A baixaria começou, preparem-se

 


Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Uma amiga no Face me mandou um texto que está circulando na internet, contando uma história escabrosa que liga a refinaria de Pasadena à eleição de Lula e Dilma. É um texto delirante, mas que eu parei para analisar como um desses cientistas que encontram uma borboleta rara.

De cara, lembrou-me a atmosfera paranóica e acusatória do último romance de Umberto Eco, Cemitério de Praga. As redes sociais reinventaram a imprensa marrom e seus delírios antissemitas, os quais, no Brasil de hoje, e sobretudo nesse ano eleitoral, transmutaram-se num antipetismo psicótico.


Eles agora pintarão os petistas como donos do mundo, como os judeus, e querendo dominar tudo. Com isso, justificam qualquer desonestidade midiática. Primeiro eles chamam Lula/Dilma de comunistas, depois eles os acusam de laços com o capitalismo… belga.

O que mais me intrigou, contudo, é que, mesmo que tudo fosse verdade. Não consegui ver nenhum crime.

A fofoca internáutica diz que Albert Frère, proprietário da Astra, teria 8% de uma empresa, que é proprietária de outra no Brasil, que por sua vez é “dona” (dona?) de “Estreito, Jirau, Machadinho, Itá e dezenas de hidrelétricas, termelétricas e eólicas”. Pô, mais um pouco e a fofoca virtual listava todas as grandes obras do governo Lula e Dilma.

Repare só: o governo FHC era tão muquirana que jamais alguém o “acusaria” de ter ligações com construtores de tantas hidrelétricas, eólicas e termelétricas. Seu governo não construía nada. Suas ligações eram com especuladores e banqueiros.

Não houve preocupação com quem patrocinou um filme sobre FHC, porque ninguém quis fazer filme sobre ele...

Se Frère ajudou a construir tantas hidrelétricas no país, e ainda investiu no cinema brasileiro, deveríamos agradecê-lo. Fez muito mais que a Globo, por exemplo, que manipula a informação e ainda sonega impostos.

Só que a nota inteira nasce de uma desinformação. A de que a Astra pagou somente US$ 42,5 milhões pela refinaria de Pasadena. Ninguém sabe, e talvez nunca saberemos, o quanto Astra investiu em Pasadena. Era um negócio privado. A Astra pode ter dado, por exemplo, US$ 50 milhões por fora para Henry Rosenberg, antigo dono de Pasadena, cujo histórico não era exatamente de um bom moço.

O preço pago pela Petrobrás por Pasadena era um preço de mercado, até mesmo abaixo. Não interessava à Petrobrás os detalhes de um negócio anterior, e sim adquirir uma nova refinaria por um bom preço. E Pasadena não era sucata.

Astra investiu US$ 84 milhões em reforma de maquinários e mais US$ 300 milhões para montar um braço comercial para a empresa. Ninguém investe isso numa “sucata”. O termo, aliás, ignora que o valor de Pasadena vai além da idade de seus maquinários, ele também está na infra-estrutura da refinaria para distribuir derivados para quase todo o país, via oleodutos, sem precisar usar caminhões de gasolina.

Ignora também a localização estratégica da refinaria, bem no canal de Houston, que dá no golfo do México, onde ficam os principais empreendimentos petrolíferos na América do Norte.

O texto revela como será a campanha presidencial e como serão usadas as redes sociais. Será montada uma grande rede de mentiras. O “envenenamento” político de que falava João Goulart, e que resultou no golpe militar, volta a mostrar suas garras, como aliás jamais deixou de fazê-lo desde o início do governo Lula.

O governo tem obrigação moral de reagir. Porque o clima é de golpe. Não mais de golpe militar, mas um golpe político do mesmo jeito, liderado pelas mesmas forças que operaram em 1964. Exatamente pelas mesmas forças. Mídia, juízes, militares, empresários, todos unidos contra o povo.

E agora, como vimos no regabofe de Aécio com empresários paulistas, não mais sequer escondendo isso.

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