Parlamentares árabes combatem reforma eleitoral racista em Israel

Os 11 parlamentares de representações não sionistas e árabes podem pedir demissão do Parlamento israelense (Knesset) na segunda-feira (10), quando deve ser aprovada a reforma eleitoral que aumentaria o número de votos necessários para integrar a próxima legislatura. A reforma, segundo Muhammad Barakei, líder da Frente Democrática pela Paz e a Igualdade (Hadash), pretende impedir os legisladores árabes de serem representados no Parlamento.
Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho


Arquivo histórico
David Ben Gurion inaugura o cargo de primeiro-ministro de Israel, em 1948, afirmando defender um "sionismo socialista". Ao fundo, a imagem do teórico do sionismo, ideologia racista enraizada na formação política israelense, Theodor Herzl. David Ben Gurion inaugura o cargo de primeiro-ministro de Israel, em 1948, afirmando defender um "sionismo socialista". Ao fundo, a imagem do teórico do sionismo, ideologia racista enraizada na formação política israelense, Theodor Herzl.

O partido socialista judeu e árabe de Barakei inclui quatro parlamentares nesta legislatura do Parlamento israelense. Entretanto, o líder disse que a reforma eleitoral dificultará ainda mais a representação árabe no Knesset e, por isso, a demissão dos legisladores servirá como um protesto, caso ela seja aprovada.

Em coletiva de imprensa, Barakei afirmou: “Não é um prazer falar no Parlamento sob o olhar de Herzl,” referindo-se ao teórico do sionismo, ideologia definida ampleamente como colonialista e racista, Theodor Herzl, com escritos que ganharam força entre os judeus ortodoxos e de direita e extrema-direita ainda no fim do século 19.

Apesar das diversas interpretações do sionismo, inclusive pelos que se apresentam como trabalhistas ou de esquerda e afirmam buscar uma solução justa do conflito com os palestinos, a ideologia, enraizada de forma profunda na política e na sociedade israelense, apresenta contornos definitivamente racistas, já que se assenta na distinção do povo judaico - e até na sua invenção enquanto grupo étnico, de acordo inclusive com especialistas israelenses e judeus ultra-ortodoxos - em seu "direito sagrado" a um lar judeu. Neste empenho, para muitos, a expulsão dos palestinos árabes é apenas uma consequência, ou uma necessidade.

Se a reforma eleitoral for aprovada na segunda, disse Barakei, citado pelo jornal israelense Jerusalem Post, “estamos considerando orientar todos os nossos membros do Parlamento a pedirem demissão em conjunto.” Caso a demissão ocorra, os substitutos incluiriam três mulheres, inclusive a judia Ye’ela Ra’anan, do partido de Barakei, e o ex-parlamentar Taleb al-Sanaa, da Lista Árabe Unificada, retornaria à legislatura.

A reforma prestes a ser aprovada no Knesset aumentaria de 2% para 3,25% a expressão eleitoral necessária para que os legisladores sejam representados no Parlamento. A decisão aumentaria o número mínimo de membros em uma facção, de dois para quatro, a partir da próxima eleição. As facções árabes têm atualmente três a quatro membros no Parlamento.

Expressões racistas no Parlamento

O presidente da Comissão parlamentar para Constituição, Lei e Justiça, Daivd Rotem, do partido de direita Yisrael Beiteinu (Israel é Nosso Lar) disse que a legislação não é desenhada para prejudicar os árabes, mas que não se opunha à sua demissão em massa. “Eles todos deveriam se demitir, não vou perder o sono por isso.”

Por outro lado, Ahmed Tibi, da Lista Árabe Unificada, sugeriu discordar da estratégia e preferir outras táticas. “Não vou colocar a minha cabeça em uma bandeja de prata para o [ministro das Relações Exteriores] Avigdor Lieberman”, também do Yisrael Beiteinu e que manifesta frequentemente a opinião racista de “transferência de população” como parte da solução do conflito entre israelenses e palestinos, para manter os judeus em vantagem demográfica.

      Foto: Emil Salman / Ha'aretz
   
      O parlamentar árabe-israelense Ahmed Tibi discute com Michael Ben Ari, da União Nacional, uma rede de
        extrema-direita ortodoxa de partidos representados no Parlamento de Israel, em 2012.


Tibi instou os parlamentares árabes a unirem-se em um só partido para concorrer nas próximas eleições, afirmando que a maioria dos eleitores árabes favorece a medida, considerada uma “forma apropriada” de responder à reforma eleitoral.

O ministro da Construção e Habitação, do partido ortodoxo e de extrema-direita Bayit Yehudi (Lar Judeu), Uri Ariel condenou os planos dos parlamentares árabes durante um debate intense sobre a jurisdição sobre parte da Cidade Antiga de Jerusalém, no contexto dos esforços pela anexação das porções e territórios palestinos já empreendidos desde a década de 1980 pelo parlamento.

Ariel disse a Barakei, durante a discussão, que a sua presença no Parlamento é “supérflua”, e que, “em outros lugares, você teria sido mandado ao inferno, mas aqui você é tratado de forma apologética. Os judeus são um povo apologético e de concessões.”

O debate político sobre a representação da população árabe-israelense é frequentemente conduzido em termos racistas, enquanto grupos da extrema-direita que compõem o governo externam cotidianamente sua oposição à inclusão social dos árabes em Israel.

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