Ucrânia: EUA toma a rampa de saída e aceita as exigências russas

[*] Moon of Alabama  
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
POSTADO POR CASTOR FILHO
Entreouvido no frege do Fala-Fino na Vila Vudu: Moon of Alabama distribui praticamente a mesma importante notícia que não se lê em NENHUM jornal brasileiro e que o Embaixador MK Bhadrakumar distribuiu (e já traduzimos), há pouco. Mas Moon, menos interessado em promover a ação diplomática, promove menos os embaixadores e o próprio governo Obama, que o embaixador Bhadrakumar. E vai, mais diretamente, ao ponto. Ótimo Moon of Alabama!Cheers!

Sergey Lavrov e John Kerry
Houve hoje outro telefonema entre o Secretário de Estado Kerry e o Ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia. O telefonema aconteceu depois de uma reunião estratégica sobre a Ucrânia na Casa Branca. Nesse telefonema, Kerry aceitou as demandas russas de que a Ucrânia seja convertida numa federação, na qual os estados federados tenham forte autonomia em relação ao governo central, numa Ucrânia finlandizada. Putin ofereceu essa rampa de saída da escalada, e Obama enveredou por ali.


Lavrov e Kerry concordam em trabalhar para uma reforma constitucional na Ucrânia: ministério da Rússia.

(Reuters) – O ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov e o secretário de Estado dos EUA John Kerry acertaram, nesse domingo, que buscarão juntos uma solução para a Ucrânia, promovendo ali reformas constitucionais, disse o ministério russo.

Não há ainda detalhes sobre o tipo de reformas necessária, exceto que devem ser feitas “de forma aceitável para todos e levando em conta os interesses de todas as regiões da Ucrânia”.
...

“Sergei Viktorovich Lavrov e John Kerry concordaram que continuarão a trabalhar para encontrar uma resolução final sobre a Ucrânia mediante o rápido lançamento de reformas constitucionais com o apoio da comunidade internacional” disse o Ministério, em declaração.

A ideia de “reforma constitucional” e “os interesses de todas as regiões” é dos russos, como documentada neste não-jornal russo.(ing.).

O não-jornal descreve o processo de como chegar a uma nova Constituição ucraniana e demarca alguns parâmetros. O russo voltará a ser língua co-oficial da Ucrânia; as regiões terão grande autonomia; não haverá interferência em assuntos religiosos; e a Ucrânia permanecerá politicamente e militarmente neutra. Será aceita qualquer decisão sobre autonomia que se decida na Crimeia. O acordo será garantido por um “Grupo de Apoio à Ucrânia”, constituído de EUA, União Europeia e Rússia, e será cimentado por uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Soldados ucranianos mantém “check-point”, na aldeia de Strilkove, Ucrânia, neste domingo, 16/3/2014. A Rússia elevou as apostas de sábado, quando as suas forças, apoiadas por helicópteros e veículos blindados, assumiram o controle da aldeia ucraniana de Strilkove e de uma planta de distribuição de gás natural nas proximidades. Foi o primeiro movimento militar russo na Ucrânia para além da península da Criméia. As forças russas retornaram à aldeia, mas mantiveram o controle da planta de gás. A relação entre as forças russas e ucranianas foi amigável (Foto: Sergei Grits)
Parece que Kerry e Obama aceitaram todos esses parâmetros. Agora, se tratará de vender essa solução como se fosse ideia deles, o que – como o não-jornal o comprova suficientemente – é inconsistente com a realidade.

Aqui aparece Kerry repentinamente “exigindo da Rússia” que aceite as condições que a Rússia propôs e que Kerry jamais antes havia mencionado:

O secretário de Estado John Kerry exigiu de Moscou que recolha às bases suas tropas na Crimeia, retire os soldados da fronteira da Ucrânia, pare de incitar o leste da Ucrânia e apoie as reformas políticas na Ucrânia que protegerão os russos étnicos, os falantes de russo e outros na ex-República Soviética com a qual a Rússia se diz preocupada.

Em telefonema ao Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, o segundo entre ambos depois do fracasso do encontro que tiveram na 6ª-feira (14/3/2014) [1] em Londres, Kerry exigiu que a Rússia “apoie os esforços dos ucranianos de todo o espectro para resolver a partilha de poder e a descentralização, mediante um processo de reformas constitucionais amplo e inclusivo, que proteja os direitos das minorias” – disse o Departamento de Estado.

Obama cedeu. Suas ameaças ocas não funcionaram e, agora, Obama está, em vasta medida, aceitando as condições que os russos propuseram para sair da crise.

O golpe que os EUA armaram para roubar a Ucrânia da Rússia e para integrá-la à OTAN e à União Europeia parece ter fracassado. A Rússia ficará com a Crimeia, agora com apoio de 93% da população ucraniana – o que torna impossível realizar o projeto dos EUA de espantar os russos para longe de Sebastopol e, portanto, também para longe do Oriente Médio. 

A ameaça dos russos (que não veio a público) de imediatamente invadir e anexar as províncias leste e sul da Ucrânia, empurrou os EUA a aceitar as condições russas mencionadas acima. A única alternativa, naquele caso, seria confronto militar que nem EUA nem os europeus querem arriscar. Apesar da campanha anti-russos na imprensa-empresa nos EUA, a maioria dos norte-americanos e dos europeus estão contra qualquer confrontação desse tipo. Como se vê agora, os EUA jamais tiveram as cartas que precisariam ter para vencer esse jogo.

Se tudo correr bem e uma nova Constituição ucraniana satisfizer as condições que os russos impuseram e obtiveram, o “ocidente” no futuro poderá ser autorizado a pagar mensalmente, à Gazprom, as contas que a empresa continuará a enviar para o endereço de Kiev.

Demorará algum tempo para implementar tudo isso. Que truques sujos os neoconservadores de Washington tentarão agora, para impedir esse desfecho pacífico?  
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Nota dos tradutores
[1] Como se lê em EUA e Rússia concordam em deixar rolar a bola na Ucrânia − 16/3/2014, MK BhadrakumarIndian Punchline − redecastorphoto, essa reunião não fracassou. Foi, de fato, muito bem sucedida e levou ao bom resultado que hoje se anuncia. Quem precisa do jornalismo de imprensa-empresa?!

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