Israel construiu mais de 14 mil casas ilegais durante diálogo de paz, diz ONG
Do Opera Mundi
Em comunicado, ONU afirmou que prática de desalojamento praticada por Israel “viola a lei humanitária internacional”
Denúncia realizada nesta terça-feira (29/04) pela ONG israelense Peace Now (Paz Agora) revela que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aprovou a construção ilegal de 14 mil novas casas em assentamentos judaicos na Cisjordânia durante os últimos nove meses em que durou o processo de paz, realizado com o apoio dos Estados Unidos. Hoje venceu o prazo iniciado em julho do ano passado para que Israel e a Palestina alcançassem um acordo para solucionar o conflito.
"Durante os nove meses de esforços do secretário [de Estado norte-americano John] Kerry na região, o governo de Netanyahu promoveu planos e ofertas de pelo menos 13.850 unidades de habitação em assentamentos [na Cisjordânia] e em Jerusalém Oriental", afirmou a ONG.
Segundo a fonte, as quase 14 mil casas "são um número sem precedentes, que representam uma média de 50 casas por dia ou 1.540 ao mês". O que implica "um número de ofertas quatro vezes maior em comparação aos anos anteriores". De acordo com a lei internacional, todos os assentamentos israelenses em território palestino ocupado são ilegais.
O dirigente da ONG que criticou a atuação israelense, Yariv Oppenheimer, afirmou à Agência AFP que “essas cifras mostram melhor que qualquer outra coisa que Netanyahu não foi sério durante as negociações e fez tudo o que foi possível para que uma solução dos Estados para os povos fosse impossível”. E acrescentou que Israel “atua para fortalecer seu controle sobre os territórios ocupados".
Desalojamentos
O escritório do Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos se mostrou “muito preocupado” pelo desalojamento de cinco famílias de beduínos palestinos anunciada pelo governo de Israel para construir assentamentos para israelenses hebreus, conforme comunicado publicado hoje
A porta-voz do Escritório, Cécile Pouilly, afirmou, em nota, que tal prática “viola a lei humanitária internacional que proíbe desalojamentos forçados” e lembrou que as autoridades israelenses têm “a obrigação de proteger a população palestina local”.
Também nesta terça, a agência Reuters anunciou que forças israelenses demoliram várias estruturas, incluindo uma mesquita, em uma vila palestina.
O exército israelense alega que as construções foram realizadas sem a autorização de Israel. Palestinos afirmam, por sua vez, que os documentos que autorizam as obras são “quase impossíveis” de serem obtidos. Moradores da região disseram à Reuters que cerca de 30 pessoas ficaram desabrigadas após a ação.
"Eu vim fazer minhas orações da manhã na mesquita e encontrei o exército em torno dela", disse o morador Abdel Fattah Maarouf, de 63 anos. "Então a derrubaram. Eles querem esta área para construir assentamentos aqui". O exército israelense não se pronunciou sobre o ocorrido.
Negociações
Na última semana, após o grupo islâmico Hamas e a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), do presidente Mahmoud Abbas, anunciarem um acordo de reconciliação, o primeiro-ministro de Israel anunciou o fim das conversas de paz que vinham sendo mantidas há nove meses e se encerrariam nesta terça.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, declarou hoje que não se pode alcançar a paz com Israel sem que antes sejam definidas as fronteiras do futuro Estado palestino, os prisioneiros sejam libertados e se paralise a colonização. “Desde a criação de Israel, ninguém sabe quais são as fronteiras. Estamos determinados a conhecer nossas fronteiras e as suas, sem isso não haverá paz”, afirmou em discurso em Ramallah.
Israel, por sua vez, acusa Abas de ter preferido o Hamas, a quem acusa de ser terrorista, às negociações de paz. ”Quem escolhe o Hamas não quer a paz", afirmou Netanyahu.
Estado de apartheid
Após a polêmica gerada em torno de suas supostas afirmações, Kerry negou nesta terça a declaração atribuída a ele de que Israel pode se converter em um “Estado de apartheid”. “Não acredito, nem nunca declarei, de maneira pública ou privada, que Israel é um estado de apartheid ou que tem a intenção de sê-lo”, disse em um comunicado.
As declarações rebatem o que foi divulgado ontem pelo portal Daily Beast. De acordo com o veículo, Kerry teria dado as declarações a representantes oficiais e especialistas norte-americanos, europeus, russos e japoneses na última sexta-feira (25/04). Kerry foi o principal responsável por mediar os diálogos de paz entre Palestina e Israel nos últimos nove meses e que terminaram sem avanços.
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