O documentário sobre Vladimir Putin
seg, 03/03/2014 - 11:23
- Atualizado em 03/03/2014 - 11:31
Enviado por jns
O Solitário Líder Russo
Spiegel Online / Markus Brauck e Matthias Schepp / 24 de Fevereiro de 2012
O mundo está familiarizado com as
imagens másculas de Vladimir Putin caçando ursos, pescando baleias,
etc.. Com acesso sem precedentes ao líder russo, o documentarista alemão
Hubert Seipel encontrou um homem envelhecido, solitário e,
surpreendentemente, simpático.
O homem mais poderoso da Rússia com o seu cão, nas cenas do filme de Seipel.
Vladimir Putin, primeiro-ministro e
homem forte da Rússia, e Hubert Seipel, um documentarista alemão, não
estão conversando no momento.
Eles estabeleceram o primeiro contato
amistoso apenas para as câmeras em uma cena filmada no interior de uma
limusine do governo, em Moscou.
Putin está bem humorado e sorri muito,
mas, de repente o diálogo sofre uma pausa, deixando nada além de
silêncio contra o pano de fundo dos edifícios vislumbrados no
deslocamento pela capital russa.
Putin, apertando os lábios, olha para
fora da janela do carro com um olhar tenso. Seipel toca o queixo. Os
dois homens parecem desconfortáveis.
A cena dura poucos segundos e Seipel vai
usar estas imagens na versão estendida do seu filme. Mas isso mostra
perfeitamente como é difícil para esses dois homens - que não têm nada em comum além do filme -
falar de repente em termos relativamente íntimos. As tentativas de
Seipel de se aproximar de Putin, de alguma forma, estão se esgotando.
É a primeira de várias entrevistas
longas que Seipel realiza, com o homem mais poderoso da Rússia, para o
seu documentário "Ichii, Putin", que irá ao ar na rede de televisão
pública ARD da Alemanha, no dia 27 de fevereiro, às 22:45.
Eles realizam um difícil ato de
equilíbrio e tentam usar, em benefício próprio, a sensação de intimidade
criada pela entrevista, consicientes que cada um deles sabe que o outro
está fazendo o mesmo.
Um raro vislumbre nos bastidores
Vladimir Putin e o cineasta alemão Hubert Seipel.
O poderoso político russo nunca foi
objeto de um retrato tão íntimo e, certamente, não do ponto de vista de
um jornalista ocidental que pode editar as imagens como lhe aprouver.
Putin normalmente não permite que
jornalistas fiquem muito perto dele. Para ele, jornalistas são nada além
de agentes indiretos usados para elaborar as suas peças de propaganda,
em que ele é, muitas vezes, mostrado posando em carros de Fórmula 1 ou
em aviões de combate.
O pool de mídia do Kremlin, formado por
um grupo de mais de duas dezenas de jornalistas escolhidos a dedo,
acompanha Putin durante suas aparições públicas. Os jornalistas muitas
vezes passam horas jogando bilhar, na sua residência nos arredores de
Moscou, enquanto esperam para o cronicamente atrasado Putin. Alguns
deles ficaram, claramente, com ciúmes quando o primeiro-ministro decidiu
conceder acesso sem precedentes a Seipel, dando declarações em que nada
seria considerado fora dos limites, exceto referências a vida privada
de Putin.
O cineasta consegue estabelecer
intimidade considerável com o primeiro-ministro, que está com o objetivo
de, mais uma vez tornar-se presidente, sem se deixar influenciar por
ele. Ele também consegue romper a fachada com a qual Putin poderia ter
sido preparado para se apresentar. Putin interpreta o durão, enquanto
Seipel mostra que há uma certa fraqueza e tristeza ao ter que
desempenhar esse papel para sempre.
Imagem e Realidade
Putin é apresentado no documentário de Seipel como apreciador de esportes.
Seipel demorou dois anos e meio para se
preparar para produzir este documentário. Ele enviou pedidos à
assessoria de imprensa do Kremlin, e, ao mesmo tempo, usou uma conexão
privada de alguém da confiança de Putin. Por dois anos, nada aconteceu,
mas, em seguida, Putin convidou Seipel para uma visita.
Seipel, um cineasta político experiente,
fez dezenas de documentários sobre questões complexas, como a guerra do
Kosovo e o escândalo de corrupção na Volkswagen, descoberto em
2005. Ele ganhou a Adolf Grimme Award, um prestigiado prêmio da
televisão alemã.
Embora, inicialmente, não tenha levado
Seipel a sério, Putin gradualmente aceitou a ideia de realização do
filme. O documentário está distanciado das imagens oficiais que estamos
familiarizados. Em vez disso, ele oferece um olhar sobre os bastidores
do poder e aborda a questão sobre o que é ser, exatamente, Vladimir
Putin.
As cenas que Seipel compila oferecem uma
resposta clara: Putin é um solitário. Algumas cenas do filme mostram
Putin praticando hóquei no gelo sozinho à noite em uma arena vazia. Em
outra, está na piscina, na parte da manhã, acompanhado apenas do seu
labrador retriever preto Koni. Então, há Putin jogando hóquei no gelo
durante a noite, desta vez com uma equipe formada por seus guarda-costas
jogando contra os guarda-costas de Dmitry Medvedev. Durante uma pausa,
sem ninguém por perto, Putin é mostrado sentado, observando o jogo,
envelhecido e exausto. Por fim, Putin caminha para uma reunião de
gabinete, também sozinho. Na verdade, não importa onde ele esteja - na
remota Sibéria, em uma viril caçada com amigos, por exemplo - há sempre
algo de reserva e segurança em torno dele, deixando Putin sempre
sozinho.
O premiê tenta retratar a si mesmo,
ajustado aos 59 anos de idade, com vigor e virilidade, em oposição ao
seu antecessor, o flácido beberão Boris Yeltsin. Este é, afinal, o
propósito mais profundo de todas as imagens encenadas de Putin caçando
ou pescando que estamos tão familiarizados.
No filme de Seipel, ele já não surge tão
viril, mas, sim, desgastado e sem alegria. Seipel apresenta a imagem de
um homem tentando, teimosamente, contornar o declínio físico. Isto é
especialmente evidente quando o seu esforço encenado é um fracasso. Há,
por exemplo, a cena em que uma jovem mulher derruba Putin, durante uma
partida de judô em seu antigo clube, em São Petersburgo. Putin é
claramente incapaz de aceitar a derrota e, sentindo-se obrigado a
vingar-se, imediatamente, joga a oponente sobre o tapete.
Pegando pesado com a Mídia
Homenagens para a jornalista assassinada Anna Politkovskaya, mostram que reportagens críticas podem ser perigosas na Rússia.
Seipel diz que Putin "quer ser
compreendido, mas ele não consegue entender por que isso não
acontece." Com seu filme, Seipel está principalmente interessado na
psicologia de Putin. Há um momento, quando Putin é questionado por que
entrou para o judô na sua juventude, em que ele responde que "foi uma
ferramenta para fazer valer a minha posição na engernagem."
No filme de Seipel, Putin é um menino de
rua - inteligente e brutal, se necessário - que chegou ao topo e ainda
não se encaixa com a elite. Na noite de gala da rebertura do Teatro
Bolshoi, em Moscou, Medvedev é visto na área que era reservada aos
czares, muito acima dos habitantes ricos da capital russa, que ficam
sentados nos assentos nivelados abaixo da orquestra. E o que Putin está
fazendo? Ele está sozinho praticando na sua pista de gelo.
Putin geralmente não pensa muito
positivamente sobre jornalistas. "Ele tem uma queda por teorias da
conspiração e acredita que cada jornalista possa ser comprado", diz
Nikolai Svanidze, historiador e conhecido jornalista de TV
russo. Quando, há um mês, o primeiro-ministro convocou os editores mais
atuantes ao seu escritório, ele repreendeu Alexei Venediktov, o
editor-chefe do influente noticiário crítico da estação de rádio Eco de
Moscou, por "despejar merda sobre mim, desde a manhã até a noite." Na
terça, 14 de fevereiro, Venediktov foi deposto da administração da
estação de rádio em resposta à pressão do Kremlin.
Surpreendentemente simpático
O perigoso encanto do chefe do Kremlin.
Sabendo que ele não pode tratar um
repórter da televisão alemã da mesma maneira, Putin finge ter mente
aberta. Mas em algumas entrevistas com Seipel, ele parece claramente
irritado com as perguntas sem fim sobre as críticas do Ocidente à sua
política, dizendo secamente: "Nós já conversamos sobre isso."
Putin envolve o cineasta e, embora nunca
íntimo, indicou que gostava de Seipel, convidando-o, às vezes,
espontaneamente, para passar, sem as câmeras, várias horas com ele
durante o jantar. "Politicamente falando, ele está anos-luz distante de
mim", diz Seipel. "Ele também me levou a um templo para entender o que
faz gradualmente. Ainda assim, eu não posso dizer que eu não gostei dele
como ser humano."
Em uma ocasião, Putin fez uma parada do
comboio em algum lugar nos arredores de Moscou e acenou para Seipel e
seu cinegrafista para segui-lo. Ele disse que queria mostrar-lhes algo
especial e, ao longo de um caminho estreito, dirigiu-se para a sua
capela privada, onde contou sobre a sua fé e como sua mãe havia,
secretamente, feito o seu batismo. A tentação de se concentrar sobre
estas imagens, de um Putin muito particular, deve ter sido enorme, mas
Seipel sentiu que a cena era muito íntima e, simplesmente, deixou-a fora
do seu filme.
O Filme de Hubert Seipel
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