E que venha o PMDB
Em meio a mais uma crise de relacionamento com o partido aliado, governo tenta demonstrar força, avisa ter chegado ao limite e diz que não pretende curvar-se a novas pressões. Resta saber se os rebeldes do PMDB querem e podem inviabilizar a aliança
Claudio Dantas Sequeira
A primeira reação do governo às ameaças de rompimento feitas pelo PMDB se deu por meio de uma imagem. Na foto que ilustra esta página, a presidenta Dilma Rousseff e seu antecessor Lula entrelaçam as mãos numa demonstração total de simbiose entre os interesses do governo e a estratégia de campanha. Assim, duas mensagens foram enviadas. A primeira destina-se a setores do PT que ainda insistem na tese do “Volta, Lula”.
O ex-presidente deixou claro na reunião, convocada às pressas na quarta-feira de cinzas, que apoiará a reeleição de Dilma e todas as suas decisões. O segundo recado se dirige aos aliados do PMDB, que entraram em 2014 em situação de rebelião: seja na Esplanada, seja na negociação dos palanques estaduais que emperram a organização da campanha nacional. O governo acha que chegou ao seu limite e não pretende curvar-se a novas pressões em troca de apoio. Na cúpula do PMDB, a interpretação é a de que o governo petista sente que pode ganhar a eleição de outubro sem a ajuda de seu principal aliado.
A IMAGEM QUE VALE POR MIL PALAVRAS
Na quarta-feira 5, no Palácio da Alvorada, a presidenta Dilma Rousseff convidou
seus principais conselheiros, entre eles o ex-presidente Lula e o marqueteiro
João Santana, para debater os rumos de sua campanha à reeleição.
Em pauta, a crise com o PMDB de Eduardo Cunha (abaixo)
Para a foto, Dilma deixou a cabeceira da mesa e abrigou-se entre Franklin e Rui Falcão, procurando desfazer a impressão de qualquer mal-estar com ambos. Ao afagar o presidente do PT, ela legitimou suas críticas aos setores fisiológicos do PMDB comandados pelo líder na Câmara Eduardo Cunha (RJ). O deputado tornou-se o principal porta-voz das queixas da legenda, não só no âmbito da reforma ministerial como na montagem dos palanques estaduais. Na semana do Carnaval, ele atacou Rui Falcão e defendeu o fim da aliança. À ISTOÉ, Cunha reclamou mais uma vez da “falta de respeito” com que o governo trata seu principal aliado. “Respeito é tudo que não se tem nessa relação. Não podemos ser tratados como subalternos”, diz.
A relação estremeceu logo que o PMDB na Câmara foi avisado de que perderia espaço na reforma ministerial, no caso a pasta da Agricultura ou de Turismo. Como reação, Cunha convenceu a bancada a adotar posição independente nas próximas votações de interesse do governo e avisou que não indicará mais nenhum nome para qualquer órgão federal. Além disso, Cunha organizou a formação de um “blocão” com outros aliados também insatisfeitos com o PT. Ele promete carregar consigo o PSC e integrantes do PROS, do PP, PR, PDT e PTB.
DEMAIS PARA ELE
Dilma resistiu à indicação do senador Vital do Rego para o Ministério da Integração,
alegando que a pasta seria "grande demais para o Vitalzinho"
Até agora como “algodão entre cristais”, o vice-presidente da República, Michel Temer, confessou a um cacique do partido que não “aguenta mais” a falta de interlocução com o Planalto e se dispõe a entregar o cargo, se essa for a vontade da maioria. Para apressar uma decisão, a cúpula do partido pensa em convocar para abril uma pré-convenção que servirá para definir o rumo da legenda a partir de junho, quando ocorrem as convenções oficiais. Nas contas de Cunha, a tese do rompimento já tem mais de 50% dos votos da convenção.
Com reportagem de Josie Jerônimo e Izabelle Torres
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