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Mujica: "Guantânamo é uma vergonha não só para os EUA"
Por Rafael Reis e Felipe Amorim, na Opera Mundi
Ao confirmar que o Uruguai abrigará cinco presos da base militar de
Guantânamo na qualidade de "refugiados", o presidente José Mujica disse
que a acolhida é uma "questão de direitos humanos". Após aceitar
colaborar com Barack Obama, o mandatário assegurou que a polêmica prisão
localizada dentro da ilha de Cuba "tem funcionado como uma verdadeira
vergonha para a humanidade e muito mais vergonhoso para um país como os
Estados Unidos".
"O Uruguai tem sido um país de refúgio. Para nós, é uma questão de
princípios", disse Mujica, que, em seus tempos de líder guerrilheiro
tupamaro, permaneceu preso pela ditadura uruguaia por 14 anos.
Embora tenha afirmado que não está colaborando por questões financeiras,
Mujica pediu como contrapartida que Washington liberte os três presos
cubanos que ainda estão sob custódia dos EUA, após terem sido presos, há
mais de dez anos, enquanto atuavam como espiões para identificar
organizações terroristas anticastristas na Flórida.
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“Não fazemos por dinheiro ou conveniência material, mas não temos
problema em dizer que pedimos, por favor, ao governo norte-americano que
faça o possível, porque esses três prisioneiros cubanos que há muitos
anos, muitos anos, estão ali, se busque a maneira de liberá-los. Porque
também isso é uma vergonha”.
"Se quiserem formar um lar e trabalhar, que fiquem no país", explicou,
durante seu programa semanal de rádio na emissora local M24 na última
quinta-feira (20). Segundo Mujica, os cinco presos transferidos teriam
que permanecer pelo menos dois anos dentro das fronteiras do país, mas
não como uma imposição: "Seria um gesto voluntário deles [presos] para
sair dessa situação de vergonha".
O ministro do Interior uruguaio, Eduardo Bonomi, afirmou hoje em uma entrevista para o diário La Republica que
o governo já verificou os antecedentes dos prisioneiros e foi
comprovado que “não existe risco ou perigo algum que habilite a
implementação de cuidados especiais”. Os prisioneiros seriam de
nacionalidade síria e paquistanesa. O ministro também asseverou que
Uruguai deverá proteger os futuros refugiados e dar as garantias
necessárias que estão previstas nos convênios internacionais.
Herança a Obama
Na entrevista, Mujica ainda defendeu o colega norte-americano, dizendo
que Obama herdou o problema de Guantânamo de administrações anteriores.
"Não se deve fazer novela, não há nenhum acordo. É um pedido por uma
questão de direitos humanos. Mais de cem pessoas que estão presas há 13
anos. Não viram um juiz, não viram um promotor, e o presidente dos
Estados Unidos quer tirar esse problema das costas. O Senado lhe exige
60 coisas, então pediu a um montão de países se podiam dar refúgio a
alguns e eu lhe disse que sim", explicou Mujica à imprensa.
Em comunicado, a embaixada dos Estados Unidos no Uruguai disse que ainda
não há acordo oficial com Montevidéu. Segundo o informe, a Casa Branca
segue "consultando vários países da região" para acelerar o fechamento
de Guantânamo. O Uruguai foi um dos primeiros procurados "devido a seu
papel de liderança do presidente Mujica".
O fechamento da base militar de Guantânamo foi uma das principais
bandeiras da corrida presidencial de 2008. Após ser eleito, reafirmou o
compromisso de encerrar a prisão. Em abril do ano passado, em meio a uma
greve de fome dos detentos — ainda há 155 pessoas sob custódia —, Obama
disse que Guantánamo "não é necessária para manter os EUA seguros. É
uma ferramenta de recrutamento para extremistas e precisa ser fechada".
Um mês depois, a Casa Branca suspendeu a moratória de alguns países para
transferir presos ao Iêmen e pediu ao Congresso que diminuísse as
restrições.
Reação no Uruguai
A oposição no Uruguai realizou pelas redes sociais várias críticas à
decisão do presidente Mujica. Em clima de campanha eleitoral — as
eleições gerais estão marcadas para o mês de outubro —, o pré-candidato e
senador pelo Partido Colorado, José Amorín Batlle, disse esperar que
“Obama e os cinco presos de Guantânamo não tapem a inflação, a
insegurança e a educação. Esses são os problemas reais do Uruguai”.
Já o pré-candidato e deputado pelo Partido Nacional Luis Lacalle Pou
anunciou que convocará o ministro de Relações Exteriores do país, Luis
Almagro, para que dê explicações sobre o tema na Comissão de Assuntos
Internacionais da Câmara dos Deputados.
Sobre as fortes críticas que recebeu da oposição em seu país, Mujica
respondeu que não se pode conceber que todos os dias se faça discursos
pelos direitos humanos e “quando é necessário desfazer uma problemática
dessa natureza fiquemos amarrados no juridiquês”. E reafirmou que “há
muito criticamos e seguiremos criticando o império yankee. Mas quando
existe um presidente que luta por terminar uma vergonha que é herdada,
uma vergonha não somente para seu país, mas para a humanidade, não se
deve dar as costas”, asseverou Mujica.
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