Dinamismo da Ásia exige que EUA reformatem suas políticas anacrônicas
Deng Yushan, Xinhua, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
POSTADO POR CASTOR FILHO
Barack Obama ladeado pelo PM Shinzo Abe do Japão e Park Geun-hye, Pres. da Coreia do Sul em 25/3/2014 (foto: Pablo Martinez Monsivais) |
Seis meses depois que um “fechamento” [1] forçado do Executivo dos EUA obrigou-o a improvisar uma visita à Ásia, o Presidente dos EUA, Barack Obama, volta ao continente que cresce, para consolidar o engajamento de Washington com a região do Pacífico Asiático.
A visita a quatro países acontece no contexto da política chamada de “reequilibramento [pivoteamento] para a Ásia” do governo Obama, que sugere uma disposição dos EUA para redirecionar prioridades e recursos para o outro lado do Oceano Pacífico.
Washington tem boa razão para pivotear-se na direção da Ásia. A Ásia é hoje a usina de energia da economia mundial; ali estão importantes aliados dos EUA e grande quantidade de significativos interesses dos EUA. País que não veja ou, mesmo, que desconsidere o papel da Ásia, sabe que as consequências pesarão sobre ele mesmo.
Mas isso não é tudo. Por trás da fachada de pragmatismo, há o fator China. Por mais que Washington repetidamente negue, a estratégia de pivoteamento/“reequilibramento” encobre esquema cuidadosamente calculado para engaiolar o gigante asiático que não para de crescer, reconvocando os aliados dos EUA e reforçando a presença norte-americana.
Se, por fora, a lógica de Washington sugere uma potência adaptável e de visão ampla, o que se vê por dentro é uma superpotência míope e esclerosada que deixou, ela mesma, se aprisionar pela história recente, numa posição de confrontação belicista, obnubliada por pseudo realismo falsificado e ultrapassado, que a impede de ver que a China orienta-se necessariamente para a paz, não para a guerra.
Esse traço de duas caras é perigoso e insustentável. Com a paisagem asiática já dramaticamente transformada, os EUA têm de libertar-se de suas algemas históricas e filosóficas e atualizar sua política para a Ásia; têm de alinhá-la com as novas realidades, seja para benefícios dos próprios EUA, seja para benefício da região e de todo o planeta.
Como primeiro e mais importante item dessa reformatação, que já virá atrasada, Washington que trate de respeitar os interesses centrais e legítimos da China; e que se dedique a trabalhar séria e genuinamente com Pequim para construir confiança mútua e melhorar nossas relações bilaterais.
A interação entre as duas maiores economias é o relacionamento bilateral mais importante, hoje, no mundo. Por isso, apesar de Obama ter ignorado a China nessa sua viagem, a China não ignora Obama em suas andanças com anfitriões japoneses, sul-coreanos, malaios e filipinos.
A dedicação dos dois pesos-pesados, para cultivar um novo tipo de relacionamento entre grandes potências, é estrategicamente estimulante. Mas Washington tem de fazer, em vez de só prometer.
O mínimo que Washington tem de fazer é parar de inflar a teoria lá mesmo inventada de que haveria uma “ameaça chinesa”; e que deixe de se imiscuir, sem qualquer direito ou legitimidade, em disputas marítimas e territoriais legítimas entre a China e alguns de seus vizinhos.
Paralelamente, os EUA que reavaliem seu sistema de hegemonia anacrônica de alianças; e que parem de insuflar parceiros seus, como Japão e Filipinas – que têm inflado as tensões regionais com movimentos de provocação.
Reforçadas pelo – ou, pelo menos, aproveitando-se do – pivoteamento dos EUA para a Ásia, Tóquio e Manila tornam-se mais agressivas e mais beligerantes nos contatos com Pequim nos mares do Leste e do Sul da China.
Em claro sinal do atraso desses malfadados aliados de Washington, o Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe e número alarmante de altas autoridades japonesas prestaram homenagens, nos últimos dias, no Santuário Yasukuni, à memória de 14 criminosos de guerra japoneses, julgados e condenados depois da IIª. Guerra Mundial.
Essas visitas e as homenagens, que ofendem China, Coreia do Sul e outras vítimas do Japão militarista, aconteceram na véspera da visita de Obama – e apesar de o governo dos EUA ter explicitamente suplicado a Tóquio que mantivesse as coisas bem separadas.
A bofetada que o Japão aplicou a Obama deve bastar para arrancar Washington das ilusões em que vive e trazer os EUA de volta à realidade. Esses efeitos colaterais de seu modus operandi na Ásia é que são a ameaça real; e devem ser o principal objetivo das preocupações dos EUA, a serem contidos.
É mais que hora de Obama enviar mensagem clara à Ásia e ao mundo: ele só terá feito por merecer o auto−atribuído título de “Primeiro Presidente pacífico/do Pacífico dos EUA”, se reformatar seu país e o transformar em ator construtivo e responsável na região do Pacífico Asiático.
Notas dos tradutores
[1] Orig. government shutdown [lit. “trancamento” do Executivo, pelo Congresso]. Acontece quando o Congresso decide não aprovar ou rejeitar as leis necessárias para que as operações e agências do Executivo recebam os fundos necessários para operar. A Constituição dos EUA determina que, em caso de as leis do Orçamento não serem aprovadas no prazo fixado, o Executivo Federal tem de “trancar”, ou providenciar a extinção, das unidades/atividades afetadas.
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