos, como têm permitido as decisões do Supremo.
Porque é nas sombras que este tipo de fantasma sobrevive.
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