O amigo do doleiro e o amigo do bicheiro. Iguais? Como, se somos diferentes?



doleirobicheiro

 3 de abril de 2014 | 21:56 Autor: Fernando Brito

A Câmara dos Deputados, depois de dez mil anos, resolveu aplicar uma “punição” ao deputado Carlos Alberto Leréia, tucano amigo e favorecido do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Serão 90 dias de “suspensão”, como a um colegial traquinas.
Ao mesmo tempo, trava-se a polêmica em torno da renúncia do deputado petista André Vargas, amigo e favorecido com uma viagem de lazer num jatinho pelo doleiro Alberto Yousseff, que já deu este tipo de mimo a Álvaro Dias, o arauto da moralidade tucana.
(Aliás, o empréstimo aéreo, noticiado pela Folha em 2001 e jamais relembrado, foi denunciado pelo ex-secretário de Fazenda de Maringá (PR), Luís Antônio Paolicchi, que apareceu morto num porta-malas de automóvel há dois anos.)

Será que o deputado petista deve renunciar ao mandato, se outros fazem o mesmo e contam com a benemerência dos seus pares e a da mídia?
Não seria o caso de ser com ele indulgente como se é com os outros?
A resposta é não.
Por vários motivos, os maiores deles produzidos pelo próprio André Vargas.
Um deputado que pretenda representar o sentimento de transformação dasd práticas políticas, como desejam os que lhe deram o mandato, sabe que não foi eleito para ganhar este tipo de “presentinhos” de empresários, doleiros ou não-doleiros.
Pegue um avião comercial no aeroporto, como fazem milhões de brasileiros e deixe de frescuras, ainda mais que é viagem de férias com a família.
Depois, mentiu descaradamente quando disse que “não sabia” que o doleiro era doleiro e não explicou os seus diálogos “me ajuda aí” com ele.
Por último, brincou com seu partido e com a opinião pública quando disse que renunciaria e depois “desistiu” de renunciar.
A desculpa de que “descobriu” que isso não o livraria de um processo de cassação é risível, ridícula mesmo, porque todos – ali na Câmara, sobretudo – que o processo não se interrompe com a renúncia depois de iniciado.
Lula e a direção do PT fazem muito bem em pressionar o deputado para que renuncie. A esquerda, sobretudo a que defende uma reforma política moralizadora – e não moralista, esta falsidade – não pode repetir as práticas que a direita, impunemente,  transformou em rotina na vida política.
Geralmente abstenho-me de dar opiniões sobre a vida interna do PT, até porque não sou filiado ao partido. Mas o caso do deputado André Vargas não diz respeito apenas ao PT, afeta o esforço imenso que as forças progressistas terão de fazer para que o conservadorismo não engane a população procurando atirar todos os políticos na mesma vala imunda.

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