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Venezuela e Ucrânia, em cada ponta da pinça
Nunca antes foi tão escrachada a simbiose entre os Estados Unidos,
os monopólios mundiais de comunicação e as potências europeias aliadas
dos EUA. Igualmente, desde muito, os EUA não expunham o mundo à
possibilidade de conflitos simultaneamente em duas regiões do planeta.
Por Jeferson Miola*, na Carta Maior
Os acontecimentos na Venezuela e na Ucrânia nos últimos meses confirmam essa perigosa realidade.
Barack Obama conseguiu o que seu antecessor não havia conseguido na
farsa no Iraque em 2003 – George Bush, o “senhor das guerras”, sofreu a
oposição da França e da Alemanha naquela ocupação criminosa e não
autorizada pela ONU. Já o “senhor dos drones”, dessa vez, vem
assegurando ampla solidariedade dos seus vassalos europeus - contando,
inclusive, com a subserviência canina do “socialista” Hollande.
As capitais Caracas e Kiev estão quase 10 mil quilômetros distantes
entre si. Quando, porém, o assunto são os interesses geopolíticos,
econômicos e estratégicos dos EUA, a distância geográfica some e a
Venezuela e a Ucrânia se parecem como gêmeos siameses – dois alvos
grudados um ao outro, padecendo da mesma sorte de intervenções
promovidas e/ou apoiadas pelos EUA.
Na Ucrânia, há meses os EUA apoiam, financiam e instrumentalizam muitas
faunas de agrupamentos de extrema-direita: neonazistas, fascistas,
antissemitas.
Derrubam o governo, afastam a Ucrânia da Rússia para aproximá-la da
União Europeia e operam os interesses estratégicos e econômicos do
capital norte-americano em sintonia com oligarcas locais.
Por mais crítica que seja a opinião a respeito da complexa realidade da
Ucrânia, é impossível não caracterizar o ocorrido como golpe promovido
pelos EUA e União Europeia em território estrangeiro.
O mundo pode estar, assim, diante de graves tensões: depois do revés
imposto pela Rússia à pretensão dos EUA de guerra na Síria, a resposta
estadunidense na fronteira russa é uma afronta que poderá desencadear
dinâmicas preocupantes.
Na Venezuela bolivariana, a presença conspirativa dos EUA tem
antecedentes históricos. É uma questão de Estado e prioridade destacada
do Departamento de Estado e do Pentágono. Desde a primeira eleição de
Hugo Chávez, em 1998, os EUA buscam desestabilizar o país promovendo
golpes de Estado, conspirações, traições, infiltrações, sabotagem,
atentados, assassinatos de civis, etc.
Com a morte de Chávez, em março de 2013, a direita venezuelana partiu
para o tudo ou nada na eleição presidencial, mas foi derrotada por
Nicolás Maduro.
Seguindo a estratégia de desestabilização permanente do governo,
Henrique Capriles não aceitou o resultado; a despeito do testemunho de
centenas de personalidades e instituições observadoras internacionais –
dentre as quais o Centro Jimmy Carter – que comprovaram a lisura e a
vitalidade do processo eleitoral e da democracia venezuelana.
Aproveitando as fragilidades da economia, oligopólios passaram a
promover a guerra econômica e o desabastecimento de produtos de primeira
necessidade. Apostaram no caos social, no desgaste do governo, na
divisão do chavismo e das Forças Armadas e na vitória nas eleições
municipais de dezembro passado.
Novamente fracassaram. Então, se alçaram como kamikases à atual vaga
conspirativa. Dessa vez, sob a liderança ultradireitista de Leopoldo
López, um golpista conhecido pelo protagonismo no fracassado golpe de
abril de 2002. As técnicas terroristas empregadas são por demais
conhecidas: de assassinatos à quebradeira.
É incrível como a mídia monopólica, controlada desde Washington,
falsifica os fatos e produz uma narrativa esquizofrênica da realidade.
Os meios de comunicação de cada país, por sua vez, replicam
teologicamente as mesmas falácias e mantras, como se fossem verdades
inquestionáveis e definitivas.
A Venezuela e a Ucrânia são duas dimensões da mesma política externa dos
EUA. Cada um ocupa uma das pontas da “pinça” da política imperial no
atual período. Essa interconexão pode mudar a qualidade da política
intervencionista dos EUA na Venezuela e no conjunto do hemisfério
americano.
Essa conjuntura não permite ingenuidade. O mundo não tem garantias
contra as loucuras que o “senhor dos drones” poderá promover contra a
Venezuela, agora encorajado pela retribuição de solidariedade dos seus
vassalos europeus, agradecidos pela “ajuda” na Ucrânia.
Nunca antes nesse século as expressões imperialismo, totalitarismo
midiático, autoritarismo político e fascismo estiveram ameaçadoramente
presentes no nosso vocabulário como hoje.
*É integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto
Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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