A maior crise na campanha de AécioUma crise se abate
sobre a campanha de Aécio Neves. De todos os problemas que já enfrentou,
a bomba de efeito retardado chamada "Pimenta da Veiga" é, sem sombra de
dúvida, a maior até o momento.
Ela explodiu justo em Minas Gerais, onde Aécio esperava tirar parte da diferença de votos que Dilma terá em outros estados.
A
escolha de Pimenta da Veiga, um dos pais das privatizações dos anos
1990 e um dos filhos diletos do governo FHC, parecia ideal, mas foi
implodida a partir do momento em que a Polícia Federal (PF) desvelou a
teia de relações montadas pelas empresas de Marcos Valério no mensalão
tucano.
A PF indiciou Pimenta por ligações consideradas mais que suspeitas com o esquema.
Como
se o problema já não fosse suficientemente grande, Aécio e Pimenta
cometeram o erro de levantar suspeitas sobre a ação da PF.
Para
tentar rebater o inquérito e confrontar a PF, o indiciado alegou que
seus negócios com Marcos Valério eram lícitos. Como “prova”, afirmou que
tudo havia sido declarado à Receita Federal.
A informação
mostrou suas pernas curtas quando veio o desmentido, da própria PF, de
que Pimenta só revelou seus negócios com as empresas que abasteciam o
mensalão tucano depois de o esquema ter sido estourado pela CPI dos
Correios.
Após o escândalo, em 2005, Pimenta fez uma declaração
retificadora, na qual apareceram, finalmente, R$300 mil. Grande ideia,
só que, para a PF, o esquecimento e a retificação, feita só depois da
CPI, são prova da tentativa de esconder o dinheiro.
O risco é que
o pré-candidato do PSDB de Minas, agora provável ex-pré-candidato, se
transforme em réu em plena campanha. Mesmo se afastado da disputa,
Pimenta da Veiga permanece como rescaldo.
Devagar e indecisoA
trapalhada em Minas foi grande e provoca não apenas um estrago na
candidatura tucana ao Governo do Estado. Reforça dúvidas, sobretudo
entre os tucanos paulistas (à exceção de FHC), sobre a própria
perspicácia de Aécio nesta campanha.
A calma entre os
correligionários já está com o prazo de validade vencido, dado o avanço
do calendário eleitoral e as intenções de voto empacadas, pesquisa após
pesquisa.
Considerado lerdo para pôr sua candidatura na rua e
acanhado em falar para valer como oposicionista, Aécio foi alertado de
que precisava reagir para ficar claro seu perfil anti-Dilma e evitar que
caísse sobre ele a mesma pecha de picolé de chuchu que colou em Geraldo
Alckmin, nacionalmente, em 2006.
A aproximação com Eduardo
Campos foi vista como um péssimo negócio, que beneficiaria mais o PSB,
bem menor em todo o país, do que o PSDB.
Até agora, Aécio não foi
capaz nem mesmo de escolher o nome para a sua vice. Entre as opções e
indecisões, se fala até em Fernando Henrique Cardoso, que, mesmo
internamente ao PSDB, é tido como a alternativa mais desastrosa - tal a
rejeição que o ex-presidente goza na opinião pública.
Como se
isso não bastasse, falta palanque próprio a Aécio em estados
importantes. Onde se comemora a adesão de setores do PMDB, como no caso
da Bahia e no Rio de Janeiro, os festejos encobrem um quadro de velório
do PSDB enquanto partido.
Além da Bahia e Rio de Janeiro, no Rio
Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Alagoas
e no Distrito Federal, o partido ou recorrerá a alianças com outros
partidos ou terá que se contentar em lançar candidatos “pangarés”,
pouco competitivos.
Situação grave, pelo tamanho do colégio
eleitoral, é a do Rio de Janeiro. O Partido se esfacelou no estado.
Aécio, ao procurar remendar, cometeu outra trapalhada ao lançar uma
celebridade, o técnico de vôlei, Bernardinho, que recusou a candidatura
logo após ter sido “confirmada” por Aécio.
Depois de cogitar
Ellen Gracie, a inexpressiva ex-ministra do STF, o Partido pode acabar
não lançando ninguém, deixando o pouco que resta de sua base livre para
apoiar a candidatura de Luiz Fernando Pezão, do PMDB.
Aposta na mídia e nos bancos para decidir a eleiçãoCom
tamanhas fragilidades, os tucanos ainda têm que evitar que Eduardo
Campos os ultrapasse. Para tanto, contam com o fato de que, se o PSDB
vai mal das pernas, ainda assim tem uma máquina eleitoral maior que a do
PSB.
Com seu partido enfraquecido, resta ao PSDB torcer para
que os partidos não sejam a principal força motriz das eleições deste
ano.
Os tucanos esperam que a velha mídia e os financiadores de
campanha, principalmente os bancos, façam toda a diferença,
principalmente diante do alastramento do inconformismo entre uma parcela
expressiva de eleitores.
Nesta hora, o pedido de vistas do
ministro Gilmar Mendes, no STF, que segura a decisão que proibirá o
financiamento empresarial a campanhas eleitorais, vem a calhar.
Para atender à velha mídia, Aécio veio para cima com o mote da CPI da Petrobrás.
Para
atender aos bancos, principalmente o Itaú Unibanco, deixou correr a
informação de que Armínio Fraga é o seu candidato a ministro da Fazenda.
É
bom lembrar que, quando Fraga foi presidente do Banco Central de FHC,
tinha Ilan Goldfajn como diretor de política econômica. Ambos se
tornariam sócios na Gávea Investimentos. Goldfajn é hoje
economista-chefe é sócio do Itaú Unibanco.
Por isso, apesar da tempestade, na mídia tradicional, a previsão para Aécio Neves é de tempo bom.
Para parceiros como o Itaú Unibanco, mesmo com o inferno astral do PSDB, Aécio continua sendo um partidão.
(*) Antonio Lassance é cientista político
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