EUA versus União Europeia na disputa pela Ucrânia
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A Ucrânia é o meio do caminho do gás entre a Rússia e a União Europeia |
Ontem, pus
em dúvida a confiabilidade de um “vazamento” feito pelo governo Obama
para o New York Times. Escrevi que:
“Enquanto Merkel e outros políticos da União Europeia parecem querer acalmar a situação, a Casa Branca está sob pressão política doméstica para fazer mais de “alguma coisa”. Por isso, provavelmente, o New York Times publicou hoje, como se fosse um “vazamento”:
A chanceler
Angela Merkel da Alemanha disse por telefone ao presidente Obama no domingo
que, depois de falar com Putin, já duvida que ele mantenha contato com a
realidade – informaram fontes que receberam briefing do telefonema.
“Parece estar noutro planeta” – disse a chanceler alemã.
Angela Merkel |
Nada disso
faz sentido. Não soa como comentário de Merkel e, pior, soa absolutamente
estranho, como comentário dela. Duvido que ela tenha dito o que “fontes que
receberam briefing do telefonema” disseram ao NYT que ela teria
dito. Parece mais uma tentativa para desacreditar Merkel [aos olhos dos russos]
e dificultar ainda mais, para ela, encontrar alguma solução em acordo com os
russos e fora do controle dos EUA.”
Imediatamente,
o governo alemão, através do conservador Die Welt, que apoia Merkel,
desautorizou o NYT, negando a veracidade da citação publicada. Die
Welt escreveu [traduzido
al./ing./port]:
“A
chanceler não está contente com o relato publicado no New York Times. Em
nenhum momento e de nenhum modo Merkel disse ou teve intenção de dizer que
Putin estaria agindo de forma irracional. Na verdade, ela disse a Obama que
Putin tem perspectiva diferente [da de Obama] sobre a Crimeia”.
Não, não,
não sou apoiador nem defensor de Merkel. Mas, sim, há disputa, tanto entre EUA
e União Europeia, como entre “leste” e “oeste”, pela Ucrânia.
Sim, a
União Europeia ferrou a própria estratégia para a Ucrânia, ao dar um ultimato a
Yanukovich para que assinasse o acordo de associação à EU e, quando o ultimato
foi rejeitado, a União Europeia agiu para instigar os tumultos em Kiev.
Mas o que
os EUA estão fazendo é pior.
Os EUA
obraram para sabotar o acerto de 21/2, que três ministros da União Europeia
conseguiram negociar entre Yanukovich e sua oposição, e, na sequência, ordenaram
um assalto de milícias fascistas armadas (assista
vídeo no fim do parágrafo) contra o Parlamento ucraniano, para
impor ali, ilegalmente “eleito” um
novo “presidente” da Ucrânia. Agora, há seis membros do partido fascista, de
seguidores de Bandera, o Partido Svoboda, no governo ilegítimo da Ucrânia.
Alguns políticos
norte-americanos parecem querer
guerra
com a Rússia.
Mas os
europeus têm interesses muito diferentes.
Todos os
comentários favoráveis a Merkel, que aparecem publicados na sequência da
matéria sobre ela em Die Welt apoiam a posição dos russos nesse conflito
e rejeitam o governo dos fascistas na Ucrânia. E esse é jornal quase sempre
conservador e muito pró-EUA. O público alemão, apesar da campanha de propaganda
anti-Rússia, e como já se lê publicado no mais prestigioso veículo da
imprensa-empresa alemã, absolutamente não está do lado dos EUA e de seus
intervencionistas da OTAN.
Há uma
longa “tradição” de usar grupos fascistas nacionalistas contra a Rússia. A
Rússia perdeu mais de 20 milhões de vidas na luta contra o fascismo e, para os
russos, ver fascistas no governo de Kiev é ataque inadmissivelmente violento
contra sua própria identidade nacional. Os russos conhecem a própria história e
com certeza sabem quem está por trás daqueles fascistas de Kiev. ISSO, provavelmente,
foi o que Merkel disse a Obama, quando falou da perspectiva de Putin.
O ucraniano Stepan Bandera (centro da foto) foi Comandante do Exército nazista e responsável pela morte de inúmeros russos e ucranianos que lutaram contra o nazismo |
O partido
Svoboda e o Setor Direita (Pravy Sektor) na Ucrânia veem-se como continuação da
tradição de Stepan Bandera, galego, ultra-nacionalista, terrorista brutal,
fascista e, depois, agente que trabalhou para vários serviços secretos “ocidentais”.
Livro muito revelador, arquivado nos Arquivos Nacionais dos EUA sobre “Sombras
de Hitler – criminosos de guerra nazistas, inteligência dos EUA e a Guerra
Fria” [orig. Hitler’s Shadows
- Nazi War Criminals, U.S. Intelligence and the Cold War (pdf)] inclui um capítulo exclusivamente
dedicado a “Colaboradores: inteligência aliada e a OUN, Organização dos
Nacionalistas Ucranianos”. Copio aqui alguns excertos:
Reinhard Gehlen |
As
operações britânicas através de Bandera expandiram-se. Um resumo do MI6, do
início de 1954, registrava que “o aspecto operacional dessa colaboração [entre
os britânicos e Bandera] desenvolvia-se satisfatoriamente. Gradualmente
se obteve completo controle sobre operações de infiltração e, apesar de o
dividendo da inteligência ser baixo, foi considerado suficiente para que valesse
a pena prosseguir (...)”
...
Bandera
era, segundo os que tinham contato com ele, “profissional da clandestinidade,
com antecedentes de terrorista e noções implacáveis sobre as regras do jogo
(...). Uma espécie de bandido, se preferirem, de patriotismo ardente e
incendiário, o qual oferecia contexto ético e justificativa para seu
banditismo. Nem melhor nem pior que outros desse gênero.
...
Em abril de
1959, Bandera outra vez pediu apoio da inteligência da Alemanha Ocidental e,
dessa vez, Gehlen estava interessado. A CIA observou que “É visível que Bandera
está procurando apoio para operações ilegais dentro da Ucrânia”. Os alemães
ocidentais concordaram com apoiar pelo menos uma missão daquele tipo, baseados
no “fato de que Bandera e seu grupo já não eram os degoladores que haviam sido”
e porque Bandera “ofereceu provas de que seus contatos com agentes internos.”
Uma equipe treinada e paga pelos alemães ocidentais cruzara, saídos da
Tchecoslováquia, no final de julho; e os alemães prometeram apoio a Bandera
para futuras operações, se aquela primeira fosse pelo menos “moderadamente
satisfatória”.
...
Mykola Lebed |
Em junho de
1985, o General Accounting Office mencionou o nome de Lebed em relatório
público sobre nazistas e colaboradores que se instalaram nos EUA com a ajuda de
agências de inteligência dos EUA. O Gabinete de Investigações Especiais [orig. Office
of Special Investigations (OSI)] do Departamento de Justiça começou,
naquele ano, a investigar Lebed. A CIA temia que investigações públicas sobre
Lebed pudessem comprometer a operação QRPLUMB e que o fracasso na proteção de
Lebed desencadearia a ira da comunidade de emigrados ucranianos. Então, a CIA,
para encobrir Lebed, negou qualquer conexão entre ele e os nazistas e o
apresentou como combatente da liberdade da Ucrânia. A verdade, é claro, era
mais complicada. Ainda no final de 1991, a CIA tentou dissuadir o OSI de
aproximar-se dos governos alemão, polonês e soviético, em busca de relatórios
de guerra ou relacionados à guerra, que tivessem a ver com a Organização dos
Nacionalistas Ucranianos (OUN). O OSI acabou por abandonar o
caso, incapaz de encontrar documentos definitivos sobre Lebed.
Mykola
Lebed, comandante de Bandera na Ucrânia durante a guerra morreu em 1998. Está
enterrado em New Jersey, e seus papéis estão arquivados no Instituto Ucraniano
de Pesquisa, na Universidade de Harvard.”
Há pouca
dúvida de que os serviços secretos dos EUA e alguns políticos neoconservadores
norte-americanos estão ainda mexendo as cordas de movimentos
fascistas na Ucrânia. Quem,
senão eles, teriam treinado aqueles fascistas, em países vizinhos (como diz
Putin)? Agora, a russofobia desses mesmos personagens está ameaçando a paz na
Europa.
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