"Ditadura selou aliança entre latifúndio e burguesia industrial", afirma professora
Segundo Larissa Mies Bombardi, professora de Geografia da USP, o período de 1964-85 serviu para concentrar ainda mais a estrutura fundiária brasileira.
A ditadura civil-militar foi responsável por cimentar relações que antes do golpe tinham de se ajustar uma a outra para poderem conviver. Em última medida, o período de 1964 até 1985 serviu para que interesses antes disputados por grupos de poder antagônicos tomassem corpo numa frente ampla: é o caso da aliança entre latifundiários e burguesia industrial na exploração da mão de obra no campo.
Conforme afirma Larissa Mies Bombardi, doutora pela USP em Geografia Humana e Agrária, esse pacto apoiou-se "a partir de incentivos fiscais que os grandes capitalistas obtiveram para ocupar produtivamente as terras da Amazônia. Isso determinou que capitalistas se tornassem também grandes latifundiários".
Conforme afirma Larissa Mies Bombardi, doutora pela USP em Geografia Humana e Agrária, esse pacto apoiou-se "a partir de incentivos fiscais que os grandes capitalistas obtiveram para ocupar produtivamente as terras da Amazônia. Isso determinou que capitalistas se tornassem também grandes latifundiários".
É justamente esse cenário que acelerou os processos de expulsão dos camponeses de maneira violenta. "Agora temos Bradesco, Shell e outras arrendando terras no campo brasileiro", completa Larissa.
Ainda de acordo com a professora, essa nova conformação da ditadura já era prenunciada no período que a antecedeu: em 1959, o então secretário da agricultura do Estado de São Paulo, Carvalho Pinto, mostra que a modernização e o desenvolvimentismo podem sim tomar para si a pasta da Reforma Agrária.
O referido ano sendo também o da Revolução Cubana, faz com que o desenvolvimentismo capitalista assuma certos problemas e tente dar a eles direções que lhe agradam. Em sua dissertação de mestrado, o livro publicado pela editora Annablume "O Bairro Reforma Agrária e o Processo de Territorialização Camponesa", a professora reproduz texto do secretário:
"Da experiência cubana, aproveite-se a sua lição histórica. Se os seus resultados não são encorajadores, é preciso que os latifundiários de outras regiões não permaneçam irredutíveis ao progresso, como seus colegas da ilha. Se permanecerem cegos à realidade dos tempos modernos, deixarão suas nações diante da trágica opção de terem de escolher entre sucumbir asfixiada pela estagnação ou morrer vitimadas pela revolução social."
O texto foi publicado em 1963, três anos depois de uma lei estadual de Revisão Agrária de 1960 que estabelece "normas de estímulo à exploração racional e econômica da propriedade rural". A prática da agricultura extensiva estava atravancando o desenvolvimento capitalista brasileiro; as terras improdutivas ou pouco produtivas do grande latifúndio foram aos trancos dando lugar à expansão do capitalismo de produção.
O caminho de reprodução do próprio capitalismo precisaria encontrar outra medida para se assegurar: "no processo de mundialização da economia brasileira, a estrutura fundiária, que historicamente sempre foi concentrada, passou a se concentrar ainda mais no período militar", afirma a professora.
Créditos da foto: Tatiana Félix - Adital
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